27/03/2013
Os Nossos Contos.... Quem és tu, Alice? Última Parte
“Milú, porque é que o meu pai não gosta de mim?” Se ela estivesse com pratos na mão não tinham sobrado senão cacos no chão. Ela olhou para mim esperando ver um adulto e não alguém como eu: pequena e frágil. O meu interior é de um adulto e exijo respostas de adulto. “Que história é essa Alice? É claro que o teu pai gosta de ti.” “Então porque é que durante estes anos todos ele me ignorou, fez de conta que eu era alguém que ele tinha de tomar conta e não alguém que ele queria tomar conta, porque é que nunca me deu um abraço? Eu também sinto falta da mamã e também não queria que ela tivesse morrido por minha causa.” “Alice...” Eu corro. Corro com as lágrimas a escorrerem pela cara abaixo, silenciosas mas cheias de dor. Corro pelas escadas acima e não penso duas vezes quando abro a porta do quarto do meu pai.
Entro mas não digo nada. Ele está deitado, tão calmo que me dá pena, mas uma vontade de lhe gritar aos ouvidos tudo o que ele nunca quis ouvir. O silêncio dá-me medo, o quarto está gelado e as mãos começam a doer-me. Tento falar mas só sai um vapor da minha boca. O meu pai tem os olhos fechados. E a minha raiva toda evapora-se. Não tenho coragem. “Gosto muito de ti pai, e sei que tu gostas de mim, não gostas? A mamã está lá em cima a olhar por nós os dois. Sai do quarto, olha para mim. Faço 10 dez anos hoje, sabes isso não sabes? Pai, diz qualquer coisa.”. E depois reparo que da boca dele não sai o mesmo vapor que da minha. Aliás, não sai nada. E depois reparo que há um envelope com o meu nome ao lado dele. E sei que voltei a perder. Sei que estou sozinha no mundo físico. Leio a carta e fico com a certeza de que eu nunca fui suficiente para curar a ferida no coração do meu pai. E fico ainda com outra certeza: de que agora ele vai ser feliz. Tenho o pai e a mamã, juntos novamente, a olharem por mim e lançando todas as maravilhas que uma Alice merece. E eu mereço-as, uma por uma.
Obrigada Andreia por teres partilhado esse lindo conto connosco!!
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