Continuando na onda dos pequenos contos, o Paulo Roderick disponibilizou-nos mais um dos da sua autoria..
"A mulher que não gostava de bacalhau"
Hilária Alameda, mulher simples do povo, ria a bandeiras despregadas onde quer que estivesse e com quem estivesse.
Tinha o gosto por revistas cor de rosa, cheias de fofocas sobre reis e rainhas de terras distantes e gostava de se vestir na moda que a sociedade ditava.
Loura por meios artificiais, baixinha e redonda vivia na sua imaginação aqueles tempos em que fora magra, bela e loura de nascença.
Mas Hilária tinha um grave problema. Gostava de comer bem e muito!
Lambia-se por tudo o que fizesse mal ao seu organismo! E depois chorava porque não conseguia emagrecer.
Certo dia Hilária saiu do emprego para ir almoçar. Foi com uma colega e amiga. Resolveram ir a um restaurante típico que existia na zona: Mal Hilária se apercebeu que um dos pratos era bacalhau, fez logo ali de imediato, a sua escolha na iguaria a degustar. Hilária era doente por bacalhau. Fosse de que maneira fosse. Pediram ambas um prato de bacalhau confeccionado à maneira da região! Foi falando e comendo, falando e bebendo, falando e comendo, e comendo, e comendo... Não sendo a colega de grande alimento, quando Hilária deu por si... tinha devorado o bacalhau quase sozinha!
Voltaram ao emprego e quando chegaram Hilária vinha muito vermelha, cheia de calores e já tinha desapertado a camisa de tal maneira que se tivesse pelos na barriga de certeza que os colegas veriam!
Sentindo-se mal, foi à casinha para se refrescar. Uma colega solícita foi com ela, mas Hilária de tão mal disposta não aguentou e largou tudo o que tinha comido em cima da colega.
Largou tanto, tanto, tanto que ficou novamente esbelta como quando era jovem!
Nem queria acreditar. Aquilo tinha algo de mágico. Ficara mais bela, mais linda do que fora. Maravilhosamente bela. Mas... Sempre há um mas... Cheirava a bacalhau... um fedor horrível!!!!
Mas Hilária não se importava. Queria ser a todo o custo uma beldade estonteante!
Partiu para o restaurante saindo a meio do trabalho, para falar com a dona do restaurante, Juliana Urticária!
A mulher, agoniada pelo cheiro que Hilária exalava, disse que achava aquilo estranhíssimo mas talvez tivesse sido do prato que lhe serviu porque tinha sido feito com um pequeno bacalhau que tinha sido comprado nas docas, tendo vindo directamente dos Mares do Norte.
Hilária ao ouvir isso partiu para as docas e conseguiu saber exactamente qual o barco que tinha vendido o peixe e qual o local onde foi pescado.
De imediato levantou todas as suas economias, comprou um pequeno barco e partiu em busca daquele alimento, louca de desejo de juventude!
Hilária nunca mais foi vista e a partir daí nasceu uma lenda entre os pescadores. Dizem que em noites de nevoeiro ou de tempestade nos mares do norte, conseguem ouvir gargalhadas de mulher e um cheiro a peixe nauseabundo no ar.
Contam que foi uma bela sereia que casou com o Rei Bacalhau, dos mares do norte, em troca da eterna juventude!
Mas nós sabemos que é Hilária rindo da sua boa sorte por ter ficado para sempre bela!
O pior era o cheiro a bacalhau!
E ainda hoje a colega tenta lavar o cheiro com que ficou após Hilária lhe ter vomitado em cima... e não consegue!
(Roderick tales / Contos de Roderick)
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