Como vos tinha dito no post sobre o autor do mês de Abril, vou colocar alguns dos textos da autoria de Carlos Rodrigues.
Esse é o primeiro:
Sabias que contigo sonhar é morrer por te amar?
Sabias que cada gota de água caída do céu é uma dor a suspirar?
Sabias que no recorte de luz que me salvaguarda da escuridão que sou, contigo não paro de sonhar?
Encontro-me aqui, sem ter medo de voltar ali. Àquele momento e espaço onde tudo se sucedeu e nada se esqueceu. Pedinte de alimento, carente de sentimento, quero voltar e tudo recordar, ponto por ponto, sílaba por sílaba, olhar por olhar.
A verdade a fazer-se realidade nos meus ouvidos. A realidade de perceber que continuaste a viver. Nos braços de outrem, és feliz como ninguém.
E eu aqui.
E eu sem conseguir esquecer. De ti. De nós.
Então a verdade tornou-se realidade entre quatro paredes e um tecto de gelo. Um suspiro e o calor do meu corpo irradiou do meu peito como uma névoa em que sempre te tinha envolvido. Todas as manhãs te contava menos um dia de ausência, todas as tardes me recordava da tua presença, todas as caras eram contigo parecença, todas as músicas me faziam pertença a melancolias e envolventes sinfonias, cada letra solta era semente das mil palavras que criei e amei por e para ti. Todas as manhãs te contava menos um dia de ausência, todas as noites me arrastava a passo de arrependimento para uma manta de retalhos que eram as sem fim partículas em que se estilhaçaram os meus sonhos. Uma a uma, de cada emergindo uma cor, a todas eu sentindo um sabor, cada momento de silêncio no meu quotidiano era desculpa para a nostalgia, reconforto que o tempo passava mas eu o acompanhava. Estranhava, nos meus jeitos de ser, trejeitos de viver, que o tempo avançava mas eu o acompanhava. Estranhava que tudo parecia encaixar. Assim nasceu o risco.
Um risco que eu sonhei, uma linha que ultrapassei, uma barreira que derrubei.
Um pacto havia sido selado e o fim anunciado. Todavia, crente, segui em frente motivado pelo futuro que haveria de ser uma continuação do passado, o presente era apenas um bater de asas que nos afastou, mas é mais o que nos unia do que o que nos separava, mais do que sonhámos, menos do esperávamos, as mesmas asas te regressariam a este casulo que era o nosso regaço, vale dos nossos corpos unidos em vivas danças nas paredes. Até que nessas paredes eu percebi, pela tua voz roufenha, que me rasgou o corpo e invadiu a sanidade em sombras de incertezas, que a vida é uma roda sempre a girar.
Tu disseste que me amavas; Depois partiste.
E eu fiquei. E eu adorei, eu suspirei, eu rodopiei, eu chorei, eu criei, eu procurei, eu alimentei, eu pesquisei, eu viajei, eu, eu, eu, eu…. Numa procura por aquilo que me acusa de estar incompleto, um sorriso sem brilho, um rosto sem esperança, numa procura por isso eu me perdi e eu, eu, eu..
Eu procuro o nós.
Mas nós sou eu e tu. Noutros braços, noutros rumos, noutros mundos. E a minha manta renova-se em mais partículas de delicadas esperanças e inconfessadas memórias.
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