No quotidiano, existe algo que nos incomoda, como um espinho no caule de uma flor, uma nuvem num céu azul, uma vulgar pedra no mais perfeito dos sapatos, enfim, uma questão que nos atormenta a consciência inoportunamente. Existe algo que nos espicaça a curiosidade, que nos impulsiona os passos, que nos abre os braços ou que, dirão outras perspectivas, nos atemoriza o pensamento e petrifica o corpo, como se a possibilidade de um cenário negativo nos fizesse esquecer o (e deixar de acreditar no) cenário positivo. Como duas metades de uma alma, positivo e negativo bailam de mãos dadas, ao som da ironia, que escutamos e interpretamos como as batidas do nosso coração. Existe, definitivamente, num mundo de riscos, perigos e incertezas, algo que nos incomoda, uma sombra distorcida.
O que está para além da esquina. Para além daquela dobra do prédio, daquela rectilínea forma que nos impede, sistematicamente, de afigurar o que nos espera do outro lado. Para além daquele passeio, daquela língua de asfalto, algo ou alguém nos espera. Uma pessoa, uma aventura, uma curva na vida, uma solarenga planície para descansar o corpo e reconfortar a alma, ou uma vasta e sombria encruzilhada que nos vai extenuar os sentidos, purificar os sentimentos e renovar as crenças. Lutar, para depois se conquistar e amar. Amar, para depois se lutar e conquistar. Existe algo que nos incomoda e é, precisamente, saber o que esta para além da esquina, perceber o que ainda nem conseguimos ver.
Agora, perante e nesse instante, urge uma necessidade de resposta, como se todos os momentos da nossa vida, como se todos os ensinamentos da nossa mente, como se todos os batimentos do coração se reduzissem, naquele ínfimo fio de cabelo de tempo, a uma crucial questão: o que nos espera para além da inexpugnável rectilínea divisão entre o agora e o futuro? Quem nos espera? Surpresa ou tormento, amigo ou inimigo?
Ou, dirão outras perspectivas, por quem somos esperados? Que aventuras aguardam a presença do protagonista?
Nenhum manual guarda a resposta. Nenhuma sabedoria surgirá inesperada na nossa mente e guiará a nossa acção, isso é uma certeza que nos acompanha. Talvez apenas o resquício de uma imagem, uma analogia, que a nossa vida é como uma caminha numa infinita estrada, prenhe de obstáculos, laços, momentos e sentimentos. Por isso, seguir em frente. O sol em baixo, as sombras misturadas nas fachadas da humanidade, e uma inspiração que nos toca na alma. Dobramos a esquina, é mais a coragem que move a alma do que a força que orienta o corpo.
A Humanidade, se pudesse reunir-se em torno de uma só palavra, se se pudesse congregar e expressar a um só tom, por um breve conjunto de letras que a todos faria sentido, talvez surgisse naquele fio de cabelo a recordar-nos do que nos move. Talvez nos despertasse o corpo com algum som que ficou perdido na Natureza, talvez nos tocasse o rosto com as mil maravilhas que compõem a sua estrutura, talvez nos maravilhasse o olhar com as memórias das suas caminhadas. Mas a Humanidade não é una, é um misto, um complexo de almas, corpos e ideias, de desejos e compreensões, de estudos e emoções, de partilhas e conquistas, de travessuras e carícias, de frieza e cumplicidade, uma dualidade terrível, uma dualidade inata e incompreensível. Uma pergunta, um enigma, uma aventura que fascina todos em nosso redor e nos desafia a dar aquele passo em frente, aquele gesto de desbravar o que está para além da esquina. Seguimos em frente, porque a Humanidade somos todos nós e, num mesmo tempo, ninguém em particular. Todos. Eu e todos.
A Humanidade é uma dualidade entre sonhos e acções. Entre desejos e emoções. Uma dialéctica entre o que queremos e o que verdadeiramente precisamos. Na sua forma corporal, na sua essência espiritual, é, tão somente mas infinitamente, uma palavra, uma expressão, um voto de confiança naquilo ou naqueles que estão para além da rectilínea divisão.
A Humanidade é esperança.
E ter esperança é acreditar. Acreditar nas nossas escolhas, nas nossas crenças, nas nossas seguranças e inseguranças, nas nossas memórias e nos nossos sonhos. Por isso, o acto de dobrar a esquina, seguir em frente, rumo a algo que ainda estamos a perceber enquanto a estrada nos vemos a percorrer, se consubstancia nesse simples momento que é acreditar. Depois do acreditar, da esperança que nos energiza, surgirá o que está para além da esquina. A incerteza tornar-se-á numa presença e a esperança no nosso melhor guia.
Seja feliz. Acredite na felicidade.
Olá,
ResponderEliminarVim aqui te avisar q infiquei seu blog para receber uma tag, espero q goste! :D E não posso deixar de comentar, o seu blog é lindo!!! Parabéns!
http://amandatrindadepalavrasaovento.blogspot.com.br/