28/02/2018

Opinião | O Casal do Lado | Shari Lapena

Cynthia disse a Anne que não levasse a filha Cora, a bebé de seis meses, para sua casa na noite do jantar para que ela e o marido Marco tinham sido convidados. Não era nada de pessoal. Ela simplesmente não suportava o choro de crianças. Marco não se opõe. Afinal, eles vivem no apartamento do lado. Têm consigo o intercomunicador e irão alternadamente, de meia em meia hora, ver como está a filha. 
Cora dormia da última vez que Anne a tinha ido ver. Mas, ao subir as escadas da casa em silêncio, ela depara-se com a imagem que sempre a aterrorizou. a menina desapareceu. Anne nunca tivera de chamar a polícia, antes disso. Mas agora eles estão lá, e quem sabe o que irão descobrir... do que seremos capazes, quando levados além dos nossos limites?

(Pode conter spoilers...ou não)
Estava muito curiosa com este livro. Quer dizer, toda a gente falava dele e sempre muito bem. É óbvio que a minha curiosidade ia ficar em modo on, por isso, assim que consegui deitei-lhe as mãos e as minhas atenções. 
À semelhança de livros anteriores, este foi lido em menos tempo do que estava a contar e isso porque a autora adopta um tipo de escrita que não nos dá grandes motivos de querer fazer algumas pausas, e isso é meio caminho andado para uma leitura rápida e prazerosa.
Seria de esperar que um jantar entre amigos e vizinhos não resultasse numa tragédia, mas foi o que aconteceu. Anne e Marco haviam sido convidados para um jantar na casa de Cynthia e do marido, que fica a apenas meia dúzia de passos da sua própria casa. No entanto, a miúda que costumava tomar conta da pequena Cora de seis meses, não consegue aparecer e, numa solução de última hora, Marco e uma relutante Anne resolvem ir ao jantar na mesma deixando Cora a dormir no berço. Iam convictos de que tudo se resolveria se levassem o intercomunicador e fossem vê-la de meia em meia hora. (P.S. - Já saber que eles não levavam a pequena Cora porque Cynthia não gostava de crianças fez-me torcer o nariz para esta personagem, e não estava enganada em relação a ela.)
As coisas mudam completamente de figura quando Anne vai, depois de muitas outras vezes, ver como está Cora e apercebe-se que ela não está no berço. Tendo em conta que a menina tinha apenas 6 meses não seria possível que ela tivesse saído sozinha pelo que a hipótese era apenas uma: A pequena e adorável Cora tinha sido raptada desde a última vez que Marco a tinha ido ver.
Não quero nem imaginar se fosse comigo. Mas, também não posso sentir qualquer tipo de pena porque, apesar das casas serem muito perto uma da outra, não acho certo terem deixado uma criança tão pequena em casa. A modos que eles colocaram-se a jeito para que algo assim pudesse acontecer. 
De imediato chamam a polícia e, todos juntos, começam a busca pela pequena Cora. É justamente a investigação que nos vai fornecer todos os aspectos mais escondidos e sombrios de cada uma das personagens envolvidas. Ninguém será poupado e um por um, vão sendo, lentamente, descobertos e decifrados.
Comecemos por Marco. Um homem que se considera bem casado e afortunado por ter conseguido casar com Anne. Contudo, mostra-se um homem de carácter fraco que se deixa levar pelos maus conselhos de alguém que mal conhece e que mais cedo ou mais tarde se deixa enlevar por Cynthia. É que, sejamos sinceros, Anne depois de ser mãe já não é aquela pessoa divertida e descontraída que era antes e Cynthia é a reencarnação do pecado que mora mesmo ali ao lado.
Anne, acaba por ser um peão nesta história toda e a pessoa que mais sofre com tudo. Sofre com as alterações na sua vida depois de ser mãe, sofre com a perda da filha, sofre com o facto de Marco já não ser para ela como antes. Carrega o peso do mundo nos ombros e raramente é compreendida. É tida como uma mulher a quem a vida sempre deu tudo porque os pais são ricos e nunca lhe faltou nada.
Os pais de Anne. Amorosos para ela, mas detestáveis para ele, pelo menos no que se refere ao padrasto. Este nunca escondeu que nunca gostou de Marco. Aliás, sempre fez questão de que Marco se sentisse menos que Anne e que nunca estaria à altura da família dela. A posição de Marco na empresa que ele tinha criado encontra-se em risco por causa de uma iminente falência e apesar de ter tido coragem de ir pedir ajuda ao sogro, mais uma vez leva em cheio com uma valente recusa. É assim que o padrasto de Anne mostra que detém o poder e que, a qualquer altura pode acabar com aquele casamento. A mãe de Anne, gentil e atenciosa, acaba por ser mais uma personagem de pouca importância que apenas sabe e consegue dar apoio (e dinheiro) à filha e ao genro. 
Cynthia e o marido.. bem... que belo par de jarras. Ela é uma mulher atraente e sedutora, a meu ver sem qualquer escrúpulo ao que quer que seja. É liberal com o marido e, a par dele, formam um casal um bocado estranho, uma vez que ele é mais calmo e taciturno do que ela. Pessoalmente? Detestei estes dois... desde o início. Sempre me pareceram falsos. 
Como disse antes, este livro tem uma escrita leve e ligeira que nos permite uma leitura viciante e sem necessidade de grandes pausas. 
Tenho de ser sincera e dizer que o final foi surpreendente, e que não estava mesmo nada à espera de um desfecho como o que este livro nos apresenta. No entanto, tendo em conta tudo o que descobrimos sobre as personagens, o final encaixa como uma luva e não nos deixa aquele sentimento de que alguma coisa ficou por descobrir. Não ficaram pontas soltas nem ficou muito mais por dizer.
Recomendo!

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