09/03/2017

Opinião | Equação de Um Amor | Simona Sparaco

As luzes de Singapura reflectem-se na grande vidraça da sala, enquanto Lea se perde em pensamentos. Na sua mente, a decisão de sair de Roma e casar com Vittorio, um advogado de sucesso, confiante e ambicioso, foi a mais acertada, mas no coração as dúvidas persistem e o amor tem outro nome: Giacomo. Um rapaz brilhante, um amante apaixonado, mas um cobarde que lhe ensombra o passado. Lea sabe que deve manter-se afastada. Giacomo é perigoso, mas em parte reside aí o seu fascínio. E quando Lea se vê forçada a voltar para Roma, o passado regressa em força. De acordo com os princípios da Física, que Giacomo lhe ensinou, nada pode separar duas partículas quânticas, uma vez que se tenham entrelaçado.
No entanto, o caminho que seguem pode ser imprevisível.
(Pode Conter Spoilers)
Este é daqueles livros que à primeira vista pensamos que será de leitura rápida, mas não é bem o que sucede. É uma história que tem de ser lida com atenção, até porque a descrição dos espaços exóticos como os que existem em Singapura assim o exige. 
Esta história é a prova de que quando o amor existe e é verdadeiro, ainda que complicado e muitas vezes opressivo, irá sempre unir dois corações que foram feitos para serem um só. Não importa os anos que passem, os desgostos, as mágoas infligidas, tudo se resume a um coração somado a outro.
Este livro, para além do título que me chamou a atenção de imediato, contém uma espécie de explicação para nos darmos conta de que apesar do amor ser algo que nos pode acontecer mesmo ao virar da esquina, também pode ser explicado através de uma simples equação. Da soma de duas partículas. Qualquer que seja o passo que dermos em frente, aquilo que estiver destinado a acontecer, acontecerá seja em que situação for, seja em que altura for.
Tenho de admitir que até mais de metade do livro não me identifiquei, de todo, como a personagem principal, Lea. Apesar de ser alguém que tem os seus planos traçados, uma vida em conjunto com um homem que a adora e que a respeita, Lea sempre, desde muito jovem, cai no erro de se envolver com uma pessoa como Giacomo. Um homem que não é capaz de lhe dizer que a ama, que ela é importante para ele e que é ela a pessoa que o faz querer ser alguém melhor. Ao longo do livro, salvo raras excepções em que Lea estava mentalmente serena e em comunhão com o marido, damos conta de uma Lea com assuntos por resolver, uma Lea insegura, atraída pela adrenalina de estar com alguém que a faz vibrar, mas que no final só a faz sofrer de uma forma quase doentia. 
Lea conheceu Giacomo na sua adolescência e, apesar de ele não ser o típico jovem atraente capaz de fazer o coração das raparigas bater mais forte, Giacomo consegue captar a mente e o coração de Lea. 
Lea é uma das partículas da equação e Giacomo é a outra. Duas partículas destinadas a serem unidas, mas que estiveram sempre separadas.
Vittorio, o marido de Lea, o porto seguro que a aguentava segura numa vida estável, apesar de ser uma personagem secundária, sempre foi aquele que mais gostei. Um homem esperto, estável, seguro de si e que adorava Lea acima de tudo. Foi aquele que a colocou na linha certa da vida e que a tirou do torpor em que Giacomo sempre a deixava. Também foi aquele que mais perdeu, no meu entender.
Gostei imenso de como a autora nos descreve este amor/ódio que nasceu entre Lea e Giacomo. Transmite-nos as emoções de Lea de uma forma que muitas vezes me fazia querer entrar no livro e sacudir Lea até ela cair em si e ver que Giacomo era alguém nocivo e perturbado. Não quero dizer com isso que Giacomo seja uma má pessoa. Apenas senti que ele é o tipo de homem que, se não estiver bem com o mundo, nunca será um homem capaz de amar alguém acima de tudo. Tal como Vittorio, também ele é um homem intenso e muito inteligente. Só que é tudo menos instável e seguro. É enervante a forma como ele usa o sexo para manusear Lea a seu bel-prazer. Não sei, sinceramente se o mal seria dele ou se o mal residia todo em Lea, porque afinal de contas era sempre ela que ia ao encontro dele e se deixava enlevar e atrair por ele, fosse em que circunstância fosse.
Engraçado que apesar de ser triste e frustrante, o que mais gostei foi mesmo do final surpreendente que teve. Os últimos capítulos são viciantes e agradou-me saber que, de alguma forma, Lea e Giacomo conseguiram uma espécie de recomeço. Apenas um momento para começar tudo do início.
(Este exemplar foi gentilmente cedido pela Editorial Presença em troca de uma opinião sincera)

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