17/03/2017

Opinião | Conta-me Três Coisas | Julie Buxbaum

E se a pessoa de que mais precisas for alguém que não conheces?
Passaram apenas dois anos desde a morte da sua mãe e o seu pai volta a casar-se com uma mulher que conheceu online. Jessie é então forçada a mudar-se para a outra ponta do país, para morar com a madrasta e o seu pretensioso filho adolescente, aparentemente passado da cabeça.
Para Jessie tudo parece errado: sente-se uma estranha naquela casa enorme e fria, tem saudades da sua melhor (e única) amiga. A escola é uma selva autêntica, onde é vítima de bullying. Mas é então que recebe um e-mail de alguém que não conhece, nem se quer deixar conhecer, disponibilizando-lhe apenas a sua amizade virtual.
O que Jessie não espera é que será este e-mail a mudar a sua vida para sempre.
Esta é uma história memorável, que não deixa ninguém indiferente. Um misto de comédia e tragédia, amor e perda, dor e alegria.

(Pode Conter Spoilers)

Este é o tipo de livro e de história que quando começamos não sabemos bem o que vai acontecer e quando se aproxima o final começamos a ficar tristes. Não vos acontece isso? Estarem a gostar tanto de um livro que a vontade de o acabar rivaliza com a tristeza do livro chegar ao fim e deixarem de ter mais qualquer "contacto" com as personagens? A mim acontece... bastantes vezes, aliás. Este foi mais um. Queria muito chegar ao final e ter a certeza de que tinha acertado na pessoa misteriosa, mas quando o final chegou, fiquei mesmo triste... nem sabia o que ler a seguir que me fizesse esquecer aquele apertozinho da despedida de mais um par de personagens.
Acho que a autora esteve soberba neste livro. A escrita é simples e fluída pelo que num momento estamos num capítulo e no outro, sem dar por isso, já estamos dez capítulos à frente. 
A meu ver, Julie Buxbaum conseguiu retratar e passar bem a imagem de uma jovem que em vez de estar a divertir-se e a ter os problemas normais da idade, está a passar pela dor da perda da pessoa mais importante da vida dela. A mãe. 
Adorei a forma como Jessie sempre dizia que gostava da mãe não por ela ser a mãe dela e o gostar estivesse inerente ao grau de parentesco, mas porque gostava mesmo dela como pessoa e como amiga. Aquela pessoa que a completava enquanto ser humano. Acreditem que é muito complicado perder alguém que tem esse lugar na nossa vida. Eu sei, pois aconteceu-me o mesmo embora em idade diferente. 
Ora, como seria de esperar Jessie apenas queria poder fazer o seu luto e passar pela sua dor, durasse o tempo que durasse, na sua casa, com os seus amigos de sempre, na sua escola de sempre. Mas não foi isso que aconteceu. O pai de Jessie, algum tempo depois (e acredito que também a pensar na dor da filha), casa-se novamente e, consequentemente, muda de casa e de cidade, levando Jessie para um lugar completamente estranho e assustador para ela, separando-a de tudo o que a mantinha, pelo menos, estável.
Alguém Ninguém é a personagem que, através de um email, vai fazer com que Jessie ultrapasse tudo o que está a passar na escola. Vai ajudá-la a ser mais forte, a fazer as amizades certas e a tomar as decisões acertadas, tudo isso através de emails e mensagens por chat, nunca revelando a sua identidade. Era mais que certo que, tendo a atenção de alguém que não queria identificar-se ia criar aquele sentimento de aventura, expectativa e, até, de romance. Sendo alguém que convivia com ela diariamente, embora ela não soubesse quem era, a vontade de tentar adivinhar quem seria tornou-se cada vez maior e uma necessidade. 
Desde o início sempre tive uma desconfiança de quem seria e, quando me dei conta de que tinha acertado, fiquei mesmo feliz pela Jessie, pois ela era uma miúda que precisava de alguém assim. Alguém que a protegesse, que estivesse sempre presente para ela e que a ajudasse a ultrapassar tanto a dor pela morte da mãe, como na adaptação a uma nova vida, novas pessoas, novas amizades e novas regras.
Tenho pena que este seja o tipo de livro que não tem um segundo livro, pois adoraria saber o que anda Jessie e o seu Alguém Ninguém a fazer e como estão todas as personagens, inclusive o pai dela e o irmão "adoptivo" que veio  a revelar-se um bom amigo e, também ele, alguém que a ajudaria a ultrapassar os maus momentos, tanto em casa como na escola.
(Este exemplar foi gentilmente cedido pela TopSeller em troca de uma opinião sincera)

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