06/10/2022

Opinião | Punk 57 | Penelope Douglas | Quinta Essência

Durante anos, Misha Lare e Ryen Trevarrow escreveram cartas um ao outro. Tudo graças a um engano dos seus professores da escola primária, que pensaram que eram do mesmo sexo e os designaram como amigos por correspondência.

Não pararam de escrever desde então. Só têm três regras: nada de redes sociais, números de telefone, ou fotografias.
Mas Misha não escreve há três meses. Algo está errado. Será que ele morreu? Foi detido? Conhecendo Misha, nenhuma das duas hipóteses é de descartar.

Sem ele por perto, Ryen está a enlouquecer.
Ele pode ter desaparecido para sempre.
Ou pode estar à sua frente, e ela nem sequer saberia.
Tinham uma coisa boa. Porquê arruiná-la?

    Este foi um daqueles livros que me chamaram a atenção pela sinopse e não pela capa. Aliás, a capa foi a razão pela qual não o comprei mais cedo. Achei-a demasiado "teenager". Mas, quem vê caras, não vê corações. Depois de ler a sinopse com a devida atenção, acabei por perceber que, talvez, valesse a pena comprar e ler. Também foi um dos poucos livros que comprei e comecei a ler assim que o recebi. Coisa que, geralmente não acontece.
    Esta é a história de Misha e Ryen. Duas crianças que se conhecem à distância, numa espécie de palpen, amigos à distância que trocam cartas entre si. Contudo, o que era para ser apenas uma experiência escolar, tornou-se algo obrigatório tanto para Misha como para Ryen. Não era suposto eles serem emparelhados para esta experiência, no entanto, como ambos tinham nomes de rapaz, assim aconteceu. Foi exactamente isso que me atraiu. A troca de cartas, o facto de se conhecerem tão bem um ao outro sem nunca sequer se terem visto, apesar de até morarem perto um do outro. Muitos anos passaram e, agora ambos no secundário e mais crescidos, continuam a trocar cartas cumprindo sempre as regras estabelecidas pelos dois. Nada de procurar um pelo outro nas redes sociais, nada de telemóveis e nada de fotografias. Estavam ambos apaixonados um pelo outro e nem sequer sabiam como o outro era fisicamente. Sinceramente, não sei se consegui resistir à curiosidade. Ora, quando por um acaso do destino os dois se encontram, sem um saber que era o outro, algo trágico acontece e Misha pára de escrever. A vida de Ryen acaba por ser extremamente abalada por isso e entra numa espirar destrutiva. Nem ela, nem ele estavam nas suas melhores fases da vida.
    Coisas que gostei bastante: 
    O facto de terem conseguido manter o mistério e terem respeitado, durante tantos anos, o compromisso que haviam feito um com o outro. A forma como eles se conhecessem a primeira vez e há aquele clique mesmo não sabendo quem era um e quem era o outro. Achei fofo. 
    Gostei de como a autora introduz vários temas sociais que hoje em dia são problemas graves. Temas como bullying, distúrbios alimentares, uso e abuso de medicação, assédio sexual, etc. Por ser um livro tão complexo (parecendo que não), não há como não admitir isso, também temos a importância de amizades verdadeiras que servem de apoio quando mais se precisa, a paixão que ajuda qualquer um a ter mais amor próprio, esperança no futuro e a forma como o base familiar que apoia e ajuda a ultrapassar qualquer coisa que aconteça, boa ou má, pode fazer toda a diferença na vida de um jovem ainda em formação. 
    Algumas coisas que não gostei: Queria ter tido mais acesso às cartas que eles trocavam. Sendo uma adepta de livros com cartas, acho que fez falta termos mais cartas tornadas públicas ao leitor. De qualquer modo, pelas cartas que tivemos acesso, conseguimos ter ideia do quanto eles foram evoluindo e crescendo ao longo dos anos. 
    Não gostei da Ryen ser tão fraca psicologicamente. Era uma coisa quando estava sozinha e, na escola e com os supostos amigos, era uma pessoa completamente diferente, Era fútil, frívola, arrogante e convencida. Tanto era alvo de bullying, como ela próprio o infligia a outros. Claro que se fosse de outra forma, o livro não teria sequer existido, mas acho que a autora poderia ter dado a volta a isso e ficava bom na mesma. 
    Quanto ao Misha, não gostei da forma como ele lidou com o seu luto, afastando toda a gente à sua volta e fazendo-o ser alguém que ele não era, de todo. Misha era um jovem inteligente, sensível e atento a todos à sua volta. No entanto, depois da tragédia que abalou o seu mundo, carrega nos ombros a culpa de ter perdido alguém que era tão importante na vida dele e torna-se amargo, descrente e algo cínico também. Tinha um objectivo e ia passar por cima fosse de quem fosse para conseguir. 

            Fazendo um apanhado geral da leitura, tenho de dizer que foi como que uma viagem com muitos altos e baixos. Muitas fases boas e outras que nem por isso. Muitas emoções à mistura, temas importantes visados, erotismo quanto baste (embora em algumas partes tenha achado demasiado) e, devido ao tipo de escrita da autora, foi uma leitura rápida e fluída. Não posso dizer que tenha tido dificuldades em avançar em alguma parte do livro. Como se costuma dizer, foi sempre a abrir. 

        Recomendo. Contudo, não acho que tenha merecido tanto hype e tanto "falatório".

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