04/10/2022

Opinião | Esses Prazeres Violentos | Chloe Gong | Quinta Essência

Em Xangai, um monstro desperta...
Corre o ano de 1926 e Juliette Cai regressa à cidade onde havia deixado o coração. Voltou para se assumir como herdeira do Gangue Escarlate, um dos dois gangues que controlam Xangai.
Os seus rivais são os implacáveis Flores Brancas, que lutam contra os Escarlate há gerações. Por detrás de cada movimento está o seu herdeiro, Roma Montagov, o primeiro amor de Juliette... e a primeira traição.
Mas a cidade que Juliette encontra não é a mesma que deixou. Xangai está rendida à devassidão, aos interesses ilícitos e à violência. Nunca antes o poder dos gangues foi tão ameaçado.
E quando gângsteres dos dois lados começam a exibir comportamentos inexplicáveis, não há como parar os rumores – de um contágio, de uma loucura. Um monstro nas sombras. À medida que as mortes se acumulam, Juliette e Roma têm de colocar as suas armas – e ressentimentos – de lado e trabalhar em conjunto, pois se não conseguirem deter o caos, não restará cidade para qualquer um deles governar.
Os amantes condenados terão de enfrentar a explosiva rivalidade entre as suas famílias e a fatal ameaça que espreita nas sombras, nesta versão irresistível do clássico Romeu e Julieta.

    Este livro foi um dos raros casos em que fui com as expectivas lá no alto. No entanto, acho que ficou um pouquinho aquém, pelo menos para mim.
    Uma história que tinha tudo para ser fantástica e que se perdeu algures pelo caminho, com tanta política e tanta intriga. 
    Tendo como base a história trágica de Romeu e Julieta, a autora remete-nos para a China, numa Xanghai dos anos 20, repensada e trabalhada de forma a que tanto o crime como o romance estivessem interligados. Sendo que o crime ficava a cargo tanto da familia de Julliete e Roma e o romance, embora enterrado e muito ténue, ficasse a cargo dos mesmos Juliette e Roma. O par "romântico" deste livro.
    Vamos por pontos. Que dizer das personagens principais? Se há aqui alguém que é o foco da história, esse alguém é Juliette. Não posso dizer que gostei dela. Uma jovem arrogante, convencida de que é invencivel e que nada de mal lhe pode acontecer. Nem aos seus. Embora seja uma mulher extremamente forte e segura, é também impulsiva e petulante. um tanto ou quanto narcisista e individualista. Não confia em ninguém para seja o que for a não ser nas primas e mesmo assim, não gosta muito de lhes delegar seja o que for de mais complicado. Ela é a típica anti-heroína que, apenas nos consegue cativar quando começa a admitir os sentimentos que lhe vão no coração e deixa de achar que é dona do mundo. 
    Roma. Quem é Roma? Gostei dele desde o início. Ao contrário dela, é um rapaz responsável, afável e preocupado com os seus amigos e os seus "súbditos". Não deixa de ser o legitimo herdeiro do outro maior clã de Xanghai, ainda que seja ainda muito novo, tal como ela. Sendo assim, tem responsabilidades e são essas que não o deixam ser quem ele gostaria de ser. Antes era o melhor amigo de Juliette e, candidato mais forte a conquistar o coração dela. No entanto, a guerra entre as duas famílias não deixa que sequer sejam conhecidos com tréguas. Têm cravado nos nomes de família a rivalidade e a animosidade que dita as regras naquele país. Separaram-se, mas nunca deixaram de sentir aquilo que sentiam desde que se conheceram. 
    Achei a ideia de criar uma espécie de pandemia sobrenatural instalada em pontos estratégicos da cidade muito bem pensada. Algo que tortura e mata sem ninguém conseguir descobrir onde está, onde vai aparecer, nem quando. Cura? Ninguém sabe, a não ser a pessoa que originou tudo aquilo. Contudo, essa ideia foi muito consumida pela parte política do livro. E a mim, que detesto política, não me caiu bem que em vez de se focarem no romance entre Juliette e Roma, o foco estivesse todo na parte política e na rivalidade entre as duas famílias e contra os estrangeiros que ameaçavam retirar o poder aos habitantes naturais. 
    Até meio do livro, a leitura foi sempre muito arrastada e aborrecida, tenho de admitir. A partir da altura em que Roma e Juliette, à rebelia dos pais, juntam forças, a leitura torna-se muito mais atraente e agradável. Havia problemas na mesma, mas ao menos estavam juntos e a lutar contra aquele mal invisível e, acima de tudo, a deixarem que o amor que sentiam um pelo outro ressurgisse aos poucos e de uma forma avassaladora.

    Resumindo, apesar de ter levado mais tempo do que o habitual a entrar na história, quando tal aconteceu, a mistura entre os vários géneros presentes, thriller, romance (pouco), mistério e fantasia acaba por ser uma mistura de sucesso pois deixa-nos presos para o segundo livro. 

    Para quem gosta de mistério, política e algum intriguismo encontrou o livro certo. Para quem está à espera de encontrar romance, vai sair um pouco desapontado porque o foco não é, de todo, esse.

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário é valioso!
Obrigada pela visita e volte sempre!