22/02/2019

Opinião | VOX | Christina Dalcher | TopSeller

Estados Unidos da América. Um país orgulhoso de ser a pátria da liberdade e que faz disso bandeira. É por isso que tantas mulheres, como a Dra. Jean McClellan, nunca acreditaram que essas liberdades lhes pudessem ser retiradas. Nem as palavras dos políticos nem os avisos dos críticos as preparavam para isso. Pensavam: «Não. Isso aqui não pode acontecer.»

Mas aconteceu. Os americanos foram às urnas e escolheram um demagogo. Um homem que, à frente do governo, decretou que as mulheres não podem dizer mais do que 100 palavras por dia. Até as crianças. Até a filha de Jean, Sonia. Cada palavra a mais é recompensada com um choque eléctrico, cortesia de uma pulseira obrigatória.

E isto é apenas o início.

(Pode Conter Spoilers...)
A leitura deste livro, para mim, foi um misto de sensações e emoções. Raiva, angústia, frustração, indignação e aquela sensação de querer ajudar em alguma coisa e não poder.
Hoje em dia, nós mulheres, temos muito mais liberdade que muitas das nossas antepassadas, disso não há a menor dúvida. Mas, embora tenhamos uma voz mais activa na sociedade actual e termos alguns dos nossos direitos reivindicados, continuamos a ser a voz mais "fraca". Acredito que não chegaremos ao ponto do que aconteceu neste livro, mas fica sempre a ideia de que bastará aparecer alguém com mais poder e influência e também loucura, que trave a nossa caminhada rumo à igualdade. Porque é que as mulheres trabalham mais e recebem menos do que os homens? Porque razão somos sempre a segunda opinião? Porque continua a haver aquele preconceito de que "o lugar das mulheres é atrás do fogão"?
Ainda esta semana li um cabeçalho de uma notícia em que um jornalista italiano (já com a sua idade) afirmava que "Quando ouço uma mulher falar de táctica o meu estômago até dá voltas ao estômago". Nos dias de hoje acham isso admissível? Eu não e afirmações destas revoltam-me. 
É justamente esse tipo de pensamentos que dão origem a este livro.
Um livro que começa com a realidade que as mulheres, sejam adultas ou crianças, não podem dizer  mais do que 100 palavras com a penalização de choques eléctricos sempre que ultrapassam a contagem, controlada por um contador colocado no pulso de cada uma(só de imaginar arrepia). O acesso a livros, computadores e até livros de culinária era completamente proibido. As mulheres foram obrigadas a deixarem os seus trabalhos para ficar em casa tomando conta dos filhos e das lides da casa. Perderam o acesso às contas bancárias e nem o correio podiam receber ou abrir. Dependiam total e completamente dos maridos. As negras, lésbicas e todas as que fossem "fora do normal" eram exiladas e sujeitas a regras ainda mais duras do que as mulheres "normais". Ou seja, tinham cortado, completamente, a liberdade e o direito de expressão ao sexo feminino nos Estados Unidos, que era liderado por um louco armado em puritano, levado ao poder, justamente por homens e até algumas mulheres (isso sim é triste) que pensavam como ele. Daí até se propagar para a Europa e resto do mundo era um passo muito pequeno e era mesmo essa ideia, não fosse por Jean, a médica neurolinguísta a quem foi retirada toda a sua vida tal como a conhecia. Tinha sido obrigada a deixar o seu trabalho como médica para tomar conta dos seus quatro filhos e respectivo marido, Patrick. Conseguíamos sentir como ela definhava e enlouquecia mais um pouco a cada dia que passava e era submetida àquelas regras absurdas e pior, ter de submeter a sua filha pequena ao mesmo sofrimento. Quando era mais nova, Jean sempre tinha sido avisada para o futuro que se aproximava e como nunca acreditou que tal tão drástico acontecesse, deixou-se ficar na ignorância. Agora que está a viver o pesadelo anunciado, arrepende-se de ter sido tão céptica e não ter feito nada para mudar o rumo das coisas. Contudo, uma oportunidade aparece quando Jean é "educadamente" convidada a trabalhar para o governo, nas condições impostas pelo governo claro, e é aí que decide que terá de tomar as rédeas da sua vida, quanto mais não seja pela sua menina e até pelos seus filhos rapazes. Se com isso conseguir salvar as mulheres de uma vida de miséria e prisão, tanto melhor. 
É incrível ver como meia dúzia de pessoas conseguem fazer a diferença quando juntam esforços e foi mesmo isso que aconteceu. Os (poucos) homens da vida de Jean a darem a voz por todas as mulheres que não a tinham. 
Gostei imenso de como a autora conseguiu colocar romance no meio de uma história tão agonizante e tão dramática, pelo menos para as mulheres. Aquela pontinha de romance que aquece o coração depois de ler algo tão atroz como perder a nossa voz e ficar completamente impotente.
Espero sinceramente que este livro seja levado a sério. Não que acredite que alguma vez isso possa acontecer, mas há muita coisa que podem lembrar-se para nos "cortar as asas". Não sou, de todo, feminista. Acredito que tanto os homens como as mulheres podem dar o seu contributo de igual forma e fazer da nossa sociedade e do mundo um lugar melhor, mas depois de ler este livro, cada vez mais me dou conta de certos pormenores que vão acontecendo e que antes não reparava. Acredito que com vocês acontecerá o mesmo. Fiquem atentas e verão.

Aconselho vivamente a leitura deste livro porque é, realmente, um "abre-olhos" para a nossa realidade.

2 comentários:

  1. Quero muito ler!
    Excelente opinião, concordo plenamente com o que falas sobre nós mulheres, acredito que não chegaremos a esse ponto, mas de facto abrindo os olhos, vamos notando alguns retrocessos em relação à nossa liberdade.

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    Respostas
    1. E fazes muito bem, é um livro e tanto!
      Muito obrigada pelas tuas palavras, é bom saber quando estou a escrever boas opiniões :)
      Sim.. tenho sempre essa sensação de que a liberdade que temos é um pouco "areia para os olhos", tipo, para nos contentar e calar...

      Beijinhos

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