31/01/2018

Opinião | Quase Adulta | Jamie Attenberg | TopSeller

A perfeição é entediante; o interessante é o caminho até lá se chegar. Quando lhe perguntam quem é, Andrea Bern tem a resposta na ponta da língua: ela é designer, nova-iorquina, amiga, filha e irmã. Mas, nas entrelinhas, percebe-se a sua verdadeira natureza: ela é quase quarentona, quase artista, quase à deriva, quase adulta. À sua volta, as pessoas arquitectam a vida tal qual os padrões que as revistas e as séries de TV populares comandam. Mas há muito que Andrea deixou de perseguir esse sonho e de ter expectativas irreais sobre a sua vida. 
Contudo, quando a sua sobrinha nasce com uma doença incurável, Andrea e a família têm que rever prioridades. Pela primeira vez, ela é forçada a fazer algo impensável: a preocupar-se com os outros.

(Pode Conter Spoilers.. Ou não)
Acabei agorinha mesmo de ler este livro e devo dizer que gostei bastante. A leveza da escrita, a intensidade dos pensamentos da personagem, ainda que exteriorizados de uma forma simples e cativante. Jamie Attenberg tem tudo para ser uma autora conhecida e reconhecida aqui por terras lusas e não só.
Neste livro, que, a meu ver, trata-se de um manifesto contra as regras impostas pela sociedade dirigidas às mulheres, é-nos dado a conhecer uma mulher madura e com total convicção de que não tem de seguir estas mesmas regras impostas diariamente. Não tem de seguir o modelo de adolescente que tira um curso, arranja emprego, namora, casa-se, tem filhos e depois pronto. Fim da linha. Ainda hoje em dia, é muito frequente depararmo-nos com aquele eterno estereotipo de mulher, esposa, mãe e nada mais. Não há ambição, não há aquela liberdade que tão bem faria à maioria das mulheres que se resignam e deixam de viver a sua individualidade.
Andrea é essa mulher. A que não se deixa vergar pelas regras e tradições. É a excepção à regra. Tem 39 anos, muitos homens já passaram pela vida (e cama) dela e nem um conseguiu dar-lhe aquela vontade de "assentar", de criar família própria. Marido? Filhos? Não era mesmo para ela e assim ela continua a pensar quando vê a sua melhor amiga casar e ser mãe. Assim continua até ver o irmão, que ela tanto ama, casar-se e ser pai. No entanto, é o bebé do irmão que vai fazer toda a diferença. É uma menina e, quis o destino, que fosse uma menina com prazo de validade. Nasce com uma doença rara e incurável, pelo que a sua morte, mais cedo ou mais tarde, seja inevitável. Ainda que este livro seja um relato da vida de uma mulher rebelde e independente, não deixamos de cair no erro de torcer para que um milagre aconteça e aquela menina inocente, de alguma maneira, consiga dar a volta por cima e consiga vencer o fatídico destino.
Andrea, ao longo dos anos, cada vez mais se dá conta de que, tal como o seu pai (já morto e também ele um rebelde) havia lhe dito em tempos, faz parte daquele pequeno grupo de pessoas que simplesmente não precisam de ninguém para serem felizes, nem sequer de bens materiais.. Um bom copo de vinho (ou mais) é o suficiente para ela. Não quer dizer que estas pessoas mais solitárias e independentes, não precisem de afecto, de preocupação, de carinho e atenção, mas sempre em pequenas doses e nunca de uma forma vitalícia. 
Gostei particularmente de ver que Andrea, apesar de ser um bocado (muito) cínica em relação ao casamento e às juras de amor eterno que, regra geral, quase nunca são levadas até ao fim, consegue ser uma pessoa boa. Sente empatia por aqueles que sofrem por amor, por aqueles que, de uma maneira ou de outra e tal como ela, não conseguiram ser bem sucedidos nas suas carreiras de sonho. Ela era uma artista e boa. No entanto, o rumo dos acontecimentos e a maneira de ser dela, não lhe permitiram ser ainda melhor e fazer da arte a sua vida.
Gostava de ter tido mais um pouquinho de Andrea, da mãe e do irmão, após o que aconteceu no final do livro. Ver como e até que ponto aquele acontecimento teve impacto na vida deles, mas.. não se pode ter tudo ;)

Recomendo!

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