04/05/2017

Opinião | Deixa-me Ir | Gayle Forman

Maribeth Klein é mãe de gémeos e editora de uma revista de moda. Conciliar essas duas facetas da vida tem sido um desafio quase impossível e Maribeth sente-se esgotada. A azáfama do dia a dia, cada vez mais intensa, não a deixa parar um segundo, nem para perceber que acaba de ter um ataque cardíaco. 

Durante a recuperação, dispondo finalmente de algum tempo para pensar, Maribeth decide fazer as malas e partir. Longe das obrigações familiares e apoiada por novas amizades, pode por fim lidar com os problemas que a atormentam há muito e enveredar por uma jornada de descoberta que lhe permitirá perceber o que é realmente importante.

Não é novidade nenhuma de que Gayle Forman é uma das minhas autoras preferidas. Este "Deixa-me Ir", embora fora dos temas que, geralmente, são abordados por esta autora, é igualmente soberbo. 
Quantas de nós mulheres trabalhadoras e muitas, mães, se sentem assoberbadas de trabalho a tal ponto de se esquecerem de si próprias em prol do bem estar familiar? Muitas, isso garanto pois sou uma delas. Muitas vezes esquecemo-nos das nossas dores, das nossas emoções e das nossas inseguranças, para colocarmos, acima de tudo, o conforto e necessidades dos nossos entes mais próximos. No caso de Marybeth, os seus dois gémeos de quatro anos e o seu marido, já para não falar do seu trabalho.
Marybeth é o exemplo de mulher que se esqueceu de si mesma e, nem mesmo quando tem um ataque cardíaco se apercebe de que chegou a hora de dizer "basta" e cuidar de si para que possa cuidar dos outros que dependem dela, trabalho incluído.
O processo de recuperação dela, em casa, rodeada pelos familiares mais directos, apenas serviu para abrir-lhe os olhos ao que realmente se passava. Todos, marido incluído, tinham-se aproveitado, ainda que sem querer, do estatuto dela enquanto mulher da casa. Causou-me alguma irritação aperceber-me que, mesmo em ocasiões em que se está ou esteve entre a vida e a morte, há sempre a tendência a pensar-se que "vai ficar tudo bem" e que depois volta tudo ao mesmo. 
A volta que a autora deu para que Marybeth tivesse a coragem de se libertar destes laços de dependência familiar e profissional foi absolutamente genial e ao mesmo tempo dolorosa. Costuma-se dizer que "quando perdemos é que damos realmente o devido valor ao que se tinha" e, a meu ver, foi exactamente isso que aconteceu, embora não ache de todo que a ideia inicial de Marybeth fosse a de "dar uma lição" aos filhos e ao marido. Ao longo do processo de recuperação longe de casa e no anonimato, Marybeth vai reaprender a viver. Conhece novas pessoas que lhe vão mostrar que existe outro "mundo" para além daquele que a envolve e consome dia após dia. Pessoas que a vão ajudar e crescer como pessoal individual que precisa e deve pedir ajuda sempre que se sentir assoberbada. Vai conquistar o seu lugar como mulher. Vai distanciar-se para ganhar o seu lugar no mundo como esposa, mãe e trabalhadora profissional, que para além disso tudo, continua a ser um Ser Humano, com todas as falhas e necessidades de qualquer outro. Para além de aprender, vai libertar-se das amarras que faziam com ela se sentisse na obrigação de ser e fazer tudo para todos, dentro e fora de casa.
A meu ver, este livro, a história de Marybeth é uma lição a todas as mulheres que se deixam levar pela regra imposta pela sociedade que apela à "obrigação" das mulheres em ser o elemento que cuida dos outros ao invés de ser cuidada. Numa família, todos têm o dever e o direito de cuidar e serem cuidados, respectivamente, não por regras impostas, mas porque amam e temos de cuidar de quem amámos.

Uma grande lição de vida esta que Gayle Forman nos transmite com a sua Marybeth :)
(Este exemplar foi gentilmente cedido pela Presença em troca de uma opinião sincera)

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