Estar sozinha na Califórnia, podia ser uma tortura ou uma aventura, e eu sabia perfeitamente que isso só dependia de mim. Não era propriamente a América que poderia apanhar-me de surpresa depois de lá ter vivido tantos anos que chegaram ao ponto de me darem maridos e filhos. E muito menos os americanos, que ainda por cima desta vez acabaram de reinstalar o Obama na Casa Branca, sendo que ainda por cima eu, agora, rumando como rumava ao Big Sur, estava perfeitamente consciente de que ia viver num dos sítios mais bonitos do Mundo, procurado incessantemente como inspiração por comunidades de artistas que descobriram o sítio nas páginas magistrais e certeiras do Steinbeck, e deixaram na sua senda discípulos tão impressionantes como o Miller e o Kérouac. De qualquer maneira, metia-se pelo meio como autêntica novidade o efeito ambíguo de estar a ver Portugal de longe, e de assim em perspectiva eu começar a seguir a sequência de parvoíces que nos tinham deixado na penúria como se estivesse numa sala de cinema. Na dúvida, não me pus a extrapolar conclusões com ninguém. Nem comigo própria.
Clara Pinto Correia
Clara Pinto Correia publicou o seu primeiro romance em 1984 ( AGRIÃO, Relógio d ́Água). Artista fecunda tem 54 livros publicados, dois dos quais escritos em língua inglesa. Na ficção literária destacam-se ADEUS PRINCESA ( Relógio d`Água), com edição holandesa, alemã e brasileira, PONTO DE PÉ DE FLOR ( D. Quixote, 1991, Prémio Máximo de Literatura 1999 da Revista Máxima) E SE TIVESSES A BONDADE DE ME DIZER PORQUÊ? Em colaboração com Mário de Carvalho (Edições Rolim, 1986), MORFINA ( contos, Relógio d`Água e Astrolábio, 2000), NÃO PODEMOS VER O VENTO ( Clube do Autor, 2012). Publicou uma dezena de livros para crianças e adolescentes, além de vários de divulgação científica e, também alguns de poesia.
TRILOGA A TIRANIA DA DISTÂNCIA
* TODOS OS CAMINHOS
* MENINAS MORENAS
* LUZ DE MARTE
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