Anos atrás, Kahlen foi salva de um naufrágio pela própria Água. Para pagar sua dívida, a garota se tornou uma sereia e, durante cem anos, precisa usar sua voz para atrair as pessoas para se afogarem no mar. Kahlen está decidida a cumprir sua sentença à risca, até que ela conhece Akinli. Lindo, carinhoso e gentil, o garoto é tudo o que Kahlen sempre sonhou. Apesar de não poderem conversar — pois a voz da sereia é fatal —, logo surge uma conexão intensa entre os dois. É contra as regras se apaixonar por um humano, e se a Água descobrir, Kahlen será obrigada a abandonar Akinli para sempre. Mas pela primeira vez em muitos anos de obediência, ela está determinada a seguir seu coração.
(Pode conter spoilers)
Tenho de dizer que gosto imenso de como Kiera Cass escreve e este livro não foi excepção. Gostei de ler algo dela que não fosse sobre a saga A Selecção e um mundo rodeado de vestidos e reis e rainhas, príncipes e princesas.
Adoro o Ser Mitológico que Kiera escolheu para escrever esta história. As Sereias. Admito que, em certas ocasiões, fazia-me lembrar do conto da Disney "A Pequena Sereia", mas ao avançar na leitura, convenci-me de que não tinha nada a ver. Neste livro, as sereias não eram apenas seres belos e hipnotizantes. Eram seres utilizados para matar e cumprir as vontades da sua Mestra: Oceano. Nada de tritões, nada de bruxas gordas e feias à espera da sua vingança. A única coisa remotamente em comum com A Pequena Sereia foi o facto de todas as sereias, quando em Terra e autorizadas a tal pela própria Oceano, não poderem falar com ninguém, pois assim que alguém ouvisse as suas vozes o seu destino era apenas um: a morte.
Neste livro temos acesso à história de Kahlen, que, por algum motivo, foi salva por Oceano aquando de um naufrágio que vitimou toda a gente que ia no cruzeiro que se afundou, família incluída.
A única coisa que Kahlen e todas as outras sereias teriam de fazer, era pagar a sua dívida para com Oceano, tornando-se Sereias por cem anos, findos os quais, a dívida seria dada como paga e as sereias poderiam partir, sem terem qualquer recordação dos anos que passaram como sereias.
Um aparte: Sabem aquela ideia pré-concebida que temos das Sereias? Seres com caudas de peixe enormes, cobertas de escamas luminosas e belas como jóias, com longos cabelos brilhantes e (revoltantemente) belos, voz límpida e completamente irresistível e hipnótica que leva a que os humanos, principalmente os homens sucumbam aos seus desejos? Pois bem, Kiera Cass apresenta-nos seres aos quais as espantosas caudas de peixe foram retiradas e substituídas por vestidos fantásticos (obviamente), feitos de sal. Os cabelos compridos e selvagens foram ligeiramente alterados e transformados em cabelos arranjados e bem penteados.
Aquelas sereias tímidas e distantes, mas, mesmo tempo perigosas, eram agora meras raparigas, de uma beleza incrível, que iam de cidade em cidade, sem falar com ninguém, que apenas queriam divertir-se em festas loucas e aproveitar o que o mundo terreno lhes tinha para oferecer, e apenas quando Oceano precisava delas é que elas iam para a água. No entanto, Kahlen era diferente. Já era Sereia há oitenta anos e ainda assim, só se sentia bem dentro de Oceano, em perfeita comunhão com a entidade que a havia tornado no que ela era. Por vezes sentia-se confusa, por não saber porque é que havia sido escolhida para tal destino, sendo que como humana, Kahlen era apenas uma miúda que gostava de conforto e que era, naturalmente, banal, como tantas outras. Contudo, outras vezes, sabia bem porque é que Oceano gostava tanto dela, se calhar mais do que às outras. Tudo se resumia à dedicação.
Seria de esperar que Kahlen conseguisse cumprir a sua dívida, no entanto, ter-se apaixonado por um rapaz, um humano, não ajudou em nada a realizar essa tarefa sem dificuldade.
Gostei do facto de Kiera não ter optado por um romance lamechas e com um final previsível. Há que saber sofrer e merecer o amor quando ele nos bate à porta e, a história de Kahlen e Akinli é, simplesmente, adorável, sofrida e cheia de altos e baixos que apenas servirão para que no final, ou a caminho dele, tudo se torne mais doce e recompensador.
Ao longo do livro, temos várias facetas de Oceano. É egoísta, intransigente, invejosa e carente. Passa de ser uma entidade que apenas pensa em si e nos seus próprios desejos e vontades e começa a abrir os olhos aos sentimentos das suas filhas. Acabará por chegar à altura em que se aperceberá que terá de abdicar de algumas regras e limites se quiser manter-se no coração de todas as sereias que foi criando ao longo dos séculos, principalmente de Kahlen.
Acaba por ser um romance que nos entra no coração e nos enche de esperança de que se lutarmos por aquilo que queremos, seja uma pessoa, um objecto ou uma finalidade, conseguimos sempre obter o que o nosso coração mais deseja.
(Este exemplar foi gentilmente cedido pela Marcador em troca de uma opinião sincera)
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