20/06/2017

Opinião | Quando Perdes Tudo Não Tens Pressa de Ir a Lado Nenhum | Dulce Garcia

Um romance turbulento, baseado numa história real.

Um homem, duas mulheres, uma criança. A história de um triângulo amoroso à luz do que são hoje as relações sentimentais, marcadas por separações e recomeços e jogos psicológicos variados. Um romance onde se fala de paixão, desejo, raiva e um medo incrível da loucura. Também tem ameaças, mentiras e sexo. E humor, esse lado cómico que existe em todos os episódios, até nos mais trágicos. O que nos leva a apaixonarmo-nos e deixar tudo para trás? Como é possível mentirmos para obrigarmos alguém a ficar ao nosso lado. É normal um pai não gostar de um filho? E o amor, sempre o amor, é hoje uma doença ou a única terapia? Isabel sempre disfarçou os seus sentimentos debaixo de uma capa de serenidade, sobretudo desde que o irmão enlouqueceu depois de assistir a uma autópsia. Mas apaixona-se.

Quando comecei a ler este livro, admito que estava um pouco receosa (eu sou sempre assim um bocado desconfiada quando se trata de autores que não conheço). No entanto, fiquei agradavelmente surpreendida. Dulce Garcia adopta, desde o início, uma escrita que nos agarra e que nos faz querer saber mais e mais. Simples e directa, sem grandes ornamentos e totalmente adaptada aos nossos dias. 
Se por um lado achei graça ao facto de a história centrar-se numa personagem que assentou arraiais num terminal de aeroporto, por outro lado, achei triste o facto de ter sido um homem e o amor que sentia por ele, que a levou a viver assim, apenas com uma pequena mala e poucos pertences dentro dela. 
Antes de mais nada, de salientar que este livro baseia-se numa história real e isso, por si só, atraiu-me logo as atenções. No entanto, foi o título que mais me conquistou, talvez por ser mesmo isso que sentimos quando perdemos tudo, deixamos de ter pressa, deixamos de ter objectivos e devo dizer, é um título fantasticamente verdadeiro.
Podia estar aqui a contar-vos tudo sobre este livro, no entanto, creio que se lerem o livro vão gostar de ser surpreendidos. Basicamente, é um livro que assenta num trio amoroso entre Isabel, Afonso e Sara. Com este trio a autora consegue dar-lhe a volta completa e em vez de um livro de apenas mentiras e traições, temos um formato um pouco diferente de um romance normal. Acaba por ser um thriller disfarçado e isso agradou-me imenso porque assim, todos os saltos temporais, todos os pormenores que, até certa altura, é Isabel que fornece e que, depois passam também a ser contados por Afonso, não se tornam confusos nem aborrecidos. Pessoalmente, gosto muito de livros com saltos temporais. Ajuda-nos a perceber o background das personagens e, quiçá, compreender a maioria dos seus actos e o porquê de algumas atitudes que, de outra forma, nos poderiam parece erradas. Mas, não é só de traição que este livro trata. Trata sobretudo das relações humanas, entre homem e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos. Aqueles sentimentos de paixão arrebatada, impulsos que derivam de desejos na sua forma mais pura, a mentira e os remorsos que advêm desses mesmos desejos. Neste livro de Isabel (porque esta é a sua vida), temos acesso a todos os sentimentos que perfazem as relações humanas, sentimentos estes que, em determinadas alturas da vida, ou nos salva ou consegue destruir-nos completamente.
Este é um livro com personagens bastante intensas e verdadeiras. São pessoas que facilmente poderiam entrar nas nossas vidas e fazer-nos compreender como é que sozinhos e sem nada, nos podemos perder e deixar de ter para onde e para quem ir. 

É, de facto, uma autora que vou ter de seguir atentamente! Recomendo vivamente e apesar de não ter dados as cinco estrelas, porque fiquei um pouco desiludida com com o final, é um livro que adoro ter na minha colecção. 

(Este exemplar foi gentilmente cedido pela Guerra&Paz em troca de uma opinião sincera)

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