22/09/2016

Entrevista | André de Oliveira | Autor de "Peónia Vermelha"

Tal como havia prometido, aqui fica a entrevista concedida pelo autor André de Oliveira ao Sinfonia dos Livros.

Entrevista
(André De Oliveira)
SdL - Fale-nos um pouco de si, o que faz, o que gosta e detesta, desejos, sonhos e objectivos para o futuro.
AdO: Eu sou actor profissional e escrevo nos tempos livres. Vou publicar o meu primeiro romance, Peónia Vermelha, dia 15 de Outubro no Chiado Clube Literário & Bar, no Porto. Adoro livros, filmes, teatro, música, comida tradicional portuguesa, italiana, chinesa, japonesa e indiana. Adoro praticar yoga e meditação, fazer desporto e dormir. Adoro pessoas criativas, de riso fácil e de bem com a vida. Detesto faltas de educação e cinismo. Desejo continuar a escrever e a publicar os meus romances, sonho em escrever e realizar os meus próprios filmes. Quanto aos objectivos, vamos estabelecer uma baliza de tempo porque tenho milhões de objectivos para concretizar durante o meu tempo de vida e se não balizarmos o tempo, nunca mais saímos daqui (risos!!!). Então, tenho como objectivo nos próximos dez anos publicar, no mínimo, cinco romances; escrever e ver produzidos, no mínimo, cinco guiões cinematográficos e, desses cinco, realizar no mínimo um. Ahh! Já me esquecia! Também planeio ganhar um Óscar, no mínimo! (risos!!!)

SdL- Como foi o seu início na literatura? 
AdO: Se bem me lembro, comecei a escrever textos soltos e pequenos poemas por volta dos quinze ou dezasseis anos. Nessa altura já lia massivamente. Então, por volta dos meus vinte terá surgido, pela primeira vez, a vontade e o sonho de escrever um romance. Nem sabia no que me estava a meter… (risos!!!). Depois, consoante ia lendo e continuava a escrever, apercebi-me da dificuldade em escrever uma história com princípio, meio e fim num espaço tão grande de folhas como os romances normalmente têm. Nessa altura, estudava na Academia Contemporânea do Espectáculo e fazia teatro. Foi com o passar dos anos, e com a leitura de centenas de romances, que comecei a pensar seriamente em escrever o meu primeiro romance. Então, Peónia Vermelha terá começado a surgir na minha mente, e começado a ser escrito, por volta de 2012, há quatro ou cinco anos. E foi um desafio maravilhoso!

SdL- O que o faz escrever? Ou seja, qual a sua principal motivação enquanto escritor? 
AdO: Mais do que uma paixão, a escrita era e é uma necessidade. É uma das melhores formas de expressão pessoal, criativa e artística que encontrei para mim. Consoante fui escrevendo, e me fui sentindo melhor por ter um pedaço de texto escrito ao fim do dia, ou porque alguém o lia e manifestava uma agradável e sincera opinião sobre o mesmo, a escrita foi-se tornando esta paixão que foi crescendo e ganhando cada vez mais consistência em mim. Hoje é uma necessidade absoluta porque quando passo vários dias sem escrever começo a sentir-me desconfortável. É também uma paixão porque adoro escrever e faz-me sentir entusiasmado com a história que está a ser criada naquele momento. 
Quanto à motivação, sem dúvida que a principal é escrever histórias que façam os leitores perderem-se de si mesmos nem que seja naqueles minutos ou momentos em que estão a ler um pouco do meu livro. Inspira-me a ideia de inspirar os meus leitores a viver uma vida com maior profundidade, sentido e direcção aos seus sonhos e ao seu sentido único de vida. 
Embora eu escreva ficção no género do thriller de espionagem/policial/político, também sei que os meus personagens, o enredo e o tema de cada história é sempre algo muito existencialista, muito humanista, que questiona o sentido para a vida, os valores prevalecentes na nossa sociedade, o que andamos aqui a fazer, para onde queremos ir e quais são os valores verdadeiramente transformadores para uma vida melhor. Daí que os meus livros tenham esse cunho, ou objectivo, de deixar uma sensação boa no coração de quem os lê, um sorriso no olhar, uma surpresa e algo de bom para que cada leitor possa levar isso para a sua vida. No entanto, como a própria sinopse indica, esta é uma história que põe a nu o lado mais obscuro dos meandros políticos, dos interesses financeiros das grandes corporações farmacêuticas e da alma humana.

SdL - Uma vez que estamos a falar de livros, de que género gosta?
AdO: O meu género favorito é tudo o que ande à volta do thriller, policial, espionagem, conspiração política e mistério.

SdL -  Algum autor preferido? Porquê?
AdO: Muitos! Mas se tivesse que escolher só um, escolheria o Daniel Silva. Todos os livros do Daniel são uma grande história de espionagem, intriga, sempre com grandes dados históricos, cultura geral e personagens maravilhosas e incrivelmente realistas.

SdL - Quem é que o André destacaria na actual Literatura Nacional?
AdO: O meu autor preferido português é o Luís Miguel Rocha. Li e reli todos os seus livros e o Luís continua a ser uma inspiração para mim todos os dias. Para além de me ter apoiado imenso na escrita deste Peónia Vermelha, o Luís deu-me imensas dicas de como entrar no mundo das editoras e muitos conselhos sobre escrita e marketing. Ele era um mestre em todas essas áreas. Outros autores que estão em voga e a mostrar um excelente trabalho, na minha opinião, é o Nuno Nepomuceno, autor da trilogia Freelancer: 1 – O Espião Português; 2 – A Espia do Oriente; 3 - A Hora Solene. Gosto muito de O Monstro de Monsanto, do Pedro Jardim. Depois tenho dois grandes amigos escritores que vão dar cartas nos próximos anos com certeza: Rita Inzaghi, autora de Ponto Zero, e Tiago Moita, autor de O Último Império. O Tiago também vai publicar o seu novo romance agora em Setembro ou Outubro. É um nome a ter em conta.

SdL - Cite pelo menos três referências literárias da sua escrita? 
AdO: Daniel Silva, Lee Child, Leon Tolstoi, William Shakespeare, Zhang Jie, Dan Brown, Luís Miguel Rocha, Philip Kerr, Lars Kepler.

SdL - Livro que mais gostou e que mais lhe marcou? 
AdO: Costumo dizer que foi O Anjo Caído, de Daniel Silva. Mas há tantos outros. Por exemplo, O Último Papa, de Luís Miguel Rocha e os seus restantes romances ajudaram-me a decidir que iria escrever Peónia Vermelha até ao fim, percebes? Sem dúvida que um dos livros que me levou a pensar em ser romancista foi O Código Da Vinci e o Símbolo Perdido de Dan Brown. Depois, todos os romances do Daniel Silva também me marcaram pela qualidade e glamour com que ele consegue contar as suas histórias que envolvem terrorismo, o mercado negro do roubo de arte e as relações humanas que ele desenvolve em cada livro.

SdL - Tem algum livro que recomendaria? 
AdO: Peónia Vermelha! (Risos!!!). Estou a ler agora “O Poder Sem Limites” e “Desperte o Seu Gigante Interior” de Anthony Robbins. São ambos livros para o crescimento e desenvolvimento humanos nas suas mais variadas áreas. Não são os típicos livros “fáceis” de auto-ajuda que encontramos a toda a hora nas prateleiras de “religião & esoterismo” das FNAC e BERTRAND do nosso país (risos!!!). Anthony Robbins tem um conhecimento profundo e prático da psicologia e mecanismos humanos,espiritualidade, negócios, marketing, relacionamentos e comunicação intra e interpessoais, profissionais e nas suas mais variadas formas e áreas da vida. Recomendo vivamente!

SdL - Como surgiu a ideia para o livro “Peónia Vermelha”? Alguma coisa que lhe tenha inspirado? 
AdO: Sem dúvida. Surgiu aquando do estudo da Medicina Tradicional Chinesa. Sou um curioso e estudioso da cultura oriental no geral e da Índia e da China mais especificamente. Andava com vontade de escrever o meu primeiro romance, e Chi Shao, a personagem principal, começou a surgir-me muito naturalmente na minha cabeça. Chi Shao é uma mulher misteriosa, sedutora, dona do seu próprio nariz. É uma mulher que sabe o que quer e troca o conforto e a segurança de sua casa e do seu casamento em prol dos valores maiores da justiça e da liberdade. Ela vem para a Europa resolver uma questão do passado e fazer justiça em relação à catástrofe humanitária que está a acontecer no seu país, mas que está a ser ignorada pelas entidades que deveriam estar a resolvê-la. E a partir daí, Peónia Vermelha foi nascendo. Chi Shao é o tipo de mulher que não vira a cara aos problemas, nem mesmo quando está quase a vomitar de stress ou nervosismo. É uma mulher fortíssima, de grande carácter, mas que também sabe ter o seu jogo de cintura e sim, traz consigo uma bagagem com um lado mais obscuro, como todos nós.  

SdL - Quais são as principais dificuldades de ser um escritor em Portugal?
AdO: Até agora não senti grandes dificuldades, na realidade. Temos, sem dúvida, um mercado pequeno, ou seja, não há milhões e milhões de leitores como há noutros países. Ou seja, as grandes editoras investem primeiro nos grandes autores estrangeiros porque é isso que lhes dá a sua manutenção e possibilidade de crescimento. Só depois, eventualmente, é que pensam em dar uma vista de olhos nos novos autores portugueses. Isso é uma desvantagem, uma dificuldade, para os novos autores portugueses. No entanto, na minha opinião, é compreensível. As editoras não são fundações de caridade. São empresas. E, sendo empresas, têm que ter lucro para se poderem manter vivas. É a lei do mercado. É evidente que se eu tivesse a minha própria empresa, antes de investir em alguém desconhecido, trataria de garantir subsistência e lucro com aquilo que eu sei que vende. 
No entanto, com o aparecimento da minha editora, a Chiado Editora, o mundo da publicação de obras literárias tornou-se, eventualmente, mais democrático e possível. Antes, era quase impossível um autor jovem conseguir chamar a atenção com a sua primeira obra, por várias razões: 1 – ou as editoras nem sequer o publicavam; 2 – ou teria pouco investimento de promoção e marketing por parte da editora, uma vez que era jovem autor. Hoje em dia, a Chiado Editora permite-nos publicar a nossa obra com maior facilidade que antes, desde que, naturalmente, cumpra com alguns parâmetros básicos de qualidade literária. Hoje em dia temos acesso a tantos recursos e meios de comunicação para promoção/marketing da nossa obra que fica quase impossível não publicares e conseguires que, ao menos, os teus amigos e família te comprem alguns livros. 
Por isso mesmo, mais do que “dificuldades”, eu vejo desafios bastante interessantes no mundo literário português. Desafios esses que me dão vontade de continuar a escrever cada vez mais e melhor e a ultrapassar essas barreiras que, para alguns, podem ser consideradas como barreiras intransponíveis, enquanto para outros poderão ser interpretadas como desafios excitantes para ultrapassar.

SdL - Em relação ao mundo editorial, acha que as editoras finalmente estão deixando um pouco de lado os escritores internacionais e se voltando para os nacionais?
AdO: Sinceramente, não. O que sinto é que a qualidade dos escritores nacionais tem vindo a aumentar exponencialmente. Assim sendo, e com a democratização da publicação de obras que acabei de falar, as editoras portuguesas estão a perceber agora que há muita e boa literatura em português, mesmo de autores desconhecidos. Há uns meses, li um artigo de um crítico bastante conhecido que dizia que a criatividade estava morta e que, hoje em dia, qualquer português publicava um livro e que, consequentemente, a qualidade literária estava a diminuir. Eu discordo em absoluto desse senhor. O que acontece é que, hoje em dia, a minha geração (geração dos 30 aos 40) é a geração, provavelmente, com mais estudos desde o 25 de Abril, mas também a geração que perdeu emprego logo no início da carreira ou a meio quando já pensava ter um emprego certo. Isto leva a muitos tipos de reacções. Algumas dessas reacções são a depressão, a frustração e o desespero. Outras pessoas, com mais recursos internos como persistência ou perseverança, pegaram na oportunidade do desemprego e da insegurança e começaram a mudar as suas vidas. Muitas delas começaram literalmente a escrever porque sim. Onde quero chegar com isto? Não é que eu ache que a crise financeira que vivemos nos últimos anos tenha sido boa (no que quer que seja!!!), pelo contrário, foi horrível! No entanto, com a facilidade de acesso à informação, e com a cultura das oportunidades, a realidade é que muita gente ganhou coragem para escrever e trazer a público os seus textos. 
Ou seja, as editoras não deixaram de lado os autores estrangeiros para dar lugar aos portugueses. A realidade é que, naturalmente, com a democratização da publicação das obras todos começámos a aceitar o facto de que aquilo que se produz em Portugal também tem muito valor, seja a nível nacional ou internacional.  


SdL - Quais os projectos para o futuro?
AdO: O futuro é uma ideia muito vaga (risos!!!). Basicamente, quero continuar a desenvolver a minha carreira como escritor, continuando a publicar os meus romances. Sou também membro fundador da Filmocracy, plataforma internacional de guionistas e produtores de cinema e estamos a tentar avançar com o projecto para começarmos a fazer filmes. Estamos a levantar voo e o futuro é risonho. Resumidamente, tenciono continuar a escrever e a fazer aquilo que mais gosto.

SdL - Que mensagem gostaria de deixar a todos os seus leitores e para aqueles que um dia têm o sonho de publicar um livro?
AdO: Aos meus leitores, antes de mais, gostaria de lhes agradecer por tirarem algum do seu tempo para lerem Peónia Vermelha. É uma partilha muito pessoal, é como se fosse um filho meu. Por isso, só lhe poderei agradecer por ler o meu livro e, se acharem que merece, falar aos amigos e família sobre o mesmo. É nestas alturas que um autor jovem necessita do “boca a boca”, não da respiração (risos!!!) mas da palavra. 
Quanto a novos autores que sonhem em publicar um livro, antes de mais, escrever, ler, escrever, ler, escrever, ler, escrever. Depois, para que possam ir ainda mais fundo nesse processo, tentar compreender porque é que aquela história, em específico, funciona tão bem e outra não. Tentar compreender porque é que um livro nos agarra de início ao fim, enquanto outros nos dão sono. Questionar-se o porquê de alguns filmes nos fazerem chorar e rir tanto de início ao fim, o porquê de estarmos ali duas horas em frente a um ecrã e nos esquecermos de nós mesmos, enquanto outros filmes nos aborrecem logo nos primeiros dez minutos. É importante devotar tempo à escrita e à leitura, se for isso mesmo que desejamos fazer. É importante estudar livros técnicos sobre escrita, porque isso vai poupar-nos anos de tentativas e erros de principiante. É importante saber a razão pela qual queremos escrever e publicar um livro. Pode ser qualquer uma: mudar o mundo, entreter, ver o seu nome numa prateleira de livraria, inspirar os seres humanos a algo superior ou melhor, etc. Mas o que é importante é termos essa clareza interna. E depois, o mais importante, escrever, escrever, escrever. E quando chegar ao momento de enviar uma proposta para as editoras, fazê-lo com um sorriso no olhar e excelente apresentação.


Perguntas rápidas:
Um livro: A Filha do Papa, de Luís Miguel Rocha
Um/a autor/a: Lee Child 
Um actor ou actriz: Christian Bale e Natalie Portman
Um filme: Knigh of Cups, de Terrence Malick
Um dia especial: Todos os dias!
Um desejo: Ver Peónia Vermelha adaptada ao cinema.

Ao André de Oliveira, o Sinfonia dos Livros agradece a oportunidade que ele deu de termos acesso em primeira mão, tanto ao seu Peónia Vermelha,  como aos seus pensamentos e desejos para o futuro. Que seja um futuro recheado de sucessos e de desejos concretizados.

Tudo de bom André!

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