07/07/2022

Opinião | Onde Me Leva O Coração | Sarah Ferguson - A Duquesa de York | TopSeller

Londres, 1865. Na tentativa de se rebelar contra uma sociedade que espera das mulheres uma submissão conformada, a indomável Lady Margaret Montagu Douglas Scott decide escapar dos grilhões que a aprisionam, fugindo de um casamento forçado com um homem que despreza. Os olhares públicos, no entanto, não perdoarão essa escandalosa demonstração de desobediência, especialmente vinda da filha do duque e da duquesa de Buccleuch, próximos da rainha, e Margaret é afastada do luxo e conforto da vida na alta sociedade.

Encontrando a força necessária num grupo de espíritos rebeldes como ela, entre os quais a princesa Louise, lha da Rainha Vitória, Margaret embarca numa viagem de autodescoberta que, dos salões nobres da corte vitoriana, a levará à Irlanda, à América e de regresso ao Reino Unido, em busca da vida, do amor e da liberdade que, contra todas as expectativas e dificuldades, sempre sentiu merecer.


    Um dos melhores livros que li este ano. Não tive como não atribuir as cinco estrelas. Pela história, pelas personagens, pelo background que nos é oferecido e pela forma como a autora, neste seu livro de estreia, consegue agarrar-nos desde a primeira página, com uma escrita despretensiosa, simples e, em algumas passagens, amorosa e emocionante. Fiquei deveras surpreendida com os dotes literários de Sarah Ferguson, Duquesa de York e, digo-vos já que, hei-de ler todos os livros mais que ela vier a publicar.
    Assim que o comecei a ler, percebi logo que este não ia ser como os romances de época a que estamos habituados a ler. Teve romance? Teve. Teve drama? Teve. Mas para além disso, teve significado. Todos sabemos bem como as coisas funcionavam para as mulheres naquele século em particular. Basicamente, as mulheres, quanto mais novas melhor, serviam para arranjar um bom e rentável casamento para a família toda e para procriar. Fora isso, eram submetidas às vontades, principalmente da figura paterna, sendo que as suas proprias vontades não tinham qualquer valor ou relevância. Se hoje em dia já nos queixamos de que queremos igualdade de direitos e afins, imaginem o que era ser-se mulher, o sexo fraco, naquela altura. Tenho de admitir que o passado descrito neste livro fascina-me e, por isso, gosto tanto de romances de época. 
    Com este livro, não sabia bem o que esperar e fiquei mesmo, mesmo feliz por chegar ao final do livro e sentir que foi um livro que me encheu as medidas, como se costuma dizer. É um livro que deixa qualquer mulher orgulhosa por tudo o que as mulheres conseguiram conquistar até aos dias de hoje, pela sua tenacidade, inteligência, sensibilidade e senso de justiça.
    Margaret é, por si só, uma personagem deveras atractiva e intrigante. Não tem qualquer desejo de casar e formar família, bem ao contrário da maioria das jovens da sua idade, e, na altura em que o pai a obriga a casar com um pretendente que foge total e completamente à sua empatia, não por ser mais velho ou menos atraente, mas porque simplesmente ela não conseguia ver nada de bom nele, nem sequer a vontade de casar-se mesmo com ela a não ser para juntar os negócios da família e conseguir um herdeiro, ou mais,, ela finca pé e não obedece ao pai e a vida muda completamente para ela. É mandada para longe, numa tentativa de minimizar os "estragos" sociais causados pela sua recusa e teimosia e, apesar de se sentir exilada e sozinha, Margaret vai usar tudo o que estiver ao seu alcance para se emancipar e sair das correntes que o pai lhe impôs. Causas sociais escondidas da maioria da média/alta sociedade vão ser o maior incentivo para ela se sentir algo mais do que um meio de rentabilidade e procriação. Ao longo dos anos, Margaret vai conhecendo inúmeras e distintas personalidades (todas elas maravilhosas) que a vão ajudar a afinar a sua própria personalidade e a vão ajudar a amadurecer e ser alguém de relevo para os que mais precisam.
    Este livro tem uma particularidade deliciosa que se prende no facto de que Margaret é inspirada numa antepassada da autora. Só isso confere à história um significado ainda maior, pois, de uma maneira ou de outra, temos acesso a uma realidade, neste caso londrina, que na maioria das vezes não nos é apresentada. Temos sempre a imagem de que as mulheres andam sempre com vestidos maravilhosos e são sempre elegantes. Que os senhores são sempre impecáveis, educados e super atraentes. Que não há pobreza extrema, crianças a passar fome e frio, sem qualquer tipo de educação e higiene básica, pais que morrem de tanto trabalhar e, até mesmo homens que defenderam a pátria, sendo feridos e até mesmo mortos, e que, no final nem uma uníca menção honrosa tiveram, e que não há ruas malcheirosas quase ao ponto de sentir-se náuseas violentas. 
    Neste livro temos essa realidade e, através das muitas cartas trocadas entre as diversas personagens e Margaret (ADORO!!) a que temos acesso durante a leitura, temos também noção de que, na altura, muitas poucas pessoas se interessavam por causas como essas. Margaret lutou imenso para poder fazer a diferença numa sociedade que, basicamente se estava nas tintas para os necessitados.

    Podia estar aqui a tarde toda a escrever sobre tudo o que senti ao ler este livro, mas, como sempre, vou deixar que a minha opinião escrita até este ponto vos faça ter vontade de ler este livro magnífico e sentir o mesmo que eu e, quiçá, muitas mais emoções. Assim espero!

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