21/07/2022

Opinião | Nós Tínhamos de Acontecer | Gayle Forman | Editoral Presença

Um livro comovente sobre a força que ganhamos quando percebemos que não estamos sozinhos no mundo.

Para Aaron Stein, os livros eram milagres - até deixar de acreditar. Apesar de passar os seus dias a trabalhar na livraria alfarrabista dos pais, o único livro que Aaron consegue ler é sobre a extinção dos dinossauros. É um conceito que ele percebe demasiado bem, agora que o irmão e a mãe desapareceram e os seus amigos o deixaram:
Aaron está sozinho com o pai, um homem desgovernado, numa livraria que morre aos poucos, numa cidade isolada do mundo, onde parece que já ninguém lê.
Não é estranho, por isso, que Aaron decida vender a livraria à primeira oportunidade que surge, pensando que esta é a única saída que lhe resta. Mas Aaron estava longe de imaginar o otimismo do amigo ou o entusiasmo dos madeireiros desempregados, que veem na livraria falida um belo projeto para se ocuparem. E muito menos esperava conhecer Hannah, uma belíssima e corajosa música que pode bem ser aquele acontecimento inevitável pelo qual Aaron tanto esperou.
Todos eles vão ajudar Aaron a compreender e aceitar o que perdeu, o que encontrou quem é e quem quer ser - porque a destruição não leva necessariamente à extinção; e às vezes conduz ao nascimento de algo inteiramente novo.


    Já li este livro há algum tempo, mas nunca consegui escrever a opinão como deve ser. Não é que não tenha gostado porque até gostei, mas, este é um daqueles livros que podemos correr o risco de contar algo que não devemos, mesmo sem nos apercebermos.
    Acho que todos os livros desta autora que foram publicados em Portugal, eu tive o prazer de ler. Este foi mais um onde ela consegue, de uma forma leve e simples, demonstrar-nos que a felicidade, muitas vezes, está mesmo ao virar da esquina e nem nos tínhamos dado conta.
    Aaron é um jovem apaixonado por livros, ou, pelo menos era. Era-o antes da mãe separar-se do pai e ter ido para outra cidade e era-o antes de ter perdido o irmão. De certa forma, apesar de terem idades diferentes, Aaron e o irmão completavam-se. Ele gostava de livros e o irmão era louco por música e por discos de vinil. Quando o irmão morre, Aaron vê-se sozinho com o pai e responsável por uma livraria que era o negócio criado pelos pais. A mãe, um espírito livre, acaba por não conseguir ultrapassar a dor de ter perdido o filho e, numa tentativa de conseguir sobreviver, abandona tanto o marido como o filho, deixando-os para tentarem, também eles, lidar com a dor da perda.
    No entanto, com o rápido declínio de saúde do pai, tanto mental como físico, Aaron vê-se obrigado a vender a livraria que, nos dias que correm, dá mais despesas do que lucro. Lutando contra a parte da sua mente que quer manter a livraria, Aaron vê-se a braços com um conjunto de situações que todos os dias vão acontecendo, das formas mais hilariantes e inesperadas possível. Boas acções provenientes dos sítios mais inesperados vão fazer com que Aaron recomece a ver o bom nas pessoas e a ser mais optimista. Para além disso, apesar de detestar música, Aaron conhece Hannah. A vocalista de uma banda em ascenção e que para além de ser bonita e melodiosa, ainda tem um coração grande o suficiente para lidar com os traumas de Aaron e os seus.
    Apesar de não ser um livro com muitas páginas, acaba por ser um livro de leitura lenta. A certa altura, parece que Aaron anda em loop e não consegue sair daquele ciclo vicioso de culpa e lamento por tudo o que lhe acontece na vida. O facto de ter perdido a esperança e a fé até nos livros é algo que nos parte o coração e, o facto de ele não ter qualquer noção do bem que o rodeia pois está enfiado numa bolha de autocomiseração, acaba por nos irritar um bocado. É um bom miúdo que, apesar de ainda ser novo, teve de abdicar de muita coisa por causa das escolhas do irmão e dos pais.
    Apesar de parecer um livro romântico, de romance tem muito pouco. Apenas nas poucas ocasiões em que ele está com a Hannah é que conseguimos vislumbrar alguma espécie de romantismo, sendo que apenas temos acesso a um beijo (que eu me lembre).
    A meu ver acho que este livro transmite mais formas de como ultrapassar os obstáculos que a vida apresenta do que romance.
    Não é um dos meus preferidos dela e os capítulos grandes também não ajudam no avançar da leitura, mas no geral, gostei da mensagem que nos transmite e das personagens que formam um todo ao longo da narrativa.

    Recomendo!

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