20/04/2018

NOVIDADE | Stolen Books | Desdicionário da Língua Portuguesa, de Luís Leal Miranda



Luís Leal Miranda (Torres Vedras, 1983) foi publicitário, é jornalista e ainda vai ser muitas outras coisas antes de deixar de ser o que quer que seja. O Desdicionário da Língua Portuguesa (Stolen Books | 208 pp | 13,99€ | Distribuição 20|20 Editora) é o seu primeiro Desdicionário. O Desdicionário da Língua Portuguesa surge depois de uma página de Facebook, Instagram e Tumblr chamada Novas Palavras Novas. Junta 218 palavras inventadas e 25 ilustrações de José Cardoso. É um livro pequeno, portátil, muito prático para quem vai viajar para um país estrangeiro e não tenciona ser entendido pelos seus habitantes. 

Por baixo das palavras que estão debaixo da língua, existem outras que nunca ninguém se atreveu a reunir num compêndio. São expressões necessárias para que se diga o indizível, que traduzem variantes pouco exploradas da condição humana e questionam os limites dos vocábulos que até aqui nos moldaram o pensamento. O Desdicionário da Língua Portuguesa é por isso uma obra libertadora, essencial para quem já não tem latim para gastar - até porque, sendo uma língua morta, é capaz de estar a dar voltas na tumba. Mais do que uma extensão delirante do léxico, este Desdicionário deve ser usado como adubo nos campos semânticos, para que nunca se perca a velha tradição de inventar novas palavras novas.

franfolho s. m. | Uma coisa sem nome, de forma indistinta, que só conseguimos identificar ao apontar e dizer: «É aquilo ali».
A palavra «franfolho» surgiu pela primeira vez num dicionário em 1977. Não consta nas edições de anos anteriores nem no léxico de nenhum país de expressão portuguesa. Vários estudiosos acreditam que «franfolho» surgiu de uma aposta entre lexicógrafos e há quem defenda a existência de um prémio para a primeira pessoa a detetar o intruso. Existe ainda a teoria de que o termo tenha sido incluído no dicionário depois de uma amarga derrota no Scrabble («franfolho» vale 21 pontos). A tese mais comum, no entanto, é a de que o novo vocábulo entrou no dicionário para apanhar as editoras que o andavam a copiar. «Franfolho» não é a primeira palavra inventada na língua portuguesa porque todas as palavras antes dela também foram inventadas. E não é o primeiro erro do dicionário porque já lá estava a palavra “erro”. O Desdicionário da Língua Portuguesa pretende servir de estufa para palavras sem raiz etimológica, orfanato para nomes de ascendência desconhecida ou mapa para a Atlântida dos significados. Inclui «franfolho» e outras 218 novas palavras novas que se não fossem inventadas tinham de existir.

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