13/03/2018

Novidade CoolBooks | O que se cala é como se não existisse | Maria José da Silveira Núncio

Alice escolheu adiar o tempo e viver das memórias que a tesoura com desvelo, misturadas com essas outras lembranças, que ela não quer que existam e que, ainda assim, teimam em se fazer presentes, sem que Alice tenha força para lhes resistir. As memórias transportam-na do seu Alentejo natal, rude, pobre e explorado, até um bar de prostituição, em Lisboa, para, finalmente, lhe darem a paz, num apartamento antigo, onde ela se (re)constrói em fantasias em que o presente, o passado e o futuro se misturam, deixando de ter sentido ou razão de ser. Esta é uma história de violência e de medo, de sonhos e de perdas, mas também de redenção. Uma história com muitas histórias dentro, que homenageia as tantas Alices que aguentam, sempre. Que calam, sempre. Porque assim lhes ensinaram. Porque assim teria de ser. Porque, afinal, o que se cala é como se não existisse!

A AUTORA
Maria José da Silveira Núncio é doutorada em Sociologia, professora universitária, mediadora e coach familiar. Interessa-se pelas famílias, pela promoção do seu bem-estar quotidiano e acredita que a satisfação e a realização individuais e familiares são fáceis de conseguir desde que se clarifiquem metas e estratégias para as alcançar. Gosta da escrita, nas suas múltiplas facetas, pelo que tem publicada obra académica, ficcional e de auto-ajuda. Colabora regularmente com os meios de comunicação social, na qualidade de especialista na área da família. Nasceu em 1969, é casada e mãe de dois filhos.

A Alice é uma homenagem. A muitas mulheres sofridas, silenciosas, resignadas, de quem pouco se
fala. Mulheres que se querem esquecidas e que querem esquecer-se. Porque sofrem, e o sofrimento incomoda. Incomoda-as a elas, que o calam, mas incomoda-nos sobretudo a nós, que, simplesmente,
olhamos para o lado. Mulheres que beberam, ainda no leite materno, a passividade (e aqui, que me perdoe o meu muito estimado Editor, mas vou parafraseá-lo: uma passividade quase irritante). Só que esta é a passividade de quem nunca teve o privilégio da opção. E, acreditem, há MESMO quem não tenha o privilégio da opção. Mas além de ser uma mulher, a Alice é também um país, desde o Alentejo explorado, miserável e tirano que a viu nascer, onde a desonra se faz morte, que baloiça nas árvores ao amanhecer, até uma Lisboa onde a miséria se esconde em bares, de sofás de veludo gasto, em que a noite se confunde com o dia, e a solidão se amortece em bebidas baratas, que hão de acabar, escada acima, em quartos de lençóis sujos e paredes rachadas. A miséria em que os sonhos de vida se arrancam dos ventres e se despejam, transformados numa massa informe, em baldes de lata. Mas a Alice é, também, redenção. É a força das memórias que se querem fazer outras, e se querem dizer outras e que, por isso, se hão de gritar outras. A Alice é, não uma, mas muitas mulheres que me ensinaram a humildade. E ele há lá coisa mais bonita!
Maria José da Silveira Núncio

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