24/12/2018

Opinião | As Flores Perdidas de Alice Hart | Holly Ringland | Porto Editora

Alice tem nove anos e vive num local isolado, idílico, entre o mar e os canaviais, onde as flores encantadas da mãe e as suas mensagens secretas a protegem dos monstros que vivem dentro do pai.
Quando uma enorme tragédia muda a sua vida irrevogavelmente, Alice vai viver com a avó numa quinta de cultivo de flores que é também um refúgio para mulheres sozinhas ou destroçadas pela vida. Ali, Alice passa a usar a linguagem das flores para dizer o que é demasiado difícil transmitir por palavras.
À medida que o tempo passa, os terríveis segredos da família, uma traição avassaladora e um homem que afinal não é quem parecia ser, fazem Alice perceber que algumas histórias são demasiado complexas para serem contadas através das flores. E para conquistar a liberdade que tanto deseja, Alice terá de encontrar coragem para ser a verdadeira e única dona da história mais poderosa de todas: a sua.
(Pode Conter Spoilers...)
Ora bem, este foi um livro que recebi sem sequer fazer ideia de que isso ia acontecer. Foi uma surpresa concedida pela Porto Editora e pelo responsável na comunicação com os bloggers, a quem agradeço mais uma vez.
 
Apesar de ter gostado muito de ler este livro, não consigo deixar de pensar no quanto a personalidade da Alice mudou ao longo de toda a narrativa. Um livro dividido em três partes que acompanham as várias fases da vida da pequena Alice e que nos mostram como as flores são poderosas no seu significado e na sua linguagem.
Alice era uma menina de nove anos que vivia com os pais num terreno à beira-mar plantado, cheio de flores coloridas, cuja linguagem era de grande importância. Desde logo que se percebe que Alice não era completamente feliz. Ela tinha a noção de que a sua adorada mãe era vítima de maus tratos por causa do temperamento violento e descontrolado do pai e, na sua pequena mente, elaborava uma forma de fazer com que aqueles episódios violentos acabassem e a sua mãe pudesse voltar a sorrir e a ser livre. O pai de Alice era um homem de extremos. Não concedia grandes liberdades à filha e à mulher, grávida na altura, e, nem à escola Alice podia ir. No entanto, através de algumas acções carinhosas da parte dele, notava-se que era um homem que amava descontroladamente tanto a mulher como a filha. Sempre me pareceu que era a violência e a intimidação eram as únicas formas que ele sabia usar para fazê-las entender que, se calhar, tinha medo de as perder um dia.
Depois de uma acontecimento trágico na vida da pequena Alice, que fez com que, de repente, se visse completamente sozinha, ela vai viver com a única familiar que a pode acolher, a avó paterna. Uma senhora já com alguma idade, que dirige um abrigo para mulheres que precisam de ajuda e que, ao mesmo tempo é como um templo de flores. É lá que Alice vai passar grande parte da sua infância e adolescência até tornar-se numa jovem mulher, cheia de encantos, mas muitos traumas internos.
Numa segunda fase da vida e já com mais idade, Alice vai revelar-se, pelo menos para mim, uma jovem algo tempestuosa e de humores variados. Sempre me pareceu algo "ingrata" em relação à avó que, durante tantos anos, só lhe queria dar amor. Tenho de ser sincera e admitir que gostava muito mais da pequena Alice do que da mais crescida. Era mimada e dava sempre a sensação de que tudo tinha que ser à maneira dela. 
De uma forma intensa e apaixonada, a autora guia-nos através da Austrália, acompanhando a jornada de Alice que, involuntariamente, torna-se cada vez mais imatura nas suas acções e decisões, passando até por ingénua e teimosa, tendo em conta todos os episódios violentos que assistiu entre o pai e a mãe, há muitos anos atrás. Seria de esperar que Alice se tivesse tornado numa jovem mulher de carácter forte e determinado, mas sem nunca passar por cima de quem sempre fazia de tudo para a ajudar, em vez de nos ter oferecido uma personalidade vulnerável e egoísta que fez com que nem tudo na vida lhe corresse bem, como era suposto. 
Ficava aqui horas e horas a contar o que está escrito e descrito neste livro, mas assim, qual seria a piada, certo?
Apesar de não ter sido cativada pela personalidade de Alice, adorei a história e os seus elementos. Pessoas, animais, flores, locais fantásticos e algo surrealistas que podemos encontrar na Austrália (adoroooo). Fiquei absolutamente rendida aos desenhos que podemos encontrar nas páginas que determinam cada capítulo. Lindíssimas! 
Tudo junto, dá um livro delicioso tanto para o intelecto como para os olhos, que merece ser lido por todos. Gostei imenso da escrita de Holly Ringland e fica a promessa de que a terei "debaixo de olho".

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