05/04/2017

Opinião | A Rapariga de Antes | JP Delaney

«Por favor, faça uma lista de todos os bens que considera essenciais na sua vida.»
O pedido parece estranho, até intrusivo. É a primeira pergunta de um questionário de candidatura a uma casa perfeita, a casa dos sonhos de qualquer um, acessível a muito poucos. Para as duas mulheres que respondem ao questionário, as consequências são devastadoras.

EMMA: A tentar recuperar do final traumático de um relacionamento, Emma procura um novo lugar para viver. Mas nenhum dos apartamentos que vê é acessível ou suficientemente seguro. Até que conhece a casa que fica no n.º 1 de Folgate Street. É uma obra-prima da arquitectura: desenho minimalista, pedra clara, muita luz e tectos altos. Mas existem regras. O arquitecto que projectou a casa mantém o controlo total sobre os inquilinos: não são permitidos livros, almofadas, fotografias ou objectos pessoais de qualquer tipo. O espaço está destinado a transformar o seu ocupante, e é precisamente o que faz…
JANE:Depois de uma tragédia pessoal, Jane precisa de um novo começo. Quando encontra o n.º 1 de Folgate Street, é instantaneamente atraída para o espaço —e para o seu sedutor, mas distante e enigmático, criador. É uma casa espectacular. Elegante, minimalista. Tudo nela é bom gosto e serenidade. Exactamente o lugar que Jane procurava para começar do zero e ser feliz.
Depois de se mudar, Jane sabe da morte inesperada do inquilino anterior, uma mulher semelhante a Jane em idade e aparência. Enquanto tenta descobrir o que realmente aconteceu, Jane repete involuntariamente os mesmos padrões, faz as mesmas escolhas e experimenta o mesmo terror que A Rapariga de Antes.

Este é o livro de que toda a gente fala e, a partir de hoje está já disponível nas livrarias. Não me admira nada que toda a gente aguardasse com ansiedade a publicação deste livro. Como toda a gente que segue o Sinfonia já se apercebeu, apesar de ler policiais e thrillers, estes não são bem a minha onda, embora caso conseguisse ler mais livros destes pudesse mudar de opinião em relação a isso. Fiquei completamente absorvida pela história desde as primeiras páginas e ávida por saber sempre mais e mais o que de facto tinha acontecido a Emma e o que iria acontecer com Jane.
Devo dizer que, só por si, a casa é absolutamente fantástica, embora não me consega imaginar a viver nela com tantas regras e imposições. Viver numa casa high-tech mas sem os meus livros? Nem pensar. Só esta regra bastaria para desistir de lá viver, muito embora a casa seja de cair o queixo. Manter a arrumação? Sim, sim... como se fosse possível. Viver sem animais? Nem pensar. Mas, e é aí que reside o poder da n.º 1 de Folgate Street. é uma casa que molda os seus habitantes, os quais são escolhidos a dedo através de um minucioso processo de selecção, composto por um questionário extenso e com perguntas pessoais e intrusivas à intimidade de cada pessoa que se candidata a lá viver. Emma e Jane, em alturas distintas, foram duas das candidatas que se sujeitaram a esse questionário e foram seleccionadas. Emma, saída de uma situação traumática procura uma casa que lhe proporcione a segurança de que ela precisa. Precisa que o presente e o futuro sejam uma promessa de conforto e segurança, nem que para isso tenha de ser moldada por uma casa concebida por um arquitecto perfeccionista e minimalista, controlador e um pouco louco. É quando Emma conhece Edward, o arquitecto louco, que começam as peripécias e as situações estranhas. Coisas que Emma nunca pensou que seria capaz de fazer. são, afinal de contas, tudo aquilo que ela queria e precisava fazer. A meu ver, Emma é uma mulher com pouca personalidade. Foi a única personagem que, estranhamente, não senti qualquer empatia. É um pouco manipuladora e aproveita-se da bondade dos outros para se sentir bem e todas as suas acções, embora não tenham sido premeditadas, acabariam eventualmente por acabar mal.
Quanto a Jane, é uma personagem com a qual consegui ter alguma proximidade. É solteira e acaba, também ela, de sair de uma situação dolorosa a traumática. Sendo assim, nada melhor do que mudar de casa e procurar outra em que se consiga esquecer de tudo o que passou até à data. Quando é apresentada à n.º 1 de Folgate Street, não tem dúvida de que tem de conseguir ser aceite para tomar conta da casa e embarca num rol de situações que em nada lhe deram a serenidade e a paz que ela precisava depois de tudo o que havia passado. Também ela conhece Edward pessoalmente e, talvez por ser tão parecida com Emma, a antiga inquilina, ela toma consciência do que aconteceu no passado naquela casa e pretende descobrir o que se passou ao certo e o que tem vindo a acontecer desde que mora naquela casa.

Esta é uma história tão bem elaborada e tão bem escrita que é absolutamente impossível não nos sentirmos com aquele frenesim da expectativa até ao final quando descobrimos, finalmente, tudo aconteceu e como todas as personagens acabam por ser suspeitas e estão, intrinsecamente ligadas umas às outras.

Por incrível que possa parecer a quem já leu este livro, gostei do Edward. é um homem determinado, marcado, também ele, pela dor e pela perda e, como tal, molda-se de modo a que não volte a passar novamente por isso. É apaixonado quando tem de ser e não deixa os seus dotes de homem intenso e sedutor por mãos alheias. É atraente quanto baste e emana uma aura de controle e poder que, acredito, tenha chamado a atenção tanto de Emma como de Jane, cada uma à sua maneira.

Gostaria eu de ler mais histórias destas e, quem sabe, eu não seria definitivamente "colhida" por este género de livro? Nunca se sabe :)


(Este exemplar foi gentilmente cedido pela Editora Suma de Letras em troca de uma opinião sincera)

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