03/04/2017

Opinião | As Sombras da Dúvida | Tom Rob Smith

Com um telefonema, tudo muda. «A tua mãe não está bem», diz o pai a Daniel. «Tem andado a imaginar coisas. Coisas terríveis… Teve um esgotamento psicótico e foi internada num hospital psiquiátrico.»
Confrontado com esta notícia, Daniel prepara-se para partir apressadamente para a Suécia, no primeiro voo disponível. Contudo, antes de entrar no avião, o pai volta a ligar-lhe, com notícias ainda mais preocupantes: a mãe teve alta do hospital, e ele não sabe onde ela está.
Entretanto, Daniel recebe uma chamada da mãe: «De certeza que o teu pai já falou contigo. Tudo o que esse homem te disse é mentira. Não estou louca. Não preciso de um médico. Preciso da Polícia. Estou prestes a embarcar para Londres. Vai ter comigo.»
Sem saber em quem acreditar ou confiar, Daniel vê-se relutantemente no papel de juiz e júri da sua mãe, quando ela lhe revela uma história angustiante de segredos e mentiras, e de um crime e de uma conspiração terríveis, nos quais o seu próprio pai está envolvido.
GoodReads
A primeira impressão que tive deste livro quando li a sinopse foi de que seria uma leitura agradável e cheia de suspense típico deste género literário. Contudo, não poderei afirmar que tenha sido isso mesmo. A narrativa tem alguns pontos interessantes, mas no final achei que a história poderia ter tido outro ênfase.
Daniel vive em Londres com o seu companheiro. Já não se vê na companhia dos seus pais, uma vez que rumaram de volta à Suécia depois de terem perdido o seu ganha pão e o dinheiro que tinham devido à crise que abalou o país. Tilde, mãe de Daniel, sempre manteve um contacto frequente entre ambos através de correio eletrónico. Inicialmente, eram frequentes as vezes que ambos trocavam mensagens. No entanto, com o passar do tempo torna-se frequente que este contacto se comece a desvanecer. E foi exactamente isso que Daniel pensou. Pelo menos, até ter recebido um telefonema de Chris, o seu pai, dizendo que Tilde tinha saído do hospital psiquiátrico onde tinha sido internada e, neste momento, não sabia do seu paradeiro.
Imediatamente após o telefonema de Chris, Daniel recebe um telefonema de Tilde. Esta afirma que o seu pai lhe quer fazer mal e que Daniel não deve acreditar numa palavra que ouviu. Tilde irá viajar até Londres onde contará a Daniel tudo o que se passa e espera que este a ajude.
Daniel vê-se numa encruzilhada. Deve ele acreditar em Chris ou em Tilde?
A verdade é que a ideia da história até é interessante. A forma como Tilde vai contando a sua versão da história ao longo do livro é contagiante, mas chega a um certo ponto em que as descrições de Tilde se tornaram demasiado pormenorizadas e arrastadas, quase parecendo um monólogo. Não quero com isto dizer que a história de Tilde não seja importante. Mas senti falta de uma maior interacção entre as personagens.
O desenrolar da história em si sempre pareceu que iria culminar num daqueles desfechos dos típicos thrillers nórdicos: sombrios e cruéis. Mas a verdade é que não foi bem assim. Como apenas sabemos/lemos a versão da história de Tilde, somos quase que forçados a acreditar num enredo muito específico.
Mas será que Tilde estará mesmo tão mal mentalmente que necessite de ser admitida num hospital psiquiátrico ou terá realmente acontecido algo que a terá afectado profundamente?
A verdade é que lá para o final do livro, sabemos que Daniel viaja sozinho para a Suécia em busca de respostas concretas e verdadeiras para tudo aquilo que Tilde lhe contou. As descobertas que faz são surpreendentes. Não estava de todo à espera de ver um desfecho tão sombrio e marcante quanto este. Porque, depois, percebe-se perfeitamente todos os pormenores da história de Tilde.
Apesar do culminar fervilhante de toda a narrativa, achei que toda a história até então se arrastou um pouco. E, o facto de se ter lido tantos capítulos descritivos de Tilde, fez com que o final tivesse ficado algo ofuscado. Foi por esta razão que dei apenas 3,5 estrelas. Gostaria de ter visto algo diferente no desenrolar do enredo e não apenas um “monólogo” da mãe de Daniel. Até porque, como disse, a sinopse teria muitos frutos para dar!
(Este livro foi gentilmente cedido pela Marcador em troca de uma opinião sincera)

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