22/10/2015

Opinião "Peregrino" (ARC) de Terry Hayes

Uma corrida vertiginosa contra o tempo e um inimigo implacável.
Uma jovem mulher brutalmente assassinada num hotel barato de Manhattan.
Um pai decapitado em praça pública sob o sol escaldante da Arábia Saudita.
Os olhos de um homem roubados do seu corpo ainda vivo.
Restos humanos ardendo em fogo lento na montanha de uma cordilheira no Afeganistão.
Uma conspiração para levar a cabo um crime terrível contra a Humanidade.
E um único homem para descobrir o ponto preciso onde estas histórias se cruzam: Peregrino.


Como podem ver, este não é a versão que vos irá parar às mãos quando for colocado à venda no dia 26 de Outubro. Mais uma vez, fui uma das escolhidas pela TopSeller para receber um exemplar de avanço de um livro que, confesso, me meteu algum medo começar a ler. Tinha medo que por não ser um género especialmente apreciado por mim, não conseguisse chegar ao fim nas datas previstas (antes do lançamento) ou que fosse demasiado confuso. Por isso optei por colocar uma meta diária de páginas, de modo a não dispersar.
No entanto, e felizmente, estava enganada. Admito que apesar do livro começar de uma maneira intensa, foi-me muito difícil passar das 100 primeiras páginas. Muita informação, muita densidade ficcional sobre acontecimentos que de facto se verificaram na vida real. O fatídico 11 de Setembro, o aparecimento de Osama Bin Laden na vida dos americanos e na do mundo inteiro, bio-terrorismo e um rol de informações que tinham de ser "estudadas" pelo leitor, neste caso por mim, para tentar perceber até que ponto a ficção se misturava com a realidade. Era normal que levasse mais tempo do que o habitual.

Como é sabido, Terry Hayes vem do mundo cinematográfico e com estas aptidões  de cinema, arranjou maneira de descrever todas as cenas de modo a que quem esteja a ler consiga mesmo visualizar a cena. Tudo é descrito ao mais pequeno pormenor não ficando nada esquecido. O modo como os crimes são cometidos, as técnicas, a forma como tudo se desenrola a partir do primeiro crime é absolutamente brutal. É incrível apercebermos-nos de como todos os crimes cometidos, todos os passos e todas as personagens, fossem elas do mesmo país ou não, estão intrinsecamente ligadas umas às outras, desde a personagem mais nova à mais velha. Fenomenal.

É óbvio que o autor tem uma bagagem incrível a nível de conhecimentos policiais e criminais. Tudo está pensado e incrível como não há um único momento em que possamos pensar "que treta, isto não pode ter acontecido assim". Posso estar a repetir-me, mas é tudo descrito de uma forma tão crua e tão detalhada que é completamente impossível não termos a percepção de como tudo ia acontecendo.

Se de um lado temos a versão do Bem assumido pelo nosso narrador Peregrino, do outro lado temos a personificação do Mal através da personagem Sarraceno. É a eterna luta entre o Bem e o Mal, na qual ambos lutam diariamente sem sequer se conhecerem. Através de tácticas de Guerra e de espionagem adquiridas ao longo da vida tanto por um como pelo outro. Duas figuras com uma inteligência e coragem fora do normal. Cada um deles com os seus motivos e os seus princípios. Cada um deles diferente um do outro, mas ao mesmo tempo parecidos nas suas maneiras de pensar, de agir e de reagir face às adversidades e às situações que se lhes apresentava de repente. Duas personagens que conferem às 655 páginas deste livro uma intensidade tão grande que muitas vezes dava por mim com a respiração suspensa. Estava deserta que eles se encontrassem, tenho de admitir.

Para além de ser um livro surpreendente a nível de acção e de suspense, Terry Hayes confere às duas personagens principais uma espiritualidade muito fortes. Não foram poucas as citações que fui demarcando ao longo do livro, pequenas delícias, algumas repletas de humor negro, que me foram cativando todas as vezes que pegava no livro para avançar mais um pouco.

"(...) Se queres ser livre, tudo o que tens que fazer é largar.(...)"
Pág. 63

"(...) Se estás enfiado na merda até ao pescoço, faças o que fizeres, não levantes ondas.(...)"
Pág. 223

Quando leio um livro gosto de ser agarrada logo de início, o que, como já disse, não aconteceu neste livro, mas é gratificante poder dizer que fui sendo agarrada ao longo da narrativa e que no final estava completamente rendida. Se nas primeiras cem páginas foi uma leitura lenta, nas últimas cem foi algo do outro mundo. Eu simplesmente não conseguia deixar de ler e confesso que no fim fiquei triste por ter terminado. Queria mais do Peregrino e queria mais do Sarraceno, mas dos dois juntos, cara a cara. Precisava de saber o que aconteceu ao Peregrino quando tudo chegou ao fim. Será que ele retirou-se do mundo da espionagem? Será que conseguiu encontrar a mulher da sua vida? Teve filhos? Morreu velho? Fica um vazio enorme e foi por isso que não dei as cinco estrelas. A estrela que falta? Fica no vazio por preencher.

Obrigada à Top Seller por me ter dado a oportunidade de ler um livro com esta qualidade e obrigada por me mostrarem que é possível gostar-se de policiais se forem realmente bons :)




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