23/11/2016

Opinião | A Magia do Acaso | Tiago Rebelo

Sofia, secretária num escritório de um famoso advogado, casada com André, um bem-sucedido administrador de uma empresa do ramo imobiliário, e eterna sonhadora, sente-se insatisfeita com a confortável vida que leva. Num encontro improvável conhece Bernardo, um fascinante homem de negócios. Apesar do charme inebriante deste e da inesperada atracção que sente não se decide a pôr em causa o seu casamento. Mas um acontecimento inesperado encarregar-se-á de fazer tremer os pilares da vida monótona que hesita em deixar. Após inúmeros encontros e desencontros, peripécias e reviravoltas, Sofia consegue finalmente fazer uma ruptura total com a vida que levou até aqui, virar a página e entregar-se por completo a Bernardo. Os sonhos e a magia do acaso vencem sempre.
Já andava curiosa com este autor há muito tempo. De todos os seus livros, já ouvi falar muito bem. Da sua escrita coerente e simples, com o poder de nos transportar a um certo momento e a um certo lugar. Não podia ter ficado mais encantada por saber que temos mais um bom autor nacional. É sempre gratificante termos conhecimento de que, afinal, em Portugal escreve-se bem e que não contamos só com livros traduzidos.
À medida que ia avançando no livro, sentia um prazer especial e quase caloroso por saber que as personagens andavam, moravam e trabalhavam em sítios que me são conhecidos. Chiado, Rossio, Estação do Metro, Campolide, Campo D'Ourique, entre tantos outros. Ter essa noção tão grande do espaço onde as personagens interagiam dá sempre aquele sentimento especial.
Então, este livro relata-nos os encontros e desencontros entre as várias personagens envolvidas. Sofia é a esposa insatisfeita de André, que por sua vez tem alguns encontros "ocasionais" com Margarida sua colega de trabalho. Por sua vez, temos Bernardo que acaba de se separar de Filipa (Pipa) que conhece Tomé, o patrão de Sofia que, a certa altura, na sua insatisfação com o seu casamento, conhece Bernardo. Ora, parece uma grande confusão, mas de facto, o que acontece é mesmo culpa da magia do acaso. Numa altura em que Sofia questionava a felicidade no seu casamento, em que se sente menos mulher e menos atraente, cruza-se num momento fugaz com o bem parecido Bernardo. Apenas com um sorriso bem intencionado, Bernardo confere a Sofia a vontade de se cuidar novamente, de se sentir bem consigo própria e consequentemente com os demais. É nesta altura em que Sofia se sente com forças para melhorar as coisas no seu casamento que descobre as traições de André. O seu André, que sempre pareceu ser um homem sério e responsável. Era de se esperar que Sofia, apesar de se sentir culpada por sentir uma forte atração por Bernardo, não iria perdoar André. E assim, eles separaram-se e André, habituado a não estar sozinho acomoda-se a uma relação indesejada com Margarida, entretanto grávida. Desde a altura em que Sofia pede o divórcio a André foi sempre a descer para ele. Bebida, mulheres, noitadas e até droga. Não é preciso pensar muito para chegar à conclusão que, caso ele não tome uma decisão, vai acabar muito mal.
Por sua vez, Bernardo, um homem de negócios que luta para não cair na miséria, luta internamente com a indecisão de um amor complicado com Pipa ou uma relação com Sofia, fundada com alguns alicerces fracos, baseados na desconfiança, insegurança e medo do futuro. 
Entre muitos desencontros, estas personagens, ultrapassam muitos conflitos pessoais. A luta de quem quer ser mais e melhor, a luta de quem quer ser amado e amar, a luta de quem quer vencer e ser reconhecido entre os demais. 
De uma maneira absolutamente magistral, Tiago Rebelo ensina-nos que o acaso, por vezes, tem a magia de nos levantar da lama e lutar pelo que nos faz feliz. O acaso, muitas vezes, ajuda os mais inseguros. Um sorriso, um "passar bem", um sinal qualquer de que podemos ser mais e melhor do que nos sentimos. 
Esta história, prova-nos também que quem espera sempre alcança e, todas estas personagens, Sofia, André, Bernardo, Margarida e Pipa, encontrarão o seu lugar no mundo, e no coração da pessoa certa.

Adorei a escrita de Tiago Rebelo. Tão simples, tão portuguesa, tão nossa. 
(Este exemplar foi gentilmente cedido pelas Edições Asa em troca de uma opinião sincera)

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