23/05/2016

Opinião | A Linguagem Secreta das Irmãs | Luanne Rice

Quando Ruth Ann (Roo) McCabe, ao volante do seu carro, responde a uma mensagem de texto, no telefone, a sua vida, tal como era até então, termina. O carro capota e Roo acaba numa cama de hospital, paralisada. Silenciosa. Todos pensam que está em coma, mas Roo tem síndrome de encarceramento –consegue ver, ouvir e compreender tudo à sua volta, mas ninguém sabe. Mathilda (Tilly) é a irmã de Roo e a sua melhor amiga. Foi ela quem enviou a mensagem de texto a Roo e, inadvertidamente, causou o acidente. Tilly tem agora de lidar com a sua culpa avassaladora e com os seus sentimentos crescentes pelo namorado de Roo, Newton –a única pessoa que parece perceber aquilo que Tilly está a passar.
Mas Tilly pode ser a única pessoa capaz de resolver o mistério da situação da sua irmã –aquela que consegue ver a verdade através do silêncio de Roo.
Quando peguei neste livro para ler, fi-lo com toda a determinação de quem quer ler algo um pouco diferente do habitual. No entanto, e apesar de já ter ouvido falar muito de Luanne Rice, eis que me deparo com uma história de cortar o coração e suster a respiração em muitos momentos. Como hei-de colocar em palavras, de uma maneira que não caia no erro de vos *spoilar*, o que este livro me transmitiu? Não vai ser tarefa fácil, digo-vos desde já. 
Ora bem, de um lado temos a Roo, a menina querida de toda a família. Bonita, inteligente, simpática e uma artista com uma sensibilidade e talento enormes. Tem ainda dezasseis anos e por ser tão inteligente, pretende candidatar-se um ano antes a uma Universidade de topo. Por outro lado, temos a pequena Tilly, irmã mais nova de Roo. Tem catorze anos e de uma maneira ou de outra, muitas vezes sente-se o "patinho feio" da casa. Não é tão luminosa como Roo, não tem a mesma beleza cativante nem a inteligência da irmã. Contudo, e apesar da diferença de idades, são duas irmãs que se adoram e que se complementam de todas as maneiras. Entendem-se uma à outra mesmo sem ser preciso falar. 
Gostei imenso da cumplicidade entre elas que sempre se fez notar desde a primeira página até ao final, ainda que tenham surgido alguns percalços ao longo do caminho, muito por causa da situação dramática e angustiante que todas as personagens passaram, principalmente Roo. De um momento para o outro, vê-se presa no seu próprio corpo e sem qualquer esperança de que um dia alguém se apercebesse que ela estava acordada dentro daquele corpo.
Tilly, por sua vez, estava como que amarrada à culpa que sentia pelo que tinha acontecido à irmã. Afinal de contas, tinha sido ela que tinha enviado as mensagens de texto para Roo, ainda que não soubesse que esta estava a conduzir.
Embora Roo seja a mana que mais se destaca das duas, a meu ver é Tilly que passa pela maior transformação. Achei as duas muito crescidas para a idade que têm. Sentimentos muito profundos para uns tenros dezasseis e catorze anos e no final de tudo, ainda estavam mais crescidas e mais maduras. Geralmente situações traumáticas e difíceis fazem isso às pessoas. Fazem-nas crescer mais depressa. Gostei imenso do Slater, o colega de Tilly que a ajuda a ultrapassar todas as más situações que ela vai passando ao longo dos dias em que Roo a afasta por uma outra outra razão. Slater é o tipo de rapaz que cativa desde o principio. É compreensivo, trabalhador e sincero no que diz, assim como Newton, o namorado "nerd" de Roo, que a cada dia que passa sente-se mais afastado da vida de Roo. Até que sai do torpor em que se tinha metido e arranja forma de se aproximar ainda mais dela e fazer com que ela veja que eles foram feitos um para o outro.
O Síndrome de Encarceramento existe de facto, na vida real, e é algo tão, mas tão angustiante que chega a doer. O bom de tudo isto é ter a noção de que é algo raro de se encontrar.
Ao longo deste livro os sentimentos de desespero, angústia e sofrimento são tão fortes que era impossível para mim não me colocar nas posições de cada uma das personagens. Luanne Rice criou personagens deveras fantásticas e intensas. Apesar de muito jovens ainda, conseguem transmitir-nos muitas lições de vida e mostrar-nos que nem nada, nem ninguém consegue ultrapassar a ligação de duas irmãs (neste caso). 
Vou, com toda a certeza, estar mais atenta aos livros desta autora que me impressionou muito pela sua forma directa e, ao mesmo tempo, suave de escrever.
(Este exemplar foi gentilmente cedido pela Marcador em troca de uma opinião sincera)

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