17/08/2016

Opinião | O Brilho Azul das Estrelas | Laura Pritchett

A demanda de um homem para corrigir o passado.
Ben e a sua mulher vivem num rancho próximo das Montanhas Rochosas, no Colorado. Ben é ainda um homem activo e pleno de vida, quando lhe é diagnosticada a doença de Alzheimer. Ao perceber o avanço desta, começa a sentir que é um fardo para a mulher e que não lhe resta muito tempo de consciência.
A juntar a isto, o passado trágico da família regressa com toda a violência após a libertação de Ray, o marido da sua falecida filha Rachel, que estava preso a cumprir pena pelo seu homicídio. Motivado pelo desejo de vingança, Ben decide corrigir o que está mal e levar avante um último gesto de amor e justiça pela sua família.
Com uma sinceridade arrebatadora, O Brilho Azul das Estrelas oferece-nos uma história notável de dedicação e coragem, provando-nos que o amor sobrevive ao adeus.
O tema deste livro é assim um pouco difícil e complicado de abordar, uma vez que fala de uma doença que nos dias de hoje está a tornar-se cada vez mais frequente. Quando falamos com alguém que já não vemos há algum tempo e perguntamos: "Então como está a família?" e a resposta, eventualmente, acaba por ser "Está tudo bem, tirando o meu pai a quem foi diagnosticado Alzheimer.". Quantos de nós já não se pôs a pensar "E se um dia eu sofrer de Alzheimer? Quem cuidará de mim com a paciência e amor suficientes?"
O que muita gente não sabe é que tanto sofre o doente como as pessoas que o cercam. Esposas, filhos, netos, maridos, sobrinhos... não é só o doente que é afectado. Todos à sua volta sofrem um forte abalo nas suas vidas e este livro é um espelho do que muitas vezes se passa. As pessoas mais chegadas ao doente são quem mais sofrem, porque de uma maneira ou de outra, o doente vai esquecendo de cada vez que se lembra de alguma coisa, esquece-se das dores que passou no dia anterior, esquece-se da frustração e raiva que se sente quando não se lembra sequer de como os seus filhos se chamam, ou se até os têm. No final das contas, quando uma pessoa recebe esse diagnóstico não é apenas a vida dessa pessoa que muda.
Neste livro, tenho de dizer que Ben, apesar da doença e de tudo o que ela implica, conseguia ser o mais consistente. Sabia que doença tinha e o que ela provocava. Sabia que a cada dia que passava ele ia esquecer-se até de quem era. Sabia que tinha de "consertar" algo que no passado ele não conseguiu evitar devido à sua própria inércia. Ben perdeu uma das suas filhas porque não foi rápido o suficiente para evitar que ela levasse um tiro do próprio marido. Pelo menos, isso é o que ele pensa. A culpa corroí-lhe o pensamento e a alma até que lhe é diagnosticado Alzheimer. A partir daí, a vida dele, de Renny, dos seus netos e da sua filha muda por completo. Renny torna-se uma mulher ainda mais dura e agressiva no que a ele diz respeito. Não tem a paciência necessária para lidar com uma doença assim, não tem a calma suficiente para lidar com o próprio marido. Se por um lado,é compreensível que ela se sinta assim, cansada e saturada, por outro lado, acho inadmissível que a esposa de uma vida se ressinta assim tanto contra o marido que culpa nenhuma tem de ter essa doença e que se mostre ser uma pessoa tão egoísta e tão cruel. Ainda que não lhe dissesse metade do que lhe ia na alma, nós leitores temos acesso a todos os pensamentos pouco amorosos e aos seus desabafos interiores. Acho que Renny é uma personagem muito difícil de ser apreciada, mesmo todos nós sabendo que ela ama o marido. Por incrível que possa parecer, a personagem que gostei mais foi da neta mais velha de Ben. Muito calada, observadora e estranha à sua maneira. Embora passe despercebida, é uma personagem que acaba por ser aquela que mais se parece com o avô e que mais o apoia, mesmo em silêncio. É filha de Rachel, a filha assassinada de Ben. Aquela que sempre lhe vem ao pensamento e que sempre lhe dá a sensação de que antes de partir deste mundo, tem de colocar os pesos nas balanças correctas.
Uma história que nos ensina que, apesar de tudo o que de mal a doença de Alzheimer contempla, há sempre uma alma que sofre em silêncio e que precisa de nós, do nosso apoio, do nosso carinho e da nossa paciência. Um livro com uma carga emocional e dramática muito forte que nos ensina que nem sempre precisamos de viver para fazer o que é certo.
Recomendo.
(Este exemplar foi gentilmente cedido pela TopSeller em troca de uma opinião sincera)

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