Pelos quatro cantos do mundo, marcas de mãos negras começam a aparecer nas portas, gravadas a fogo por estranhos seres alados, saídos de uma fenda no céu.
Numa loja escura e empoeirada, o abastecimento de dentes humanos de um demónio começa a ficar perigosamente reduzido. E nas ruelas labirínticas de Praga, uma jovem está prestes a embarcar numa jornada sem retorno.
O seu nome é Karou. Karou não sabe quem é, nem porque vive dividida entre o mundo humano e a sua família de demónios, mas crê que as respostas podem estar para lá de uma porta nos recantos sombrios de uma loja, ou no confronto com um completo desconhecido, de olhar abrasador e aparência divina - o anjo que queimou as entradas para o seu mundo, deixando-a só.
Sabem aquela sensação de abandono que se sente quando acabamos um livro que simplesmente adoramos? Pois.... é exactamente assim que me sinto neste momento.
A verdade é que poderia ter acabado a leitura deste livro em dois tempos, mas a vontade de prolongar o prazer de o ler foi mais forte e acabei por optar em lê-lo mais lentamente, um pouquinho de cada vez. Soube-me tão bem.
Conhecer a história da Karou (só por ter cabelo azul ganhou pontos) e de Akiva foi simplesmente... *Delicioso*.
Quimeras. Serafins. Luz e Escuridão! Sol e Lua!
Quando pensamos que já lemos de tudo, eis que aparece algo de surpreendente. Quem se lembraria de escrever sobre Quimeras e Serafins? Pelos vistos, Laini Taylor lembrou-se, e fê-lo de uma forma soberba.
Acho que não tenho o direito de vos contar o que realmente acontece neste primeiro volume da Trilogia "Entre Mundos", que a Porto Editora tão sobejamente começou a publicar em Portugal (bendita a hora).
Posso, contudo, falar-vos nas personagens.
Mas como? Como vos posso passar tudo o que apreendi sobre Karou, a miúda de cabelo azul e tatuagens estranhas nas mãos? Akiva, o Serafim que se deixa levar pelo passado até ao presente e pelo desejo da paz e amor condena o seu próprio futuro? O que dizer da valente Zuzana, melhor amiga de Karou, que mesmo sendo humana, aceita de coração e mente aquilo que a amiga é. Um Ser completamente estranho e sobrenatural? Era bom que Karou fosse apenas isso. Karou é um poço de surpresas. Encerra em si um passado não assim tão distante que lhe vai mudar para sempre. Adorei o facto de Issa, uma das quimeras que criou Karou, ser metade mulher, metade cobra e o seu feitio maravilhoso de lidar com os trastes que apareciam pela loja de Brimstone. E por falar em Brimstone. Quem pensar que ele é uma criatura vil e sem coração, vai surpreender-se imenso nas últimas páginas. Sem ele, Karou não existiria com certeza e através de meias palavras vai incutir em Karou toda a sabedoria e toda a esperança que um dia fez parte dos desejos de todas as quimeras e serafins. Pois é que, estas duas raças eram inimigas e o grande "mal" tinha acontecido ainda antes de Karou aparecer. Quando Akiva, serafim, apaixona-se por Madrigal, quimera, metade mulher, metade gazela. De que forma estão Madrigal e Akiva ligados a Karou, uma jovem de dezassete anos residente em Praga e que apesar de ser estranha, só quer encontrar o amor?
Através de descrições fantásticas de Eretz (o outro mundo, onde estão serafins e quimeras em guerra constante) ficamos a conhecer muitas mais personagens. Thiago a quimera Lobo que um dia quis casar com Madrigal (e que é detestável). Os dois irmãos de Akiva, Hazaael e Liraz, e... Razgut. O Serafim caído e horrendo, a quem as asas foram decepadas assim como os membros inferiores fazendo com que ele se arraste, que de um modo egoísta oferece-se para ajudar Karou a encontrar a sua família de quimeras, desaparecidas no meio de uma guerra que a maioria dos envolvidos queria terminar.
É um livro tão envolvente e tão fantástico que praticamente nos vemos envolvidos em tudo o que acontece, bom ou mau.
Laini Taylor agarrou-me desde a primeira página por escrever de uma maneira atraente e cativante. Sem ser demasiado "lamechas" nas partes amorosas, sem ser demasiado crua nas partes menos boas. Tem uma maneira de descrever os sentimentos, acções, momentos e espaços que nos leva a imaginar que estamos mesmo lá, na acção, naquele momento. As lutas: Fantásticas! Cheias de movimentos, intensidade e apaixonantes!
Estaria aqui todo o dia a escrever sobre este livro, esta história, mas tiraria a vocês, leitores, o prazer da descoberta, da surpresa.
Não esperem mais e por favor leiam!
Obrigada à Porto Editora a oportunidade que me deu e a todos os leitores de terem acesso a um livro destes. Aguardo ansiosa pelo segundo volume!