18/12/2024

Opinião | O Fabricante de Lágrimas | Erin Doom | Planeta


SINOPSE
Entre as paredes do orfanato onde Nica cresceu, histórias e lendas sempre foram contadas à luz das velas. A mais famosa de todas é a do Fabricante de Lágrimas, um misterioso artesão, com olhos claros como vidro, uma figura aterradora que forja todos os medos que habitam no coração das pessoas.Quando, aos dezassete anos Nica, é adotada pelo casal Mulligan, pensa que está a deixar para trás este mundo de contos de fadas sombrios, mas os Mulligans também adotam Rigel, um órfão inquieto e misterioso, e ele é a última pessoa que Nica desejaria como irmão adotivo. Rigel é inteligente, incrivelmente bonito, mas a sua aparência angelical esconde um temperamento problemático e sombrio.
Embora os dois partilhem um passado comum, viver juntos parece impossível. Especialmente quando a lenda reaparece nas suas vidas e o Fabricante de Lágrimas torna-se subitamente cada vez mais real. Nica, doce e corajosa, está disposta a tudo para defender o seu sonho, porque só se tiver a coragem de enfrentar os pesadelos que a atormentam é que poderá finalmente voar livremente como a borboleta que leva o seu nome.

OPINIÃO
🌟🌟🌟🌟🌟
Acho que as palavras certas para descrever este livro e esta história são: Delicadeza e Sensibilidade.
É a primeira vez que leio algo desta autora e se, no início, custou-me um pouco a habituar à forma como ela escreve, quase de forma poética, assim que fui continuando a ler, aquela maneira de mergulhar no intímo da alma humana e a forma como ela combina o bom e o mau da condição humana acabou por deixar-me fascinada.

Esta é a história de Nica e de Rigel. Dois seres tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais que seria impossível ficarmos indiferentes a eles e a tudo o que se passa com eles e entre eles. São ambos personagens verdadeiramente complexas. Ele mais do que ela, é certo, mas ela não deixa de ter aquela complexidade que nos deixa sempre a pensar em que, apesar de tudo, seria bom que todas as pessoas fossem genuinamente boas de coração, apesar de, em algumas alturas da vida se poderem sentir mais injustiçadas ou passadas para trás. Nica é assim. É uma miúda que cresceu na violência de um orfanato, debaixo das mãos violentas de uma cuidadora que nada mais queria a não ser lucrar com os pequenos orfãs que lhe caíam nas mãos. Nica é uma cuidadora. Cuida e quer proteger todos os que sente que precisam de um aconchego ou de ajuda, ainda que tenha medo da maioria das pessoas e dos animais que ajuda.
No que diz respeito a Rigel, não posso dizer que o adorei. Embora compreenda tudo o que o atormenta, acabo por ter alguma dificuldade em lidar com a forma como ele trata Nica. É de uma violência emocional brutal que acaba por mexer com o psicológico de qualquer um. Acabamos por sentir empatia com ele a partir da altura em que temos mesmo pleno conhecimento daquilo que o atormenta desde muito pequeno. Era o único que não sofria a violência que era imposta aos demais meninos do orfanato, mas não foi por isso que se sentiu menos agredido. É frio e cruel até dizer chega, mas dentro do seu coração está uma ternura e um amor imenso por aquela que sempre amou desde que a viu pela primeira vez, aos cinco anos de idade.

Adorei a delicadeza dos pormenores que Erin Doom emprega neste livro. Não sei se é o tipo de escrita a que ela recorrerá em todos os seus livros ou se foi o tipo de escrita que achou mais adequada para nos contar a história de Nica e Rigel. Acertou em cheio. Admito que estava um pouco receosa em ler este livro, por muitas razões... já tinha lido que era muito grande, era muito repetitivo, era chato e lento, etc etc... no entanto, embora seja grande e algo lento em muitas partes, é um livro que nos agarra mesmo nessas partes menos apelativas. Será pelas personagens? Será pela escrita? Será pelo enredo que envolve toda a história do temível Fabricante de Lágrimas que habitava os sonhos e pesadelos de todos os meninos orfãs?
Gosto de pensar que sou uma pessoa moldável ao tipo de livro a que me proponho ler e este foi mais uma prova disso mesmo. Adaptei-me a este livro, a este tipo de escrita meio antiquada (há quem diga que é uma escrita presunçosa e arrogante) e tão cuidada, a esta forma de descrever todos os pormenores, a uma delicadeza incrível de nos transportar para a manta de sentimentos que o Ser Humano carrega dentro de si e, no final, não pude ficar nada mais a não ser feliz e arrebatada por ter dado uma oportunidade a este livro.
Adorei as personagens, adorei conhecer o passado delas e o que as movia. A emoção que cada uma carrega dentro de si e a forma como sempre arranjam uma forma de passarem por cima dos sentimentos menos bons que as destroem e abrem o coração e a alma a algo de bom que, com certeza, chegará.

Li este livro em inícios de Julho, mas só agora me senti preparada para falar sobre ele. No entanto, sinto que me fica sempre algo importante por dizer.

Ainda não vi o filme e, sinceramente, não sei se o farei. Acho que prefiro ficar com as sensações que o livro me deu.
Opinião também publicada em:


14/08/2024

Opinião | Corte de Asas e Ruínas | Sarah J. Maas | Marcador

 
De regresso à Corte da Primavera, longe do seu verdadeiro amor, o Grande Senhor da Corte da Noite, Feyre está determinada a descobrir os planos de Tamlin e a recolher informações sobre o rei que ameaça destruir Prythian.

Para tal, é forçada a entrar num perigoso jogo de intrigas e mentiras. Um pequeno deslize poderá ser fatal para Feyre e para todos aqueles que ama.
Com a guerra prestes a começar, Feyre e Rhysand têm de decidir em quem podem confiar e procurar aliados nos lugares mais improváveis.
Neste emocionante terceiro livro da série Corte de Espinhos e Rosas, a terra tinge-se de vermelho enquanto os poderosos exércitos lutam pela única coisa que poderá destruí-los a todos.



Terceiro livro da saga “Corte de Espinhos e Rosas” e, de longe, o melhor dos três primeiros. Há quem divida a saga e coloque os primeiros três como se fosse uma trilogia e os restantes, como se fossem uma espécie de acrescentos à história.
Ora, como referi, para mim este foi o melhor dos três que li até agora! Tem emoção (como a autora já nos habituou), tem partes com  humor à mistura, tem acção e muita paixão envolvida. Não só falo da paixão entre Rhys e Feyre, bem patente em qualquer interacção dos dois, como também da paixão de todos uns pelos outros e pela Corte da Noite. 
Foi aquele que me fez o coração palpitar com algumas emoções que não podiam ficar reprimidas e aquele que me fez gostar um pouquinho mais da Feyre. Embora ela sempre sido uma mulher valente e destemida, acho que sempre andou muito na sombra de Tamlin e Lucien no primeiro livro, e de Rhys no segundo. Neste terceiro. apenas ela poderá quebrar as maldições que ambos os seus povos sofrem há bastnate tempo e poderá combater as forças maquiavélicas de Hybern. Se vai conseguir fazê-lo sozinha? Claro que não! Ninguém consegue ir muito longe se não estiver acompanhado de quem mais confia e quem mais ama. 
Maldições serão quebradas, corações ficarão partidos e irremediavelmente inconsoláveis, mas teremos sempre muita luta, muita convicção e muita entrega da parte dos nossos guerreiros.

Numa fase em que tudo o que é preciso é combater as enormes forças de Hybern, Feyre e Rhys terão de conseguir juntar todas as Cortes para poderem sequer pensar vencer e savar tanto o povo humano como o povo das fadas.
Não será tarefa fácil até porque dentro das próprias Cortes existem alianças e inimizades que servirão apenas para destabilizar e enfraquecer quem quer que se atravesse à frente do Rei de Hybern!
Vidas importantes serão perdidas quando todos se defrontarem naquela que será uma batalha épica e que, para além de sangrenta e violenta, também é libertadora. 
Em relação às personagens...
Quero muito ver mais de Cassian e Nestha... Também quero muito ver se afinal Lucien vai conseguir tomar o seu lugar no coração da sua “parceira” destinada.
Houve alturas em que me desapontei com algumas das minhas personagens preferidas. Amren foi uma delas. Acabei por perceber, depois de me sentir mesmo bastante frustrada, que ela não tinha outra forma de agir que não aquela. Cassian e Azriel já tinham conseguido um lugar especial nas minhas personagens preferidas e não decepcionaram. Nestha e Elaine acabaram por frustrar-me um bocado, até porque sempre tive Elaine como um bocadinho ingénua e inocente demais... Morrighan foi aquela que, neste livro, conseguiu destacar-se e obter toda a minha admiração e devoção, ainda mais do que o casal sensação, Rhys e Feyre. Quanto a Lucien, acabei por gostar mais dele nesta parte da história do que no primeiro livro em que ele era mais um tapete dos pés do Tamlin do que propriamente o filho de um Senhor de uma Corte poderosa












24/05/2024

Opinião | Flawless | Elsie Silver | Clube do Autor

Flawless é o primeiro livro da série Chestnut Springs, marcada por personagens reais com problemas reais, que se apaixonam e cometem erros.

Ambientada numa pequena localidade, com cenas sensuais e muito emotivas, esta história de inimigos a amantes vai conquistar o seu coração.
As regras eram simples: manter-se afastado de problemas e da filha do seu agente. Agora está agarrado a ela, num quarto com uma única cama. Afinal, as regras foram feitas para serem quebradas…
Rhett Eaton é um profissional dos rodeios. Uma estrela. Mas arrisca-se a perder tudo depois de alguns escândalos públicos. O agente diz-lhe que precisa de recuperar a imagem e apresenta a própria filha como supervisora até ao final da época. Definitivamente, ele não precisa de uma babysitter, especialmente uma que usa jeans justos, tem um sorriso sexy e uns lábios em que ele não consegue deixar de pensar…
Summer Hamilton não será mais uma das suas conquistas. Ela consegue ver o homem por trás da máscara e não se afasta - pelo contrário, puxa-o para mais perto de si.
Não significa nada, assegura Summer. Significa tudo, responde Rhett.
Há limites que eles não podem passar. A reputação dele não aguenta mais golpes, menos ainda o coração ferido de Summer.


Gostei tanto deste livro. Estava com algum receio de o escolher e depois arrepender-me. Sempre que dizia que o tinha na minha TBR e que estava a pensar lê-lo, vinha alguém com um balde de água fria e dizia-me que a história era fraquinha, que era uma história de cowboys, etc etc... Não tenho nada contra histórias de cowbys, na verdade, mas davam sempre a ideia de que era daquele tipo do faroeste e esses eu não gosto lá muito. No entanto, houve um belo dia que me deu assim “clic”e sem pensar muito peguei nele e ainda bem que o fiz.

A história entre Rhett e a Summer é uma brisa de ar fresco. Desde o início que temos noção de que aquele par foi feito nas estrelas.
Tudo começa por Rhett ser alguém que não mede as palavras que diz e que está em risco de perder os seus melhores patrocinadores. É aí que entra a nossa Summer. A filha do agente de Rhett que vai fazer de tudo para melhorar tanto a imagem do cowboy que o pai representa, como a maneira como ele age com todos os outros à sua volta, inclusive a própria família.

Rhett não esconde que Summer mexe com ele e isso foi o que mais gostei. Nada de lamechices nem de lengalenga... Gosto quando as personagens são directas e vão certeiras àquilo que querem. O que começou por ser apenas uma relação profissional, vai escalar com as picardias, as discussões e os feitios um do outro. Se um faz, o outro desfaz logo a seguir e é essa dinâmica que nos atrai e nos vicia.
As faíscas eram sempre garantidas entre eles os dois e houve muitas situações que me fizeram rir por serem tão genuínas.

A Summer é uma querida. Muito senhora de si, com uma personalidade forte e, ao mesmo tempo, meiga e compreensiva. Tem uma relação cómica e adorável com o pai (adorei as interacções deles os dois) e a forma como conquistou a família toda de Rhett diz bem o quanto ela é uma mulher diferente das demais. É a única capaz de lidar com os acessos de fúria e com a lingua solta que ele tem e que o colocou em apuros logo de início. A forma como ela o apoiou e fê-lo sentir-se amparado e compreendido sem pedir nada em troca, acabou com as poucas defesas que ele tinha erguido à sua volta. Toda a gente queria algo dele. As mulheres que rodeavam, as chamadas coelhinhas dos rodeos, os patrocinadores, os rivais, os irmãos. Basicamente, todos os que faziam parte do mundo dele. E ele estava, verdadeiramente, cansado. Tanto fisíca, como psicologicamente! O raio de sol que Summer lhe trouxe, veio em boa hora.

Foi um livro que li bastante rápido, por ser escrito de uma forma limpa e leve. Os capítulos são pequenos e lêem-se num instante. É um livro composto de uma forma que, pessoalmente, gosto bastante.
Acho que o único ponto negativo neste livro, é com a tradução. Não é toda. Apenas na tradução (errada) de “cowboy” para “cóboi” ... é horrível de se ler. Há termos e expressões que, simplesmente, não se podem traduzir. Espero que, de futuro, tenham isso em mente.

De resto, é uma história que nos faz suspirar, emocionar e que nos diverte em várias alturas. Principalmente, quando entram os irmãos de Rhett em cena! Gosto imenso deles e do pai deles também.

Recomendo muito, muito!
Não se deixem “assustar” por ter cowboys e rodeos! É mais para ter mais raios de acção do que outra coisa qualquer, porque o foco deste livro é a evolução de Rhett como pessoa e a relação dele com a Summer.

Ansiosa por ler o seguinte!


15/05/2024

Opinião | Antes que o Café Arrefeça - De Regresso a Tóquio | Toshikazu Kawaguchi | Presença

Que saudades todos tínhamos deste café… Se pudesse voltar ao passado, quem gostaria de encontrar? Estamos de regresso a Tóquio para mais viagens… no tempo.
Num pequeno beco da cidade, bem escondido, há um café centenário. Mas, diante de uma chávena de café bem quente, os clientes recebem muito mais: a possibilidade de viajar até ao passado.
Do autor de um dos maiores bestsellers internacionais dos últimos tempos, Antes Que o Café Arrefeça: De Regresso a Tóquio leva-nos de regresso ao lugar onde o passado pode, subitamente, ser diferente. Aqui, encontramos quatro novas personagens que procuram a magia do Café Funiculi Funicula: um homem que quer rever o melhor amigo, morto há vinte e dois anos; um filho que não pôde ir ao funeral da mãe; um homem que precisa de reencontrar a rapariga com quem não pôde casar; um detetive que quer dar um presente especial à sua falecida mulher. Mas lembrem-se: as viagens no tempo têm condições e riscos… E nada do que façam vai alterar o presente.


Depois do sucesso que foi o primeiro livro, Antes que o Café Arrefeça, Toshikazu Kawaguchi traz novas personagens ao café Funiculi Funicula e, um maior vislumbre e conhecimento sobre as personagens que já havíamos conhecido.

Devo dizer que, se gostei do primeiro, este aqui foi-me directo ao coração... De uma forma enternecedora e com uma escrita tranquila e até melodiosa, o autor dá-nos a conhecer mais quatro histórias de personagens que apenas desejavam regressar ao passado por algum motivo. Não para modificar o presente e o futuro, porque já sabiam que não era possível, mas para poderem dizer ou fazer aquilo que não tinham conseguido na altura certa às suas pessoas amadas.
A mim tocou-me particularmente este livro. Estas quatro histórias lembram-me muito o quanto eu gostaria de poder fazer o mesmo e dizer ainda mais e mostrar ainda mais, às pessoas que perdi, o quanto as amava e o quanto me eram importantes. Quantos de nós não queria a oportunidade de fazer isso mesmo? Não posso deixar de reforçar a forma como Toshikazu Kawaguchi escreve. De alguma forma, ao ler este livro, senti sempre como se estivesse envolvida numa bolha de paz e tranquilidade, muito embora as personagens estivessem a passsar por emoções fortes e sentimentos profundos. É uma escrita fluída e suave. Embora sejam apenas histórias ficcionais, gosto de pensar que o autor conseguiu o seu propósito. Conseguiu dar alguma paz e conforto às personagens que sentiram necessidade de ir ao passado e correr o risco de se perderem algures no caminho.
Digam lá se não seria tão bom se pudéssemos ir ao passado, nem que fosse para rever aqueles que perdemos para sempre ou até mesmo aquelas pessoas das quais nos distanciamos e nos perdemos em vida. 
Não valeria a viagem? 

Se há algo que aprendi com este livro é que não devemos deixar nada por dizer. Seja algo de bom ou algo de menos bom. Se deixarmos trancado em nós, no futuro, tornar-se-á um sentimento de remorso profundo e nunca poderemos ser verdadeiramente felizes.

Espero, sinceramente, que Toshikazu Kawaguchi ainda nos brinde com muitas histórias e muitos livros destes.

08/05/2024

Opinião | O Segredo da Criada | Freida McFadden | Alma dos Livros

A família perfeita tem apenas uma regra: nunca espreitar por trás das portas.

Cinco anos após os acontecimentos de A Criada, Millie pensa que pode construir uma vida «normal», formando-se como assistente social e trabalhando para outra família rica... mas está muito enganada!

MISTERIOSO, INTENSO E VICIANTE COMO UM VERDADEIRO THRILLER DEVE SER!

«Millie, nunca entre no quarto de hóspedes...» Uma sombra abate-se sobre o rosto de Douglas Garrick ao tocar na porta do quarto com a ponta dos dedos. «É que... a minha mulher... está muito doente». Enquanto me continua a mostrar o seu incrível apartamento penthouse num dos prédios mais vistosos da cidade, tenho um pressentimento terrível sobre a mulher fechada naquele quarto.

Mas não posso arriscar-me a perder este emprego – pelo menos se quiser continuar a manter o meu segredo. É difícil encontrar empregadores que não façam muitas perguntas, especialmente sobre o passado. Nesse aspeto, agradeço a sorte de os Garrick me terem contratado.

Posso trabalhar aqui durante algum tempo, ficar sossegada até conseguir o que quero. Arrumar e limpar a sua deslumbrante penthouse de vista panorâmica sobre a cidade e preparar-lhes refeições sofisticadas na sua cozinha reluzente. O emprego quase perfeito.

Só ainda não conheci a Sra. Garrick, nem espreitei o quarto de hóspedes.

Tenho a certeza que a ouço chorar às vezes. Também já reparei em manchas de sangue na gola das suas camisas de dormir quando estou a lavar a roupa. Um dia, não consigo evitar bater à porta. E, quando se abre suavemente, o que vejo lá dentro muda tudo..


À semelhança do primeiro livro, A Criada, este foi mais um cheio de surpresas e reviravoltas.
Sinceramente, acabei por gostar mais deste do que do primeiro. Não tenho motivos concretos para isso, mas a verdade é que senti que a escrita neste segundo livro foi mais consistente e ainda mais fluída. A autora consegue, mais uma vez, prender-nos à Millie e a tudo o que ela vai pensando e fazendo. Adoro!
Achei a Millie mais ponderada e mais adulta neste segundo livro. A vontade de ajudar outras mulheres maltratadas continua presente, mas, desta vez, conseguimos perceber que, primeiro ela analisa e depois tenta perceber se consegue ou não ajudar. No entanto, algumas vezes, Millie ainda mostra aquela faceta ingénua e inocente de quem quer ajudar tudo e todos. É isso mesmo, é essa alternância entre o ingénuo e a maturidade que nos traz uma Millie mais fascinante ainda do que no primeiro livro.
Neste segundo volume, que, novamente, começa com um capítulo de nos deixar em pulgas, ficamos a saber que depois da primeira pessoa que ela ajudou, ainda que involuntariamente, Millie apaixona-se e vive tempos muito felizes, ainda que conturbados, dada a procura que ela tem para ajudar quem mais precisa. É novamente uma criada ao serviço de um casal, à partida normal, mas que em muito pouco tempo se percebe que são tudo menos normais aquele marido e aquela esposa. Fui apanhada de surpresa várias vezes neste livro, tenho de admitir e, de cada vez que isso acontecia, só conseguia pensar "mas que raio?! Fui enganada outra vez?" ... Adoro quando isso acontece e uma história me surpreende contantemente. Traz mais vivacidade à leitura e isso faz toda a diferença.
A forma como a autora consegue colocar algum romance e algumas cenas "doces", ajuda em muito a que o leitor sinta a leitura e sinta que aquelas personagens calculistas também sentem e também se emocionam. Gosto imenso disso e, se por um lado, nunca fui muito com a cara do actual namorado dela, fiquei extremamente feliz quando o "nosso" Enzo entra novamente em cena, quanto mais não seja para ajudá-la a sair da embrulhada onde ela foi metida!

Se já tinha ficado com esta autora debaixo de olho com o primeiro livro, com este aqui fiquei completamente fã!
Quero muito, muito ler os seguintes! Ainda bem que ela tem já vários livros escritos para irmos matando a "vontade" ..

Recomendo, obviamente!

30/04/2024

Opinião | Oceânia | Lucy Angel | Edições Saída de Emergência

Uma viagem de sobrevivência, conduzida pela obsessão e vingança…

Quando adormeceu no quarto luxuoso do seu palácio, Catherine era a bela princesa de Oceânia. Quando acorda acorrentada no porão de um navio, não passa de uma prisioneira. Ao perceber que fora Darin quem a raptara, o mais temível pirata dos mares, a esperança de ser salva diminui. Mas quando descobre que a intenção dele é sacrificá-la à Grande Serpente, percebe que o seu destino é a morte certa.

O Capitão Darin, impiedoso e enigmático, é guiado por uma obsessão de vingança que não conhece limites. E só obtendo a Safira Sagrada, à guarda da Grande Serpente, é que essa vingança poderá ser consumada. Ele não vai deixar que nada o desvie do seu objetivo: seja a beleza de Catherine, as suas respostas desafiantes sempre na ponta da língua ou a coragem e generosidade que demonstra quando menos se espera.

Se a morte é certa, Catherine irá fazer da vida de Darin um inferno. E procurará sobreviver, nem que para isso tenha de tentar matar uma serpente imortal com as próprias mãos. Mas o oceano esconde muitos segredos, e quando velhas lendas se revelam reais, a morte de Catherine poderá ser insignificante perante toda a destruição iminente.


Levei algum tempo a publicar aqui a minha opinião a este livro, mas não foi inocente. Quando acabei de o ler, estava tão envolvida na história e com as suas personagens, que tentei, em vão, elaborar uma opinião de imediato, mas não consegui.
Este livro da Lucy tem de tudo, apesar de ser um livro tão pequeno e que se lê tão rápido. Li-o numa tarde! Já não acontecia há algum tempo, mas não conseguia parar. O facto de ter monstros marinhos, serpentes gigantes e personagens tão intensas acabou por me arrastar junto para as profundezas desta história.
Agora, é um livro perfeito? Não... mas não estamos à procura do livro perfeito. Procuramos por um livro que nos faça sonhar, que nos faça viajar, que nos tire da realidade que a vida insiste em atirar-nos à cara, dia sim dia sim, e este livro faz isso na perfeição.
Neste livro temos a história de Catherine. Uma princesa de um dos sete reinos, Oceânia, e Darin, um pirata com fama de ser cruel e implacável, que a rapta e a faz ser prisioneira no seu barco apenas com um objectivo em mente: Resgatar a Safira Dourada que está sob a protecção da terrível Serpente Marinha que dominava os mares nas suas profundezas. É na busca dessa Safira Dourada que vamos ter a oportunidade de conhecer todas as personagens e tudo o que elas trazem de diferente e de valioso a esta história. Durante quase toda a leitura temos noção de que, de facto, o oceano esconde muitos e negros segredos, mas só pertinho do final é que temos a real noção do impacto desses segredos.
Um livro pequeno, mas que tem tudo. Romance, fantasia, emoção, algum humor sarcástico bem presente entre Catherine e Darin nas suas muitas picardias e uma personagem feminina que, ao contrário de muitas histórias, não precisa de ser salva por ninguém, muito menos por um homem.
Ficaram algumas coisas por abordar, mas que em nada prejudica este livro. Estou muito, muito ansiosa pelo segundo livro e ver o rumo que Catherine vai dar à sua vida, agora que sabe a extensão de todo o seu poder.

Queria ficar aqui a falar deste livro, mas aí, para vocês, não ia ser a mesma coisa e eu não quero isso! Leiam e depois falamos! 😊

Recomendo muito!!

17/04/2024

Opinião | Brilho Tóxico | Inês Rodrigues de Melo | Saída de Emergência

Há bens que vêm por mal.
Aos sete anos, Iris viu os pais serem mortos, nunca se conformando com a explicação da polícia de que se tratara de um assalto que correra mal. Aos vinte e um anos, leva uma vida perfeitamente normal, até que um simples passeio muda tudo. Iris vê-se subitamente envolta por um mundo louco que jurava não existir: o das deidades, geniis, vampiros, elfos e bruxas. E tudo isso vem acompanhado de segredos e mentiras que a fazem questionar a própria identidade.
Mas o pior está para vir. Algo ameaça esse mundo secreto de seres fantásticos e a jovem é a peça-chave nesse plano de destruição. Mesmo que não se queira envolver numa guerra que não compreende, é tarde de mais para recuar, pois as ameaças já chegam ao mundo real, colocando em perigo a família que a acolheu desde que ficou órfã. Será possível travar o mal que a cerca? Ou tudo terminará apenas com o derradeiro sacrifício… o seu?

Sou um pouco suspeita por falar sobre este livro e dizer o quão bom ele é, sendo que fui uma das beta readers e, gosto de pensar que dei algum contributo a concretizar o sonho da Inês, a qual vim a descobrir, é minha conterrânea.

Este livro traz-nos a história de Íris e a sua existência na Terra como um Ser fantástico, com poderes fantásticos.
É uma história que nos prende do princípio ao fim, deixando-nos com um final a pedir por muito, muito mais.
A autora, traz-nos um conjunto de personagens muito bem criadas. Cheias de personalidade, cada uma delas. Umas com mais mau feitio, outras com menos e mais amigáveis, mas todas elas traz o seu contributo ao evoluir da Íris na sua caminhada como Genii, como Ser pertencente a uma realidade completamente diferente daquela que ela levava até ali. Desde pequena que sentia que por detrás do desaparecimento dos pais, havia muito mais o que contar, mas com os anos, foi acabando por deixar cair no esquecimento. Até que, sem nada fazer crer, o dia em que tudo ia mudar chegou e destruiu tudo aquilo em que ela acreditava.
Agora fazia parte de um Ninho, uma Comunidade diferente daquilo que conhecemos como uma sociedade normal, embora todos os seus membros pudessem passar completamente despercebidos, como seres humanos iguais a tantos outros.
Com a ajuda de todos os membros da sua nova comunidade, Íris vai começar a conhecer e a tentar dominar o seu poder, a conhecer a sua verdadeira origem e, de uma maneira algo fortuíta, a sua metade. Embora não seja uma relação fácil, longe disso, Íris e Matthew vão tornar-se parte um do outro, mas nada disso será um caminho suave.
Adorei todo o universo que a autora conseguiu criar, com várias criaturas sobrenaturais, com seres humanos donos de corações enormes e um romance intenso e atribulado no meio disto tudo.
A capa é absolutamente maravilhosa e, a meu ver, apenas uma coisa faltou para esta edição ficar ainda melhor: Um mapa nas páginas principais. Vocês têm de concordar comigo. Espero que no segundo volume isso seja algo a ponderar.

Aguardo ansiosa pelo segundo volume e recomendo muito a todos lerem este livro.



12/04/2024

Opinião | A Criada | Freida McFadden | Alma dos Livros

 Por trás de cada porta, ela consegue ver tudo.

«Bem-vinda à família», diz Nina Winchester enquanto me cumprimenta com a sua mão elegante e bem cuidada. Sorrio educadamente e olho para o longo corredor de mármore.

Este emprego caiu-me do céu. Talvez seja a minha última oportunidade para mudar de vida. E o melhor de tudo é que aqui ninguém sabe nada acerca do meu passado. Posso esconder-me e fingir ser aquilo que eu quiser. Infelizmente, não tardo a descobrir que os segredos dos Winchester são muito mais perigosos do que os meus…

Todos os dias limpo a bela casa dos Winchester de cima a baixo, vou buscar a filha deles à escola e cozinho uma deliciosa refeição para toda a família antes de subir e comer sozinha no meu quarto minúsculo no sótão.

Tento ignorar a forma como Nina gera o caos só para me ver limpar. Como conta histórias inverosímeis sobre a filha. E como o seu marido, Andrew, parece cada dia mais destroçado. Quando o vejo, e àqueles belos olhos castanhos tão tristes, é difícil não me imaginar no lugar de Nina. Com o marido perfeito, a roupa chique, o carro de luxo. Um dia, experimentei um dos seus vestidos só para ver como me ficava. Mas ela percebeu... e foi aí que descobri porque é que a porta do meu quarto só trancava pelo lado de fora...

Se sair desta casa, será algemada.
Devia ter fugido enquanto podia. Agora, a minha oportunidade desapareceu. Agora que os polícias estão na casa e descobriram o que está no andar de cima, não há volta atrás.
Estão a cerca de cinco segundos de me ler os direitos. Não sei muito bem porque não o fizeram ainda. Talvez esperem induzir-me a dizer-lhes algo que não devia.
Boa sorte com isso.

O polícia com o cabelo preto raiado de grisalho está sentado ao meu lado no sofá. Muda a posição do seu corpo entroncado sobre o cabedal italiano cor de caramelo queimado. Pergunto-me que tipo de sofá terá em casa. Não um, certamente, com um preço de cinco dígitos como este. Provavelmente de uma cor foleira como laranja, coberto de pelo de animais de estimação e com mais do que um rasgão nas costuras. Pergunto-me se estará a pensar no seu sofá em casa e a desejar ter um como este. Ou, mais provavelmente, está a pensar no cadáver lá em cima no sótão.

Este foi daqueles livros que, quando saiu, eu pensei logo "Meh... acho que não é para mim", no entanto, ao ir vendo tantas e tão boas reviews, acabei por ceder e comprei. Não li assim que comprei. Ainda esperei que a hype passasse um bocadinho para não ser totalmente influenciada, uma vez que já o tinha sido na questão de o comprar.
Contudo, aproveitando o mês de Março para leitura conjunta no clube de leitura do Sinfonia Leitura puxa Leitura, peguei nele e foi até acabar. Juntando as horas, foram mais ou menos 6 horas ao todo para "despachar" este menino.
A escrita é leve e viciante. Os capítulos são pequenos e rápidos fazendo com que queiramos sempre ler o próximo.
Somos logo atraídos pela forma como começa e, ao longo da leitura vamos sempre tentando descobrir o que aconteceu naquele primeiro andar, quem morreu, quem matou e porquê. É um livro dividido em várias partes e, em cada uma delas, sentia um ódio novo por uma das personagens. Até que, finalmente, cheguei àquele ponto em que vi logo quem era mesmo o mau da história toda.
Embora tenha descoberto o culpado de tudo a meio da narrativa, o final acabou comigo. Nada fazia prever que a autora rematasse a história daquela forma e muito menos com aquela personagem tão sem importância (na nossa perspectiva). Qualquer uma das personagens acaba por nos atrair completamente pela sua forma de pensar e de agir. São todas tão retorcidas e oportunistas que me deixaram de boca aberta. Nenhuma delas dá um pontinho que não tenha um nó à medida. É tudo pensado e feito ao pormenor. É de génio, pelo menos para mim.
Freida McFadden acabou por se tornar uma das minhas autoras preferidas do género, pela forma como torna um género literário mais "sério" e pesado, numa leitura viciante, leve e em que queremos sempre mais.
Não sou uma expert em livros deste género, mas este é o tipo de história que eu gosto e que nunca me arrependo de comprar e ler.

Se ainda não leram, não deixem de o fazer.