18/12/2024

Opinião | O Fabricante de Lágrimas | Erin Doom | Planeta


SINOPSE
Entre as paredes do orfanato onde Nica cresceu, histórias e lendas sempre foram contadas à luz das velas. A mais famosa de todas é a do Fabricante de Lágrimas, um misterioso artesão, com olhos claros como vidro, uma figura aterradora que forja todos os medos que habitam no coração das pessoas.Quando, aos dezassete anos Nica, é adotada pelo casal Mulligan, pensa que está a deixar para trás este mundo de contos de fadas sombrios, mas os Mulligans também adotam Rigel, um órfão inquieto e misterioso, e ele é a última pessoa que Nica desejaria como irmão adotivo. Rigel é inteligente, incrivelmente bonito, mas a sua aparência angelical esconde um temperamento problemático e sombrio.
Embora os dois partilhem um passado comum, viver juntos parece impossível. Especialmente quando a lenda reaparece nas suas vidas e o Fabricante de Lágrimas torna-se subitamente cada vez mais real. Nica, doce e corajosa, está disposta a tudo para defender o seu sonho, porque só se tiver a coragem de enfrentar os pesadelos que a atormentam é que poderá finalmente voar livremente como a borboleta que leva o seu nome.

OPINIÃO
🌟🌟🌟🌟🌟
Acho que as palavras certas para descrever este livro e esta história são: Delicadeza e Sensibilidade.
É a primeira vez que leio algo desta autora e se, no início, custou-me um pouco a habituar à forma como ela escreve, quase de forma poética, assim que fui continuando a ler, aquela maneira de mergulhar no intímo da alma humana e a forma como ela combina o bom e o mau da condição humana acabou por deixar-me fascinada.

Esta é a história de Nica e de Rigel. Dois seres tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais que seria impossível ficarmos indiferentes a eles e a tudo o que se passa com eles e entre eles. São ambos personagens verdadeiramente complexas. Ele mais do que ela, é certo, mas ela não deixa de ter aquela complexidade que nos deixa sempre a pensar em que, apesar de tudo, seria bom que todas as pessoas fossem genuinamente boas de coração, apesar de, em algumas alturas da vida se poderem sentir mais injustiçadas ou passadas para trás. Nica é assim. É uma miúda que cresceu na violência de um orfanato, debaixo das mãos violentas de uma cuidadora que nada mais queria a não ser lucrar com os pequenos orfãs que lhe caíam nas mãos. Nica é uma cuidadora. Cuida e quer proteger todos os que sente que precisam de um aconchego ou de ajuda, ainda que tenha medo da maioria das pessoas e dos animais que ajuda.
No que diz respeito a Rigel, não posso dizer que o adorei. Embora compreenda tudo o que o atormenta, acabo por ter alguma dificuldade em lidar com a forma como ele trata Nica. É de uma violência emocional brutal que acaba por mexer com o psicológico de qualquer um. Acabamos por sentir empatia com ele a partir da altura em que temos mesmo pleno conhecimento daquilo que o atormenta desde muito pequeno. Era o único que não sofria a violência que era imposta aos demais meninos do orfanato, mas não foi por isso que se sentiu menos agredido. É frio e cruel até dizer chega, mas dentro do seu coração está uma ternura e um amor imenso por aquela que sempre amou desde que a viu pela primeira vez, aos cinco anos de idade.

Adorei a delicadeza dos pormenores que Erin Doom emprega neste livro. Não sei se é o tipo de escrita a que ela recorrerá em todos os seus livros ou se foi o tipo de escrita que achou mais adequada para nos contar a história de Nica e Rigel. Acertou em cheio. Admito que estava um pouco receosa em ler este livro, por muitas razões... já tinha lido que era muito grande, era muito repetitivo, era chato e lento, etc etc... no entanto, embora seja grande e algo lento em muitas partes, é um livro que nos agarra mesmo nessas partes menos apelativas. Será pelas personagens? Será pela escrita? Será pelo enredo que envolve toda a história do temível Fabricante de Lágrimas que habitava os sonhos e pesadelos de todos os meninos orfãs?
Gosto de pensar que sou uma pessoa moldável ao tipo de livro a que me proponho ler e este foi mais uma prova disso mesmo. Adaptei-me a este livro, a este tipo de escrita meio antiquada (há quem diga que é uma escrita presunçosa e arrogante) e tão cuidada, a esta forma de descrever todos os pormenores, a uma delicadeza incrível de nos transportar para a manta de sentimentos que o Ser Humano carrega dentro de si e, no final, não pude ficar nada mais a não ser feliz e arrebatada por ter dado uma oportunidade a este livro.
Adorei as personagens, adorei conhecer o passado delas e o que as movia. A emoção que cada uma carrega dentro de si e a forma como sempre arranjam uma forma de passarem por cima dos sentimentos menos bons que as destroem e abrem o coração e a alma a algo de bom que, com certeza, chegará.

Li este livro em inícios de Julho, mas só agora me senti preparada para falar sobre ele. No entanto, sinto que me fica sempre algo importante por dizer.

Ainda não vi o filme e, sinceramente, não sei se o farei. Acho que prefiro ficar com as sensações que o livro me deu.
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