26/08/2016

Opinião | Saída da Escuridão | Tina Nash

Ela amava-o muito. E ele tirou-lhe os olhos...
Em 1999, quando Tina Nash, de dezanove anos, conheceu Shane, alguém a avisou de que ele era perigoso.
Mas quando o encontra uma década mais tarde, vê primeiro e acima de tudo um homem cujos braços lhe dão uma enorme sensação de segurança. Completamente apaixonada, é incapaz de reconhecer como o seu amante se pode tornar agressivo.
Ao fim de oito meses surge o primeiro ataque violento, e Tina rompe com ele. No entanto, o amor prevalece sobre o instinto de auto preservação. «Eu agora era como uma viciada em drogas que só ficava feliz quando conseguia a minha dose – a minha dose de Shane.»
Esse vício é mais forte do que a dor, o medo e a humilhação. As agressões continuam, a polícia é chamada… como consegue ela suportar? No entanto, Tina tolera mais torturas. Shane maltrata-a também à frente dos filhos, mas ela ainda acredita que é sempre a última vez e que agora ele vai mudar. Esta esperança termina a 20 de abril de 2011, com o ataque mais brutal. Shane passou doze horas a torturar uma Tina inconsciente e cegou-a...

Este é daqueles livros que nos arrepiam até ao mais fundo da alma. Pela brutalidade, pela violência psicológica, pelos sonhos desfeitos, pelas vidas roubadas e pela felicidade completamente destruída. Estava com receio de não gostar deste livro, mas dei por mim a lê-lo de uma forma voraz e sempre que parava de ler e estava a fazer outras coisas não conseguia deixar de pensar no que aconteceu a esta pobre rapariga.
Sei que há pessoas que leram e desde o início censuraram Tina, por ela ser permissiva, por deixar que alguém como Shane entrasse na sua vida e a destruísse por completo. Se por um lado concordo plenamente com essas pessoas, por outro lado consigo perceber a esperança que Tina trazia no coração de que ele mudasse e passasse a ser um bom rapaz. A isso chama-se estar completamente iludida e enganada. Tina sempre havia sido uma jovem bonita e decidida. Teve o filho muito nova e nunca teve muita sorte no que diz respeito ao amor e então aparece-lhe Shane, um homem forte e que ela pensa que a pode proteger contra tudo e contra todos. Alguém que a pode fazer feliz e que a aceita mesmo tendo um filho.
Como ela podia sequer imaginar que um dia, aquele homem que gostava tanto do filho dela e que dizia que a amava tão profundamente, iria destruir-lhe os sonhos, a felicidade e a oportunidade de ver o filho crescer? Foi culpa dela em ter chegado tão longe? Foi, definitivamente. Mas, debaixo daquela mulher independente vivia alguém com medo de estar sozinha, com medo que ninguém a amasse, com medo de não ser certa para ninguém. Tinha alturas que até me dava náuseas ver como ela dependia dele e de como todas as vezes ela o afastava e depois o acolhia. Quem não conhece a célebre frase "quem faz uma vez, faz duas ou três". Não é preciso ser-se muito sagaz para se ter noção de que se se leva no nariz uma vez, isso vai voltar a acontecer vezes sem conta até chegar a um ponto em que ou a pessoa morre de pancada e tudo se acaba ou consegue dizer "Basta!!" e solta-se de alguém assim tão violento e doentio. Pois, Tina tenta, de verdade, acabar com tudo (embora acalente sempre a esperança de que tudo possa voltar a ser como no início). Denuncia-o, rejeita-o e acaba com tudo. Mas ela deixou as coisas chegarem a um ponto tal, que já não havia muita coisa a fazer. 
Tina perde a visão, perde a alegria de viver, perde a felicidade de ver o filho crescer e perde toda a qualquer dignidade presa numa cama de hospital por meses a fio, agarrada apenas a uma esperança de que pelo menos um dos seus olhos não tenha sido danificado. Por esta altura, eu estava mesmo sinceramente a torcer por ela. Porque afinal das contas, ela tentou acabar com tudo, embora que tarde demais.
As descrições a todos as cenas de violência a que Tina foi submetida, com o seu apogeu na cena de a cegar de uma maneira absolutamente brutal, são de suster a respiração e acreditem que chorei em algumas vezes por sentir a dor dela de uma maneira tão real que nem sei como ela, sendo a vítima, conseguiu aturar tanto, levar tanta porrada física e psicológica e no final, ainda encontrar forças para sorrir e começar uma vida nova.
Peço desculpas se "estraguei" a leitura a alguém ao contar um ou outro pormenor, mas depois de ler um livro destes, foi o melhor que consegui.

Apesar de ser um livro forte e perturbador, recomendo a sua leitura, pois é com relatos como estes que muitas mulheres podem aprender e ver que perdoar nem sempre é o melhor a fazer.

Antes

Depois

(Este exemplar foi gentilmente cedido pelas Edições Asa em troca de uma opinião sincera)

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