31/08/2016

Opinião | Deixei-te Ir | Clare Mackintosh

Numa fracção de segundos, um acidente trágico faz desabar o mundo de Jenna Gray, obrigando uma mãe a viver o seu pior pesadelo. Nada poderia ter feito para evitar esse acidente.
Ou poderia? Essa é a pergunta que a inquieta quando tenta deixar para trás tudo o que conhece, procurando um novo recomeço refugiada num chalé isolado na costa de Gales.
Também o detective Ray Stevens, responsável pela investigação por este caso que procura a verdade, começa a ser consumido pela sua entrega ao mesmo, deixando a vida pessoal e profissional à beira do precipício.
À medida que o detective e a sua equipa vão juntando as pontas do mistério, Jenny, lentamente, permite-se vislumbrar uma luz de esperança no futuro, o que lhe dá alguma segurança, mas é o passado que está prestes a apanhá-la, e as consequências serão devastadoras.

 
Este é daqueles livros que começamos com uma grande expectativa, depois tem um início algo lento e depois, de uma hora para a outra, quando damos por nós já estamos tão dentro da história e a perceber as personagens tão bem que não o conseguimos largar até acabar. Foi o que aconteceu comigo. No início achei um pouco difícil entrar na história. Tem um prólogo que nos promete uma história cheia de mistério e reviravoltas e depois os primeiros capítulos são um pouco arrastados. Sinceramente, só não lhe atribui as cinco estrelas, justamente por causa disso. No entanto, mesmo na parte mais lenta, conseguimos absorver tudo o que implica a morte de uma criança por atropelamento e fuga. A vontade que o Detective Ray Stevens e a sua ajudante estagiária Kate têm de resolver este crime, mesmo sem qualquer pista, mostra-nos bem o quanto eles querem apanhar a pessoa que fez tal atrocidade. 
Um dos aspectos que me prendeu também a atenção, neste livro, foi a perícia da autora em conjugar as vidas pessoais dos detectives com a sua vida profissional. Ray Stevens é casado com Mags, uma ex-policia que deixou o trabalho para trás para poder tomar conta dos dois filhos menores. Temos acesso directo à vida pessoal de Ray, aos seus problemas familiares com o filho mais velho, a rotina diária em que o casamento deles chegou e isso não abona nada para quem tem um relacionamento profissional diário com outras pessoas. 
Se de um lado temos Ray, Kate e todos os agentes envolvidos no caso, do outro lado temos Jenna. Uma artista que desistiu da escultura e, numa mudança drástica de vida, dedica os seus dias à fotografia e fazer dessa arte um meio de subsistência. Desde logo, gostei da Jenna, embora ela transmita uma desconfiança e um afastamento dos demais, resultante de um passado cheio de traumas e dor. Acreditem em mim quando digo que ela passou mesmo por muito e a maioria de nós, passando pelo mesmo, se calhar não conseguiríamos recuperar.
Este livro é dividido em duas partes distintas, sendo que na primeira parte temos Ray, Kate e Jenna de uma forma mais "analisada", tornando, como já referi, a leitura mais lenta e demorada. No entanto, um pouco antes de terminar a primeira parte, há uma reviravolta que nos faz ficar agarrados e perceber o porquê de a autora ter investido tanto em pormenores na primeira parte. A segunda parte do livro, é como se estivéssemos numa montanha russa que faz com que seja completamente compreensível cada uma das personagens ser como é, especialmente Jenna. 
Não sou a mais indicada para opinar sobre livros deste género, mas para lá espero estar a caminhar, pois está a tornar-se um género que me desafia a cada livro que começo a ler e gosto da sensação de ser desafiada por um livro... 
Clare Mackintosh tem um tipo de escrita simples e fluída que nos ajuda imenso a perceber todos os passos de uma investigação morosa e complicada como esta. Vê-se bem que está por dentro de todos os procedimentos policiais e tem imensa perícia em transmitir tanto pensamentos como espaços. Adorei e, obviamente, recomendo a todos os que gostam do género e até aos que não gostam. Quem sabe se não será este livro que vos fará gostar do género? ;)
(Este exemplar foi gentilmente cedido pela Editora Marcador em troca de uma opinião sincera.)

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