07/07/2015

Opinião "O Lado Selvagem - Into The Wild" de Jon Krakauer

Baseado no caso real de Christopher McCandless, um jovem de vinte e dois anos que, ao terminar a faculdade, doou todo o seu dinheiro a uma instituição de caridade, mudou de identidade e partiu em busca de uma experiência genuína que transcendesse o materialismo do quotidiano, O Lado Selvagem . Começando a sua viagem pelo Oeste americano, Christopher dá igualmente início a uma aventura que mais tarde viria a encher as páginas dos jornais e que termina com a sua morte no Alasca. Uma morte misteriosa? Acidental ou propositada? Um livro comovente que cativa o leitor pela forma como é retratada a força indomável de um espírito rebelde e lírico.

* A opinião é longa, mas não consegui evitar*
Já alguma vez pegaram num livro com a certeza de que o iam adorar? Não? Comigo já aconteceu e foi precisamente com este pequeno grande livro. Talvez tenha sido por já ter visto o filme tantas e tantas vezes que a história de Chris McCandless se entranhou em mim e agora nunca mais sairá da minha mente. 
Sempre fui muito sensível a livros e filmes baseados em factos verídicos. No entanto, este marcou-me mesmo a sério e de uma maneira irreversível. Chris simboliza, para mim, pelo menos, a vontade de sair de uma sociedade podre e fugir para onde tudo tem um significado real, puro e verdadeiro. Onde o dinheiro não é necessário para se ser feliz, onde os homens não se matam por poder e onde a fauna e a flora são o centro de tudo.
É certo que muitas pessoas que na altura tiveram conhecimento da história foram rápidas a criticar o que Chris fez. Um jovem com uma inteligência acima da média, de boas famílias, com uma situação financeira muito boa, melhor do que a de muitos jovens da altura, que deixa tudo para trás: dinheiro, família, conforto, para embrenhar-se no meio da floresta até chegar ao seu destino: Alasca Selvagem. A meu ver, as pessoas que o criticaram só demonstram que não perceberam as verdadeiras intenções dele. Livrar-se da podridão e de tudo o que uma sociedade doentia nos faz viver dia após dia. Chamaram-no "inconsequente", "ingénuo" e disseram que ele não tinha qualquer inteligência para se ter metido numa aventura como a que se meteu e sair dela vivo. Acontece é que, não por culpa total dele, Chris por pouco não consegue regressar a casa. Tendo acompanhado a história de Chris através das palavras de Jon Krakauer, também ele um aventureiro, e tendo visto a representação de Emile Hirsh no filme de Sean Penn baseada, justamente, no livro de Jon, é fácil perceber que a única coisa que Chris queria era algo muito simples: Purificação! 
Chris queria limpar a alma e o espírito de toda a maldade, ambição, sujidade que a sociedade coloca dentro de cada um de nós aos poucos, e contra nós nada fazemos. Embora a dita "sociedade" seja apenas um produto do Ser Humano ambicioso e traiçoeiro, é dela que Chris quer fugir, é do próprio ser humano que Chris quer distanciar-se, nem que seja por um curto período de tempo, porque não tenho qualquer dúvida de que ele queria regressar a casa. Já tinha o coração limpo das mentiras que os pais lhe disseram toda a sua vida, já tinha a alma cheia da natureza o suficiente para o ajudar a suportar o mundo normal. Queria ser feliz, queria partilhar a felicidade de estar vivo com os que mais amava, incluindo os que ele foi encontrando pelo caminho, ao longo da sua jornada de dois anos na estrada. E foram tantas as pessoas que passaram pela vida dele. Pessoas boas, que o apoiaram na sua jornada, que fizeram dele alguém ainda mais simples e feliz. Acho que em dois anos ele viveu mais e melhor do que tinha vivido até à altura. Se acho que mais pessoas deviam fazer o mesmo que ele? Sinceramente, acho! Mas com outras preparações, com outras bases. Eu, por exemplo, não me importava nada de me refugiar no Alasca. Acho que deve ser algo simplesmente fenomenal!
Jon Krakauer, de uma forma simples, directa e deveras profunda abordou a história de Chris, bem como a de vários outros aventureiros que também morreram no final. Os dias, semanas, em que Chris passou no Autocarro Mágico, as formas que ele arranjou para deixar o seu testemunho, as alegrias, as tristezas, as tragédias que Chris ultrapassou sozinho, foram relatadas de uma forma avassaladora. Descritas de uma forma que não podemos deixar de pensar naquele jovem que por falta de sorte e de alguma preparação ou material indicado, não conseguiu atravessar o rio para regressar ao conforto do seu lar, Nunca tinha lido nada deste autor, mas ficou a vontade de ler os outros livros dele, também não ficcionais. Achei o modo como ele escreveu a história de Chris simplesmente divinal. Nada de aborrecimentos para o leitor, nada daquela escrita pesada e julgadora, até porque, como já disse acima, também ele é um aventureiro. Faz escalada e também ele, com a mesma idade de Chris, embrenhou-se numa aventura que por sorte não acabou como a de McCandless. E porque é que ninguém o criticou? Porque como ele não morreu, ninguém soube que ele meteu-se em tamanhos problemas. É muito fácil criticar quem apenas quer mudar, quem apenas quer ser feliz de uma maneira diferente de todos os outros.
É, de facto, uma história que me marcou imenso, pelo livro, pelo filme, pela banda sonora que tenho mesmo de evidenciar. Sean Penn contou com Eddie Vedder, vocalista dos Pearl Jam. E o que é certo é que Eddie conseguiu dar ao filme uma intensidade e um significado deveras profundo. Se a história deixaria de ser o que é se não fosse pela banda sonora fantástica que conseguiram? Não, não deixaria. Mas que deu um significado muito maior, lá isso deu!

Chris McCandless e o Autocarro Mágico

Última foto de Chris McCandless (antes da morte)

Deixo-vos aqui, a título de curiosidade, o trailler do filme de Sean Penn, a letra de uma das músicas que mais me marcou e que actualmente é uma das minhas músicas de eleição.
De salientar, a representação fantástica de Emile Hirsh na adaptação ao cinema. Se puderem ler o livro e ver o filme, por favor não deixem de o fazer! 


Letra de "Society" de Eddie Vedder

Oh, it's a mystery to me
We have a greed with which we have agreed
And you think you have to want more than you need
Until you have it all you won't be free

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...

When you want more than you have
You think you need...
And when you think more than you want
Your thoughts begin to bleed
I think I need to find a bigger place
Because when you have more than you think
You need more space

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

There's those thinking, more-or-less, less is more
But if less is more, how you keeping score?
Means for every point you make, your level drops
Kinda like you're starting from the top
You can't do that...

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

Society, have mercy on me
Hope you're not angry if I disagree...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

2 comentários:

  1. O tema é grandioso e o filme também. A essência do que somos e o que procuramos, é preciso ter coragem para o fazer. Não é para todos.
    Muito bom. Bem realizado, a banda sonora é fantástica (sendo Eddie Vedder um dos meus preferidos).

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    Respostas
    1. Olá,

      de facto não é para todos embarcar numa aventuras destas e ser fã deste tipo de livro e de história também não é para qualquer um :)
      Eddie Vedder... que mais se pode dizer deste magnífico ser humano? The Best! :)

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