A Definição do Amor
Jorge Reis-Sá
272 páginas
Ficção/Romance
Guerra e Paz Editores
«E, num acaso da noite, vindo eu do hospital, do barulho dos rádios nas enfermarias junto ao quarto – os homens a acompanharem as esposas na visita semanal aos doentes mas mais interessados no futebol – da Susana continuamente parada, o cilindro azul e o barulho repetido da sua respiração, vindo eu da vida que me escolheram sem uma palavra – Francisco, importa-se de ficar viúvo? Dava jeito. Sem uma possibilidade de aceitação, sequer, vindo eu, o velho Fidélio perguntou está melhor. Ainda nestes dias não tinha chorado, já se contam quatro. A minha mulher vai morrer, assim se desligue a máquina que a respira. O meu filho vai ficar órfão, o meu outro filho sequer vai nascer, o mais certo. E eu sóbrio e inflexível, a não querer entender. Mas a pergunta do velho Fidélio foi a mais forte dor no coração – a Susana dizia sempre boa noite, Sr. Fidélio, e as pombas, bem?, sacudindo o resto das migalhas para os pardais no andar de cima. Abracei-o. Fraquejaram-me as pernas. Chorei por quatro dias, Susana – quem vai agora perguntar pelas pombas ao velho Fidélio?»
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