25/03/2013

Os Nossos Contos.... Quem és tu, Alice?

Como sabem, essa nova rubrica conta também com as vossas participações... Esta semana temos a participação da Andreia Silva dos Blogs "Os Livros Não Têm Segredos" e "I Am Happy With Sun And Book"

Aqui fica a primeira parte!
Quem és tu, Alice?


Detesto dias de chuva. Não me incomodo com temperaturas gélidas, com neve no chão ou com as mãos vermelhas. Mas rezo todas as noites para que amanhã as nuvens não chorem. Preciso de sol, e sei que o meu pai fica num estado depressivo sempre que as gotas decidem bater nas janelas e molhar o chão. 
Hoje é dia 6 de Dezembro e faz 10 anos que a minha mãe morreu para eu poder viver. Desde que me conheço que a minha família tem três pessoas mas só duas têm o coração a bater: eu e o pai. A minha mãe ainda permanece por entre os cómodos da casa. 
Eu sei porque a sinto. Porque desde bebé, quando estou prestes a tropeçar nos bonecos ou a pisar os vidros, há alguma coisa que me puxa para longe dos perigos. E eu sinto os braços dela à minha volta. Não me lembro da cara dela mas o amor dela nunca vai sair das minhas recordações.
Não falo dela com o meu pai. Temos um acordo: vivemos sem chatear muito o outro. 
Ele refugia-se no escritório e eu escondo-me por detrás dos livros. Sei que ele se esforça por disfarçar, mas sei que durante estes anos a única coisa que ele sente quando olha para mim é a dor de ter perdido o amor da vida dele. Aprendi a não me importar com a indiferença. Afinal, nunca conheci outra coisa.

Neste momento, ele está fechado no quarto e sei que de lá não vai sair. Faz sempre isto no aniversário da morte da mamã. 
Pior se estiver a chover, tal como hoje e tal como há 10 anos atrás. Eu sei que ele se lembra que também é o meu aniversário. Todos os anos quando ele sai do quarto, perto da meia-noite, bate à porta do meu para me dar um livro novo. “Parabéns Alice”. Eu murmuro um “Obrigada Pai”, desejando correr para ele e limpar as lágrimas que lhe caem dos olhos, mas ele não me dá oportunidade para isso. Sai, bate a porta e eu volto a ser ignorada até ao próximo aniversário. É claro que é ele que me paga a comida que eu como, que me leva à escola e que me leva ao médico. Mas isso, qualquer adulto faria por uma criança que estivesse a cuidar.

CONTINUA....

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário é valioso!
Obrigada pela visita e volte sempre!