20/04/2018

Opinião | A minha Avó Pede Desculpa | Fredrik Backman

Elsa tem sete anos de idade, quase oito, e é diferente. Para já, tem como melhor - e única - amiga a avó de setenta e sete anos de idade, que é doida: não levemente taralhoca, mas doida varrida a sério, capaz de se pôr à varanda a tentar atingir pessoas que querem falar sobre Jesus com uma arma de paintball, ou assaltar um jardim zoológico porque a neta está triste. Todas as noites, Elsa refugia-se nas histórias da Avozinha, cujo cenário é o reino de Miamas, na Terra-de-Quase-Acordar, um reino mágico onde o normal é ser diferente.

Quando a Avozinha morre de repente e deixa uma série de cartas a pedir desculpa às pessoas que prejudicou, tem início a maior aventura de Elsa. As cartas levam-na a descobrir o que se esconde por detrás das vidas de cada um dos estranhíssimos moradores de um prédio muito especial, mas também à verdade sobre contos de fadas, reinos encantados e a forma como as escolhas do passado de uma mulher ímpar criam raízes no futuro dos que a conheceram.

A minha avó pede desculpa é uma belíssima história, contada com o mesmo sentido de humor e a mesma emoção que o romance de estreia de Fredrik Backman, o bestseller internacional Um homem chamado Ove.

Digo-vos uma coisa apenas para começar: Este livro é absolutamente delicioso! 
Se podia tê-lo lido mais depressa? Podia, mas não quis. Quis tirar o máximo proveito desta história maravilhosa que nos faz sonhar e viajar, tal e qual como os livros devem fazer.
Recebi este livro sem ter qualquer conhecimento e fiquei tão contente por ter sido uma das escolhidas para ler a cópia de avanço. Há coisas que me fazem feliz e essa foi uma delas. Desde já o meu muito obrigada à Maria João Sales e à Porto Editora pela oportunidade que me deram de ler este livro e de o dar a conhecer aos seguidores do Sinfonia.
A Minha Avó Pede Desculpa traz-nos uma menina de sete anos, quase oito, chamada Elsa. Ora, Elsa é uma criança inegavelmente dotada de uma inteligência e imaginação tremendas. Uma está, inequivocamente, ligada à outra e, tenho a certeza absoluta de que foi o facto de ter uma Avozinha tão diferente e tão louca que permitiu a Elsa libertar e fazer crescer tudo o que as crianças "normais" guardam dentro de si, para não darem nas vistas. Elsa é o contrário de uma criança normal. É perspicaz, anormalmente madura para a idade que tem, (tinha alturas que parecia que estava a ler algo dito por uma mulher adulta), vê o mundo pelos olhos de uma criança mas com grandes variantes entre o mundo real e o mundo da fantasia. Por ser alguém diferente e única, Elsa é constantemente vítima de maus tratos na escola. Os colegas não lhe dão tréguas e Elsa agarra-se a um mundo fantástico criado pela avó, há muitos anos atrás, muitos mais do que Elsa tinha conhecimento, e na união dos factos reais com a fantasia, vai levar a cabo uma missão dada pela sua avó que, apesar de toda a sua loucura em vida, só queria desculpar-se a todos aquando da sua morte.
Apesar de termos ficado sem a presença física da Avozinha muito cedo, ela está sempre presente e o seu feitio tresloucado está bem vincado e presente em todas as personagens e no seu dia-a-dia.
É tão bom ver que alguém consegue transportar-nos para um mundo de fantasia e de sonhos, embora nem tudo corra sempre bem nesse mundo, apenas com o dom da escrita. Não há um só capítulo enfadonho, ou que os dois mundos não estejam directamente relacionados e isso é simplesmente, fantástico. Não há quebras de acção, não há momentos em que nos sentimos confusos por isto ou por aquilo, não há um só capítulo decepcionante. Mas há aqueles que nos fazem rir (muito mesmo), que nos fazem pensar e que nos fazem chorar.
Elsa é incumbida de entregar a cada um dos moradores do seu prédio e da avó, uma carta em que a avó pede desculpas. Apesar de ser uma personagem mirabolante e impossível não se gostar, é também dona de um feitio terrível e de uma boca à qual costumamos dizer que não tem "filtro". Vai contra tudo e contra todos e, sabendo que vai morrer em breve, resolve pedir desculpa a todos por carta a cada um a quem fez a vida negra, mas também salvou de uma vida de solidão e tristeza. É com essas cartas que Elsa vai conhecer e aprender a gostar de cada uma das personagens a quem a avozinha tanta vez ofendeu e enfureceu.
Nisto tudo, e entre tantas personagens tão iguais nos sofrimentos, mas tão diferentes na maneira de ser, aparece um Coração de Lobo que conhece a avozinha desde pequeno e a quem foi dada a missão de proteger Elsa quando esta estivesse por sua conta, e, um animal gigantesco de pêlo sedoso e focinho macio que adora todas e quaisquer gulodices, o Wurse. Um ser da Terra do Quase Acordar que veio ao mundo real para proteger todos os habitantes deste e do outro mundo, o Prédio da Avozinha. Era o único mundo que Elsa conhecia a sério, uma vez que na escola ela apenas passava a vida a fugir e a ser chamada ao gabinete do Director.
Tirando Elsa, O Coração de Lobo e o Wurse foram as personagens que mais gostei, não falando na avó, claro, esta tem lugar cativo ;)
Logo a seguir vem Ulrika, a mãe de Elsa que, aos pouquinhos, vai-se libertando do sofrimento por não ter tido uma mãe presente, mas que estava sempre presente na vida de outras crianças mais necessitadas. Foi preciso uma morte e uma carta de desculpas para a mãe de Elsa abrir os olhos e não cair no mesmo erro em relação à filha. Também gostei imenso de Alf, o taxista mal disposto que veio a tornar-se um dos melhores amigos de Elsa e do Wurse, e que, daria a vida por ela, se preciso fosse. 
Uma lição de vida e de coragem é o que nos traz este livro de Fredrik Backman. O mundo visto e vivido por uma criança de sete anos, fã incondicional de Harry Potter e da Wikipédia e que, de repente, vê-se sem a sua melhor amiga, vê-se sem o seu apoio e sem o seu porto de abrigo. 
Verdade seja dita, que uma avó faz falta, mas uma avó como a de Elsa faz toda a diferença.
Não vou continuar a escrever, caso contrário, conto tudo e depois é uma chatice e a ideia não é essa e sim espicaçar-vos a curiosidade e a vontade de ler este livro ma.ra.vi.lho.so!!

(Este exemplar de avanço foi gentilmente cedido pela Porto Editora em troca de uma opinião sincera)

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