20/03/2019

Opinião | O Homem de Giz | C.J. Tudor | Editorial Planeta

O livro de estreia de C. J. Tudor é um thriller com uma atmosfera densa e viciante que se passa em dois registos, em 1986 e nos nossos dias.
A história começa em 1986 e, após um hiato de trinta anos, o passado surge para transformar a vida de Eddie.
As influências de Stephen King e o toque de Irvin Welsh, conferem ao livro não só um tipo de narrativa diferente como um suspense ao limite.
O que contribui para que a história tenha um desfecho muito real e chocante.
O Homem de Giz conta-nos a história de um grupo de crianças, não poupando nos pormenores sociais onde estão inseridas e em como as influências de famílias disfuncionais contribuem para exacerbar o imaginário infantil.
A história começa quando aos doze anos Eddie e os amigos tiveram contacto com o misterioso Homem de Giz. Uma personagem central na trama e Eddie será assombrado por ela.
As estranhas figuras de giz conduzem Eddie e os amigos a um cadáver de uma rapariga pouco mais velha que eles e esta descoberta irá marcámos para sempre. Tudo aconteceu há trinta anos, e Eddie convenceu-se de que o passado tinha ficado para trás. Até ao dia em que recebeu uma carta que continha apenas duas coisas: um pedaço de giz e o desenho de uma figura em traços rígidos.
À medida que a história se vai repetindo, Eddie vai percebendo que o jogo nunca terminou.

 (Pode Conter Spoilers...)
Este "O Homem de Giz" é um thriller psicológico que prende o leitor desde a primeira à última página e que a muito custo temos de parar de ler e não "devorar" tudo de uma assentada. Uma grande estreia no mundo literário da autora, C. J. Tudor. Abordando temas tão actuais na altura como nos dias de hoje, como bullying, a religião levada ao extremo, violação, pedofilia, aborto, incapacidade mental, a autora consegue um livro extraordinário que nos prende do princípio ao fim e nos faz querer mais e mais.
Aspecto visual que tenho de referir: A capa! É absolutamente *deliciosa* e, a lombada? É tão, mas tão a ver com o livro que é extraordinário.  Adoro! Mesmo depois de acabar de ler, dou por mim, várias vezes, a olhar para o livro e pensar "Mas que capa tão fixe!!". 
Quando comecei este livro, tenho de admitir que ia com altas expectativas, até porque todas as pessoas que conheço e que tinham lido tinham sempre muito boas opiniões. Assim sendo, comecei-o sem pensar duas vezes assim que o recebi. Sinceramente, ao longo do livro fiquei sempre com a sensação de que havia sempre algo sobrenatural nas mortes que iam sendo relatadas e várias vezes acreditei que afinal de contas o culpado poderia nem ser humano. Mas bem, dizer que fiquei agradavelmente surpresa com este livro é ser poupada nas palavras. 
Gosto imenso de livros que alternam os tempos. Este alterna a acção entre o ano de 1986, data em que Eddie era ainda um miúdo de doze anos e ainda muito inocente e, adorável, e o ano de 2016, quando já é um homem feito, ainda que algo perturbado por tudo o que experienciou quando criança e ao longo da vida. Adoro o facto de conseguirmos vislumbrar situações que apenas quem viveu nos anos 80 consegue identificar. O tipo de bicicletas que na altura eram as que estavam na moda, o tipo de blusões que os miúdos achavam mais "fixes", algumas expressões que se usavam mais na altura e, até mesmo, as crianças andarem na rua às horas que queriam sem terem os pais preocupados sobre onde estariam. Era essa liberdade que permitia as crianças formarem grupos de amigos que se metiam em aventuras que só mais tarde revelavam. Para Eddie, esse grupo era constituído por Gav Gordo, Metal Mickey, Hoppo e Nicky, a única rapariga do grupo e, a meu ver, o centro dos pensamentos amorosos de Eddie, se é que assim se podiam chamar. Até ver, era um grupo de miúdos exactamente igual aos outros, embora fossem todos muito diferentes uns dos outros. A certeza era que faziam tudo uns pelos outros, em nome da amizade que tinham. Mas é quando encontram o primeiro corpo que tudo muda. E até aos dias actuais, Eddie nunca foi capaz de esquecer tudo o que viveu naqueles dias. (Este Eddie, foi, apesar de tudo, a personagem que mais gostei e que mais me cativou. Pelo seu jeito gentil e plácido de ser. Pela criança inteligente e amorosa que conseguia ser, apesar de tudo e pelo homem que se transformou ainda que com todo o trauma e pensamentos sombrios que povoavam a sua mente de dia e de noite.)
Ao longo do tempo o grupo separou-se, restando apenas Gav, Hoppo e Eddie. Nicky tinha-se ido embora, assim como Metal Mickey que já se havia afastado ainda quando crianças.
Toda a história revela-se-nos sombria e misteriosa, dando-nos a saber que todas as personagens, mas todas mesmo, tinham segredos escondidos e cada um pior que o outro. São esses segredos e a persistência de Eddie, após tantos anos, que vai acabar por nos revelar o que de facto aconteceu e qual o papel do Homem de Giz em tudo o que aconteceu. De todos os livros que tenho lido do género (que já vão sendo alguns), este foi um dos que mais me surpreendeu, tanto ao longo de toda a narrativa como, principalmente, no final. É que, de todos os finais esperados, o deste livro foi o que eu menos esperava ou desconfiava.
De uma forma simples e engenhosa, a autora consegue captar a nossa atenção e fazer-nos pensar e juntar todas as peças que iam surgindo. Não tivemos um momento de descanso na leitura deste livro. Em todas as vezes que pensava que tinha encontrado o culpado para todas as mortes, especialmente a morte da rapariga que eles encontraram quando miúdos, havia sempre outra pista que me levava noutra direcção. Acho que devo ter achado todos culpados durante a leitura. :p
Devo admitir que fiquei triste quando acabei de ler este "Homem de Giz" e que colocou C.J. Tudor na lista das minhas autoras destaque e a seguir com atenção!
Recomendo!!
(Este exemplar foi gentilmente cedido pela Planeta para leitura e opinião sincera)

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