07/12/2015

[Opinião] "Letras Escarlates" de Anne Bishop

Letras Escarlates não é só o melhor livro de fantasia urbana do ano, é provavelmente um dos melhores de sempre. 

Ninguém tem a capacidade de criar novos mundos como Anne Bishop, autora bestseller do The New York Times. Nesta nova série somos transportados para um mundo habitado pelos Outros, seres sobrenaturais que dominam a Terra e cujas presas predilectas são os humanos. 
Meg é uma profetisa de sangue. Sempre que a sua pele é cortada, ela tem uma visão do futuro – um dom que mais lhe parece uma maldição. O Controlador de Meg mantém-na aprisionada de forma a ter acesso total às suas visões. Quando finalmente ela consegue escapar, o único sítio seguro para se esconder é no Pátio de Lakeside – uma zona controlada pelos Outros.
O metamorfo Simon Wolfgard sente alguma relutância em contratar a estranha que lhe pede trabalho. Sente que ela esconde algo e, para além disso, ela não lhe cheira a uma presa humana. Algo no seu íntimo leva-o a contratá-la, mas ao descobrir quem a jovem realmente é e que o governo a procura, ele terá de tomar uma decisão. 
Será que proteger Meg é mais importante do que evitar o confronto que se avizinha entre humanos e Outros?
Primeiro livro que leio desta autora e devo dizer que fiquei muito surpreendida. Pela forma como a autora escreve, a forma como ela cria as personagens e as interliga umas com as outras.
Adorei o mundo dos Outros criado por ela e tenho de admitir que a personagem que mais gostei foi mesmo o Simon. Sim, o Simon. É um lobo, mas mesmo lobo. Daqueles que comem e não olham a meios. Seja um humano bom ou mau, se se meter no seu caminho ele obedece aos seus instintos e ataca.
Os Outros revelam-nos uma "comunidade" de seres vivos diferentes dos Seres Humanos, mas que, para o bem da Humanidade, interagem com os humanos, obedecendo a regras e limites. Se um humano é apanhado a roubar dentro dos limites dos Outros? Má ideia! No mínimo pode perder uma mão ou um braço, como também pode ser dado como "desaparecido", sendo os seus pertences devolvidos aos humanos. Fixe, não é? eu acho!
Basicamente, é uma sociedade onde Humanos e os Outros toleram-se de uma maneira ténue e frágil, pois a cada instante pode dar-se o descalabro e adeus socialização e tolerância. Raça mais fraca? Os humanos, claro! Pobres de nós se nos quisermos equiparar aos Outros. São poderosos, fortes, inteligentes e assustadores.
Meg é, a par com Simon, a personagem principal. Tem um dom, se é que assim se pode chamar, e fugiu do lugar onde todos se aproveitam de pessoas com o Dom que ela tem. Foge e refugia-se precisamente no território dos Outros e, beneficiando da amabilidade (às vezes difícil de ser notada) de Simon, arranja trabalho como Intermediária, que é como dizer que é a carteira de serviço. Recebe as encomendas dos humanos e distribui pelos habitantes sobrenaturais. É aí que ela conhece Sam, sobrinho de Simon, um lobinho traumatizado pela morte da mãe e que perdeu a capacidade de comunicar com a sua alcateia e de, inclusive, transformar-se, quer de lobo para homem, quer de homem para lobo. É Meg, com a sua atenção, carinho e afecto que o vão ajudar a ultrapassar os traumas e retirá-lo do mundo onde ele se refugiou. Vai ser fácil? Nada disso. No território dos Outros, nada é fácil e nada é garantido.
No entanto, achei extremamente doce como ela se tornou na Meg deles. Protegeram-na com unhas e dentes, como se ela fosse uma deles.

Estou ansiosa para ler o segundo volume e ver como será ou como vai evoluir a relação dela com Simon, com Sam e com todos os restantes Outros.

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