16/02/2016

Individual Editora | RoofToppers | Opinião | Katherine Rundell

Sophie é resgatada por Charles Maxim das águas do Canal da Mancha, após o barco em que viajava ter sofrido um naufrágio. Sozinha no mundo, a criança não terá mais de um ano e fica a viver em Londres sob a tutela provisória de Charles, que a ama e educa como uma filha de verdade. Sophie cresce na esperança de vir encontrar a mãe, perdida no naufrágio. Mas cresce também num misto de felicidade e angústia, pelo receio de um dia ser forçada a ir para um orfanato.
E é naquela esperança, que no amor funde a irracionalidade da crença com a audácia e a astúcia da vontade, que chegado esse dia, Charles e Sophie decidem que há só uma saída: fugir de Londres e ir para Paris, à “caça” da mãe.
É aqui que Sophie conhece os vagabundos dos telhados e os torna cúmplices leais da sua aventura. É uma história de amor e de afetos, de laços de amizade e cumplicidade, de medos, angústias, sacrifícios, de hesitações e coragem, de argúcia e destreza. Dá voz aos mais pequenos e aos ignorados e marginalizados da sociedade. Os atos mais simples são os mais generosos, e a bondade é uma virtude relembrada a cada som que a música, sempre a música de um violoncelo, vai ecoando ao longo das páginas, por cima dos telhados.
E é uma história sobre a mãe. E sobre a filha. E sobre um homem que, não sendo pai, foi o melhor pai de sempre.
“Talvez seja, pensou ela, o que amor faz. Não existe para te fazer sentir especial. Mas para te dar coragem. Era como uma ração para o deserto, como uma caixa de fósforos num bosque escuro. (…) Era o que a mãe sempre tinha sido para ela. Um lugar para repousar o coração. Um refúgio para recuperar o fôlego. Um conjunto de estrelas e mapas.” – K. Rundell, Os Vagabundos dos Telhados.

"Nunca ignorar uma possibilidade". É um bom conselho, não é? Porque a vida é recheada de possibilidades e muitas vezes perdemos oportunidades incríveis só porque é difícil ou muito complicado transformar uma possibilidade em facto real.
Este livro, esta história mostra-nos que todas as possibilidades têm de ser sempre analisadas e conquistadas, não interessa nem o "como" ou o "onde" ou até mesmo o "porquê" de se lutar por essas possibilidades. Quem nos dá uma grande lição é Sophie, a menina estranha e ao mesmo tempo tão doce que gostaríamos de poder ajudar e não conseguimos. É uma menina curiosa, inteligente e em tudo diferente das meninas do seu tempo. Não gosta de vestidos, não sabe porquê. Gosta de calças desbotadas de rapaz e adora trepar às árvores e andar em telhados. Acho que ter sido criada por Charles, não só permitiu a Sophie crescer de uma maneira livre em que a única preocupação dela era encontrar a mãe desaparecida, como permitiu que desenvolvesse gostos e aptidões completamente absurdas aos olhos de um comum mortal ou de um adulto. É uma adolescente curiosa, perspicaz e muito corajosa que assumiu a responsabilidade de transformar a sua possibilidade de encontrar a mãe em facto real. Não quer dizer com isso que tenha sido uma missão fácil. Para uma criança, o caminho que ela tomou e as aventuras em que se colocou (perigos incluídos) é enorme. Não teve qualquer hesitação no que fosse preciso fazer e mostrou-nos que com perseverança e diligência conseguimos tudo o que queremos na vida. Ter sorte é muito bom, mas temos de trabalhar pela sorte e é isso que os "crescidos" muitas vezes desistem de fazer.
Com tudo isto, adorei o livro e a maneira fresca e "infantil" com que a autora nos revela esta história de um amor tão grande que nem o tempo, nem a distância conseguiram desvanecer. 
Achei o final algo "rebuscado" e foi por essa razão que fiquei apenas nas quatro estrelas. Temos ao longo de todo o livro a caminhada e a luta de Sophie por encontrar a mãe e no final, ficamos perdidos sem saber o que terá acontecido aos meninos dos telhados que tanto a ajudaram, o que foi feito de Charles que tanto amor lhe deu e o que teria acontecido mesmo à mãe. Se há livros que precisam de umas poucas páginas a mais, este é um deles. No entanto, não deixa de ser um livro que ficará na minha memória durante muito tempo.

2 comentários:

  1. Primeiro que tudo, detesto esta capa. Na minha opinião (importante dizer isto antes) é feia que se farta e a minha atenção passa logo ao seguinte. De qualquer forma forcei-me a ler a tua opinião o que já me deu uma luz melhor para o interior. De qualquer forma a temática familiar não me cativa propriamente, mas não deixou de me criar alguma curiosidade para lhe pegar. Adorei a história de vida por detrás, o que me fez lembrar um filme com história semelhante que eu tanto gostei.

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    Respostas
    1. Olá :)

      De facto a capa n é das melhores, embora tenha o seu "charme"? lol Não faltam livros com capas horríveis e que as histórias são inesquecíveis, por isso, nunca me baseio muito pela capa e sim pelo conteúdo ;)
      Quanto à história, apesar de ser um pouco infantil, não deixa de nos provar que com força de vontade conseguimos sempre (ou quase sempre) alcançar os nossos objectivos e o objectivo de Sophie é tão, mas tão válido que n há maneira de lhe virarmos as costas :)

      Beijinhos

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