03/11/2022

Opinião | A Filha do Guardião do Fogo | Angeline Boulley | Desrotina Editora

Daunis Fontaine, uma jovem de dezoito anos, filha de pai indígena e mãe branca, sempre se sentiu deslocada, quer na sua cidade natal, quer na sua muito próxima reserva indígena Ojibwe. Ambiciona uma oportunidade para começar tudo de novo na Universidade do Michigan, porém os seus planos são interrompidos por contratempos familiares que a levam a ter de ficar e cuidar da sua frágil mãe.
O único lado positivo desta situação é conhecer Jamie, um novo jogador que chega para integrar a equipa de hóquei no gelo do seu irmão Levi. Sentindo-se cada vez mais atraída por Jamie, desconfia, ainda assim, de que ele esconde um segredo. E tudo muda quando Daunis testemunha um assassínio chocante, que a torna numa informadora para o FBI, numa investigação sobre a circulação de uma nova droga letal.
Aproveitando os seus conhecimentos de química e de medicina tradicional Ojibwe, Daunis vai descobrindo velhos segredos e expondo os verdadeiros interesses da investigação policial, ao mesmo tempo que, enquanto vê aumentar o número de mortes, aprende o que significa ser forte para uma mulher com a sua ascendência indígena.
Até onde terá de ir pela sua comunidade nativa? Terá de destruir o único mundo que julgava conhecer?

A Filha do Guardião do Fogo é um thriller electrizante com uma rica exploração da experiência nativa moderna, uma avaliação das injustiças atuais e históricas e uma poderosa celebração da comunidade.


    Este livro está dividido em duas partes. Na primeira parte, temos acesso à história de Daunis e das suas origens, tanto as indígenas como as ditas "normais". A relação com o seu meio irmão Levi (filho do mesmo pai, com mães diferentes) e com os restantes familiares indígenas será aqui, nesta parte, colocada à nossa mercê. Tradições, rituais, regras e conhecimentos ancestrais fazem as delícias de quem gosta de conhecer novas culturas. Devo dizer que adorei esta primeira parte do livro. Tem muita informação, é certo, mas conhecer novas palavras e os seus significados fez com que a leitura deste livro fosse diferente e aliciante. É sempre bom aprendermos e, se o fizermos enquanto lemos, é mesmo juntar o útil ao agradável.
    Ora, Daunis é uma jovem mestiça com uma força interior incrível. O pai, da família indígena Firekeeper (Guardiões do Fogo), separou-se da mãe e formou família com outra mulher, a mãe de Levi. No entanto, Daunis sempre fez questão de manter e aprofundar as suas raízes indigenas. Usa e abusa das tradições, dos rituais e dos significados de tudo o que a Natureza lhe oferece diariamente. É uma jovem com uma inteligência muito acima da média, mas que só quer ir para a universidade com a sua melhor amiga e poder jogar hóquei de quando em vez com o meio irmão, Levi e os amigos... É uma jogadora fantástica, mas por uma lesão, não pôde continuar a jogar com mais afinco e frequência, pelo que, sempre que pode aproveita a oportunidade para matar saudades da modalidade. 
    No entanto, as coisas não correm como ela planeia. Engane-se quem pensa que vai ler um livro de fantasia ou uma história romântica. Daunis apaixona-se sim, mas essa paixão vai trazer consigo muitas consequências. Se na primeira parte temos acesso ao que implica ser-se uma mestiça no meio de um ambiente indígena, temos também acesso às coisas menos boas e menos atraentes. O tratamento que as tribos têm fora do seu espaço, a dolorosa verdade sobre a história ancestral que cada elemento das tribos carregam consigo, a politica entre as várias tribos e as medicinas alternativas que nem sempre são as mais "normais" que se pode ouvir falar. Tudo tem o seu peso no dia a dia de Daunis e de todos os que a rodeiam. 
    Na segunda parte do livro, Daunis é obrigada a lidar com a verdade da morte do seu tio David, alguém que lhe era muito querido e, da mesma forma que perdeu o tio para as malhas da droga, neste caso, metanfetaminas, ou assim se pensava, vai enfrentar uma perda irreparável na sua vida. Será essa perda que fará com que Daunis se infiltre como espia da FBI para tentar descobrir como, quando e quem anda a espalhar metanfetaminas por todo o espaço indígena e fora dele.
    Uma segunda parte repleta de descobertas e de altos e baixos que vão fazer com que não parem quietos enquanto estão a ler. Pelo menos comigo foi assim. Daunis, mais uma vez digo, é uma personagem fenomenal. Uma mulher que representa não só o poder e força que as mulheres têm, mas o poder que elas têm nas comunidades ostracizadas pela maior parte da sociedade.

    Sabia que ia gostar deste livro, mas fiquei surpreendida pelo tanto que me fez vibrar e querer saber mais sobre essas tribos.
    A autora, também ela meio indígena, opta por nos fornecer termos indígenas que, caso contrário, nunca saberia que existiam e o que significavam. Teve o cuidado de colocar um mini dicionário para quando os leitores se sentirem perdidos nos termos. Achei uma escrita cativante e atraente, fazendo com que a leitura não fosse tão pesada e lenta como poderia ter sido.

    Recomendo vivamente e agradeço, mais uma vez, à minha filhota que me ofereceu o livro e que o escolheu quando lhe pedi que me desse uma opinião sobre qual livro ler.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. olá :)

      Sim, foi mesmo uma leitura interessante e prazerosa!! Aconselho!!


      Boas leituras e obrigada pela visita!

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