16/05/2018

Opinião | Sorrisos Quebrados | Sofia Silva | Editorial Presença

Paola
Perante Deus, o meu marido prometeu me amar.
Cuidar de mim. Ser meu amigo. 
Perante todos, disse que me amava. Que seríamos felizes. 
Viveríamos para sempre juntos. 
Mentiu em tudo. 
Até que um dia ele me disse que me mataria. E não mentiu.
A partir desse dia, vivi escondida no meu mundo, até André aparecer.
André
Eu não procurava nada. Não queria ninguém.
Não depois de tudo que vivera.
Meu coração estava escondido na escuridão, até Paola surgir com as suas cores, pintando minha vida.

Sorrisos Quebrados é um romance de cores entre duas pessoas quebradas por relacionamentos passados. Uma história de superação dos próprios medos e de promessas.

Já há muito tempo que estava ansiosa por ler este livro. Mal podia esperar que fosse publicado em Portugal para poder ter acesso ao melhor que esta história poderia oferecer.
Este livro começa de uma forma brutal, mas, não se poderia esperar menos do que violência e brutalidade, tendo este livro o tema que tem: Violência doméstica e abuso físico, mental e verbal.
Ainda nem ia na página 40 e já tinha o coração destroçado com o que estava a ler. As descrições que a autora nos dá são absolutamente destroçadoras e angustiantes, embora seja exactamente isso que temos de ter para termos noção de tudo o que se passou. 
Paola é uma jovem mulher marcada por quem, há seis anos atrás, ela pensava que era o seu príncipe encantado. Apesar de todas as suas cicatrizes, tanto físicas como psicológicas, ambas impossíveis de esconder e esquecer, Paola é o tipo de mulher que foi feita para brilhar na escuridão que é o seu passado e o seu presente. Desfeita por dentro e por fora, Paola decide sobreviver à morte infligida pelo seu marido. Aquele que lhe tinha prometido amar, fora quem mais a odiara. Aquele que lhe tinha prometido proteger, fora quem mais lhe tinha magoado. No entanto, anos mais tarde, Paola descobriu a sua luz e a forma de proteger a sua mente e o seu corpo de todas as agressões e mutilações que havia sofrido. É nas cores garridas e na pintura que Paola descarrega toda a sua dor e toda a sua escuridão, permitindo-se brilhar no escuro, mesmo quando por dentro sente-se assustada e sozinha e absolutamente destroçada.
Foi preciso um raio de Sol como a pequena filha de André, o bom gigante, para Paola ter coragem de sair da sua casca protectora e aventurar-se e novas emoções. Com a pequenina Sol, uma criança cheia de traumas dos quais nem se lembra mas que a tornam numa criança com necessidades extra, Paola permite-se amar novamente. Abriga Sol no seu coração e ambas têm a missão de curar-se uma à outra através do amor que as uniu ao primeiro olhar. André, o pai de Sol, acaba por ser arrastado pelo amor que existe entre Paola e Sol. Aos poucos, consegue ver e absorver a realidade de Paola. O que sofreu no passado, o que sofre e o que luta no presente para não ser apenas uma mulher marcada pela violência mas, que ainda assim, é tão meiga e tão amorosa para a sua preciosa filha e para ele, após o medo inicial que sentiu quando o viu. Também ele carrega um coração cheio de feridas, mas que ainda não cicatrizaram. Tem a filha sempre em primeiro lugar e tudo o que faz é por ela. Para tentar apagar o que ela sofreu no passado e para tentar apagar o que não conseguiu evitar não olha a meios e nem pensa em ser feliz. Apesar de saber que Paola é a mulher que o destino guardou para ele, continua a lutar contra o que sente e vai contra todas as evidências e todos os desígnios. Sempre deixou bem claro que o seu coração estava morto pelo amor que sentiu no passado e nunca fez qualquer promessa de felicidade eterna. Sempre foi honesto, sincero e dolorosamente verdadeiro.
Tirando Paola, Sol e André, gostei imenso de Rafaela, a psicóloga que ajudou Paola a ultrapassar muitos obstáculos desde que fundou a Clínica de reabilitação. É uma pessoa meiga e gentil que, parece-me também ter sofrido muitas agruras no passado, mas que se agarra à clínica que agora tem e aos seus pacientes com toda a força que ainda lhe resta e que, aos poucos, vai recuperando. É fechada e ninguém sabe dos problemas que tem e sequer se os tem... mas quem a conhece, fica com a percepção de que ela esconde muita coisa. Gostava de ter tido mais de Rafaela.

Mas, irremediavelmente, a personagem que mais gostei e que não me sai da mente é a pequena Sol. Como é possível alguém ter desistido dela? Como é possível que uma bebé tão doce e tão carente possa ter sido tão magoada por quem mais devia tê-la protegido? É aí que Paola e Sol são tão iguais. Ambas sofreram às mãos de quem mais as devia ter protegido e agora sofrem as consequências.

O tema deste livro tem sido tão abordado e tão escrutinado actualmente que é praticamente impossível não darmos uma cara "verdadeira" a Paola, a Sol e a André. Há tantas pessoas como eles fora dos livros. Muitos deles não têm uma segunda oportunidade. Alguns têm a força de vontade para lutar e continuar a viver contra tudo e contra todos. 
Espero que cada um desses sobreviventes encontre o seu raio de Sol e consigam ser felizes como merecem.

Recomendo a 100% e aguardo mais livros de Sofia Silva.

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