07/07/2017

Opinião | A Química dos Nossos Corações | Krystal Sutherland

Henry Page não esperava apaixonar-se. Considera-se um romântico, mas nunca viveu aquele momento em que o tempo para, a barriga se enche de borboletas e a música começa a tocar, sabe-se lá onde. Pelo menos, até ao momento. Então, conhece Grace Town, a esquiva nova colega de escola, que se veste com roupa de rapaz demasiado grande, apoia-se numa bengala, parece tomar banho poucas vezes e esconde segredos desconcertantes.

Não é bem a rapariga de sonho que Henry esperava, mas quando os dois são escolhidos para coordenar o jornal da escola, a química acontece. Depois de tantos anos a salvo do amor, Henry está prestes a descobrir como a vida pode seguir um caminho tortuoso e como, por vezes, os desvios são a parte mais interessante desse mesmo caminho. Uma estreia brilhante que equilibra humor e corações partidos, lembrando-nos de como o primeiro amor pode ser agridoce.

(Pode conter spoilers)
Antes de mais, quero deixar aqui a minha opinião à capa deste livro. É absolutamente linda! Simples, mas dinâmica e as cores vibrantes. Adoro a forma como as capas dão movimento às palavras que compõem o título. Uma das melhores e mais bonitas capas que tenho visto nos últimos tempos.
Em relação à história, tenho de dizer que ao longo da leitura fiquei sempre com sensações diversas e controversas. Se por um lado estava a adorar o facto de Henry se ter apaixonado verdadeiramente pela primeira vez, por outro lado estava a deixar-me zangada o facto de ele ter escolhido, possivelmente, a pessoa mais errada de sempre a quem dirigir o seu afecto. Há sempre um amor que por mais sincero e verdadeiro que seja, pode não ter sucesso a longo prazo. Por muito que Grace tivesse sofrido no passado, nada justificava o facto de ela o tratar como tratava. Num dia estava quase normal e deixava-o antever que podiam ser felizes os dois juntos e que ele a podia ajudar a ultrapassar o que quer que lhe tivesse acontecido, nos outros dias dava-lhe o tratamento de "gelo", recuando para uma Grace fechada e magoada que se distanciava de tudo e de todos, principalmente dele que sempre a apoiou e nunca a pressionou. Uma Grace que lhe mostrava e dava provas de que ele nunca poderia substituir o que ela tinha perdido.
Henry é o tipo de rapaz que todas as raparigas gostariam que as amasse. Era trabalhador na escola, cumpridor dos seus deveres, era muito inteligente, simpático e decente. Expressava-se melhor através da escrita do que por viva voz. Mesmo sem estar apaixonado completamente, era incapaz de magoar uma rapariga. Grace, por sua vez, era estranha. Ninguém sabia de onde ela tinha vindo, como ela era antes de ali chegar e porque razão não falava com ninguém e carregava sempre um ar de maltrapilha, vestida com roupas de rapaz e o cabelo completamente descuidado e com aspecto sujo. A bengala que a ajudava a caminhar também não ajudava na imagem. A mim admirou-me o facto de ele ter chegado a um ponto em que direccionou toda a sua vida e afecto para aquela pessoa. Provavelmente, até terá sido esse ar diferente e estranho que o atraiu tanto para ela, fazendo com que ele quisesse ajudá-la de alguma forma a ser a pessoa que era antes de ter ali chegado. 
Com alguma pesquisa, Henry e os seus melhores amigos, Lola e Murray, conseguem chegar ao motivo pelo qual Grace era aquela pessoa taciturna, sombria e complicada. Atenção que Grace também era muito inteligente e intensa. Tinha uma ideia muito passageira e leve da Vida, muito também por causa do que lhe havia acontecido uns meses antes. Algo de que gostei nela foi do facto de, apesar de tantos avanços e recuos, ela no final tenha tomado uma decisão que visava o bem estar e felicidade de Henry e não o próprio. Ao fim e ao cabo ela não era alguém egoísta e insensível. Apenas sentia demais tudo o que lhe acontecia e tudo o que se passava à volta dela.
Adorei conhecer os pais e a irmã de Henry. São realmente caricatos e a relação entre todos eles era mais uma relação de amizade do que outra coisa qualquer. Os pais não o sufocavam com regras e limites e ele fazia por não decepcionar os pais que tanto confiavam nele. Naquela família não havia mentiras nem segredos. Todos sabiam o que o outro era ou tinha sido. Momentos hilariantes entre ele e os pais e entre ele e a irmã (que toda a gente temia desde o tempo em que ela não era uma cirurgiã brilhante e andava no secundário).
Gostei imenso de que a autora tenha optado por ser Henry o narrador de tudo o que lhe aconteceu. É algo que ainda não se vê muito em livros deste género. 
Este livro para além de nos dar a conhecer a relação entre dois jovens, no auge da sua Vida, mostra-nos que, por vezes, há dores e perdas que não podem, nem devem, ser esquecidas ou substituídas. Há sempre alguém que fica preso na sua própria dor e que, por mais que tente, não se consegue livrar daquele sentimento de luto, de perda e de ausência. São pessoas que têm de ser compreendida e que têm de ter espaço para, pelo menos, viverem mais um dia. E acreditem que deve haver muitas pessoas assim na vida real e não apenas nos livros.

Recomendo!

"Além disso, como é que ela pode ser a tua alma gémea? Não me disseste que ela nunca tinha lido o Harry Potter? Queres mesmo passar o resto da tua vida com uma pessoa dessas? Quer dizer, pensa nos teus filhos, por amor de Deus. Em que tipo de ambiente é que eles iriam crescer com uma mãe assim?"
(Este exemplar foi gentilmente cedido pela Porto Editora em troca de uma opinião sincera)

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