Ainda bebé, Formiga foi deixado num cesto nos degraus da casa da Herdade do Lago.
O mistério da sua chegada é apenas mais um na longa história da herdade e das várias gerações dos Vaz, que a assombra de lendas e maldições: uma fonte inesgotável de mistérios fascinantes para a imaginação do rapazinho cabeça de vento.
Deslumbrado pela vida da família que venera de forma atrapalhada, Formiga corre e trepa a árvores, encolhe-se, faz-se invisível, inventa um pouco de tudo para conseguir acompanhar conversas, descobrir mais um segredo.
Mas o último segredo que ele descobre revela-se demasiado grande para a curiosidade bem-intencionada de uma criança, e um erro seu acaba por destruir o único mundo que conhece e pôr fim à sua infância.
Mais de vinte anos depois, Formiga regressa à Herdade do Lago e escreve para um leitor invisível, relembrando tudo o que foi e que não deveria ter sido.
Uma história doce contada pela voz de um adulto que fala pela criança que foi um dia.
(Pode Conter Spoilers... ou não)
Surpresa! É esta a palavra que melhor define o que senti quando acabei a leitura deste livro. Se no início do livro as coisas estavam muito mornas e algo paradas, no decorrer da narrativa fui agradavelmente surpreendida tanto pelo enredo que ligava tudo, como pelas personagens tão diferentes umas das outras e, no entanto, tão dependentes entre si.
Formiga é um miúdo aventureiro que foi acolhido no seio de uma família tipicamente portuguesa e nortenha. A Herdade do Lago é a casa que lhe serve de tecto nos seus anos mais infantis e na qual ele tanto foi imensamente feliz, como imensamente triste e testemunha de muitas coisas boas e más.
É a Herdade do Lago que encerra muitas maldições e muitas lendas, todas elas terríveis e dramáticas.
Formiga cresce entre saltos, coscuvilhices e muitas aventuras, mas ao longo dos seus poucos anos vai dar-se conta de que as coisas não são bem o que parecem e o que transmite uma união familiar vai revelar que por trás de uma família unida há sempre qualquer coisa escondida.
Clara e Fernando são os dois irmãos mais chegados que podemos conhecer e ambos adoram Formiga. Apesar da história contar a infância de Formiga, narrada pelo próprio já crescido, a meu ver este livro é sobre tudo o que envolvia Clara e Fernando, como tudo o que acontecia tinha sempre a função de ir ao encontro deles. Ana era a irmã mais velha e com os seus dezoito anos era a mais calada e a mais soturna. Formiga não sabia bem se gostava dela ou se apenas lhe tinha respeito, pela forma como ela era e lidava com todos. Também Ana mostrará que não é apenas aquela personagem secundária que serve de complemento à história. Será também aquela que saberá lidar com toda a tragédia que ira acontecer e que encerrará a inocência de Formiga, como ele a conhece.
Dizia a lenda que os dois irmãos estavam destinados a não envelhecer juntos e com a partida de Fernando para o Porto, Clara começa, aos poucos, a perder a vivacidade e a alegria que antes partilhava com todos. Continua a ser a menina doce e simpática que sempre foi, mas algo mudou quando ficou sem Fernando. Ele por seu lado, ao partir para longe da família e da Herdade revelou ser mais forte do que parecia. Lidou com o facto de ter de viver sem a irmã e a ter a sua própria vida e responsabilidades, embora não tenha durado muito tempo.
Formiga, em poucos meses, conseguirá descobrir que há sentimentos e forças que nem os irmãos mais próximos podem afastar ou recusar.
Maria Isaac consegue criar uma história repleta de boas personagens que nos deixam saudades quando acabamos de ler e fá-lo de uma maneira simples e cativante. Adorei e é mais uma autora para seguir com atenção!