15/07/2016

Opinião | Os Últimos Sete Meses de Anne Frank | Willy Lindwer

O extraordinário diário de Anne Frank tem vindo a comover milhares de leitores em todo o mundo, sendo um testemunho pungente e humano da perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, sabe-se muito pouco da vida desta jovem após a sua captura, a 4 de Agosto de 1944, e posterior envio para os campos de concentração. Como suportou ela a brutalidade do regime nazi? As respostas são-nos dadas, neste livro, pelas mulheres cujas vidas se cruzaram com Anne Frank em Westerbork, Auschwitz e Bergen-Belsen.
Ao realizar o documentário Os Últimos Sete Meses de Anne Frank, Willy Lindwer ficou impressionado com as entrevistas que realizou a seis mulheres que viveram e partilharam com Anne Frank os dias de horror nos campos de concentração nazis. Lindwer decidiu publicá-las integralmente, dando origem ao livro Os Últimos Sete Meses de Anne Frank.
Cada uma das seis entrevistadas tem uma história extraordinária para contar - exemplos de um terror inimaginável, mas, simultaneamente, histórias de coragem e compaixão. Ao relatarem as suas memórias, as mulheres sujeitaram‑se a um enorme stress emocional e psicológico. A vida de Anne Frank terminou pouco antes do seu décimo sexto aniversário. Estas mulheres tiveram mais sorte. Sobreviveram.

Este livro é um relato brutal sobre o que aconteceu na altura mais temida da história mundial. Com o Diário de Anne Frank, não temos nem um terço do que realmente se passava fora do anexo onde, durante dois anos, a família Frank se escondeu de um destino terrível.
Seis relatos, de seis mulheres que tiveram, pouco ou muito, contacto nos últimos sete meses de Anne, os tais em que ela conheceu a realidade fora do anexo e dentro dos campos de concentração. 
É sabido que Anne e a irmã Margot sucumbiram à morte poucos dias antes de acabar a guerra. Tendo em conta os testemunhos destas seis mulheres, Anne e Margot sempre se mantiveram unidas, tanto é que após a morte de uma, a outra também morre. É de deixar os cabelos em pé ler e imaginar tudo o que estas mulheres, seis entre milhares delas, sofreram. Uma violência atroz a todos os níveis e um atentado à dignidade humana que ultrapassa qualquer limite.
Cada uma destas mulheres conta-nos aquilo que já tínhamos mais ou menos a noção. Campos de concentração cheios de famílias que foram arrancadas dos seus lares para sofrerem na pele e na alma o horror de perder os seus entes queridos, de passarem por vergonhas e humilhações que faria chorar até o coração mais empedernido. As histórias destas seis mulheres são um exemplo de como o Ser Humano pode e consegue ser cruel ao ponto de rebaixar os seus próximos à condição mais baixa que pode haver. Crianças inocentes gaseadas sem qualquer tipo de pena ou hesitação, mulheres doentes até sucumbirem à morte, homens irreconhecíveis que outrora foram pessoas felizes e bem parecidas, reduzidos praticamente a pó. Uma realidade que mudou a história da Humanidade. 
Embora cada uma destas mulheres tenha tido, de facto, contacto com Anne, é notório que nenhuma delas teve um relacionamento directo e profundo com ela. Num dia viam-na, no outro já não. Se num dia ela estava bem e forte, num momento seguinte estava já num estado de doença tão avançado que até alucinava, até acabar por desaparecer no meio de tantos corpos empilhados numa vala comum.
É difícil pensar nisso, não é? A cada relato que lia, o meu coração ia ficando cada vez mais pequenino e dei por mim a pensar muitas vezes "o que são, realmente, os meus problemas, face ao que estas pessoas passaram?", "Se fosse eu, teria conseguido sobreviver?". Sinceramente, acho que não teria conseguido passar por tudo o que estas e tantas outras mulheres passaram e, mesmo assim, levar uma vida normal. O trauma é de uma dimensão gigantesca e muito dificilmente eu conseguiria ultrapassar e "passar uma borracha no passado".
Recomendo vivamente a leitura destes seis testemunhos arrepiantes e dilacerantes.
(Este livro foi gentilmente cedido pela Vogais em troca de uma opinião sincera)

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